O assunto deste editorial é um elemento muito importante na construção de uma vida cristã. Nesta série de publicações que temos caminhado pelas últimas sete semanas, chegamos ao tema perdão.
Quando chamamos o tema perdão de um elemento muito importante, poderíamos aumentar a intensidade desta descrição para algo do tipo: essencial, fundamental ou ainda insubstituível.
O perdão é a chave que abre qualquer porta trancada pelas quebras de relacionamentos entre duas ou mais pessoas. Assim os clássicos exemplos de crise familiar, desonestidade em ambiente de trabalho, perturbação de vizinhos e picuinhas dentro da igreja são onde entendemos a dificuldade de se aplicar o perdão.
No entanto, devemos ter no coração que o perdão “nasceu” bem antes disso. Ele nasceu justamente com a chegada do pecado no mundo em Gênesis 3. Naquela separação entre Deus e o homem, um plano de reconciliação foi então criado. Romanos 5.10 cita nossa condição de inimigo e ainda destaca que veio de Deus a iniciativa de executar este plano:
“Se quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com ele
mediante a morte de seu Filho, quanto mais agora,
tendo sido reconciliados, seremos salvos por sua vida!”.
Deus, então, concede perdão ao casal e a toda sua descendência, estipulando assim o padrão do uso desta “chave reconciliadora”, ou seja, o poder de liberar perdão ao ofensor.
Outro elemento importante da vida cristã e que está sempre caminhando próximo ao perdão, é o arrependimento. Enfatizando novamente o aumento da intensidade da descrição para essencial, fundamental e insubstituível, o arrependimento dá o fechamento ao plano reconciliador de Deus. Mesmo sendo Deus que nos move ao arrependimento, uma resposta clara do nosso arrependimento se faz necessária. A salvação em Cristo Jesus não é uma graça a todos os homens, mas apenas àqueles que o próprio Deus move ao arrependimento.
“Se confessarmos os nossos pecados,
ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados
e nos purificar de toda injustiça.”
(1 João 1.9)
Se tomarmos posse deste “passo a passo” divino, o Evangelho começa então a operar por meio de nós, e agora somos capazes de fazermos as aplicações de arrependimento e perdão em todo e qualquer relacionamento. No texto de Miqueias 7.18, o profeta exalta a grandeza do Senhor, colocando-O como um Deus perdoador e bondoso: “Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniquidade e que te esqueces da rebelião do restante da tua herança? O Senhor não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na benignidade”.
Como um casamento destruído pela infidelidade conjugal pode voltar a ser um casamento que glorifique a Deus? Como o ódio entre irmãos de sangue que dura por gerações pode dar lugar à paz e harmonia? Como um cruel assassino pode voltar a socializar com uma comunidade? Como uma igreja poderia voltar a ter unidade mesmo depois de uma fatídica divisão entre pastores ou membros?
O perdão que agora somos capazes de conceder é um reflexo do perdão que recebemos de Deus, uma poderosa chave que destrava portas com casos que o mundo caído jamais aceitaria perdoar. Traidores, assassinos e cristãos que promovem discórdia são alvos do ódio e justiça daqueles que ainda não receberam o perdão do Senhor. O mundo pratica um tipo de perdão que não é completo e nem eficaz, um perdão sem o poder restaurador, geralmente executado com atitudes convenientes e usando termos do tipo: “colocar uma pedra em cima deste assunto” ou “águas passadas não movem moinhos”, mas a fragilidade destas atitudes aparece sempre quando vem à memória a situação ou o ofensor. É como se toda situação passada e os sentimentos da época se repetissem com a mesma intensidade. Isso acontece porque o mundo não pode dispensar perdão porque ainda não foram perdoados.
Um entendimento do Evangelho deve nos fazer responder de forma diferente do que o mundo responderia. O cristão pratica o perdão de forma plena, simplesmente porque este poder foi concedido através da salvação em Cristo, ou seja, não pela sua força humana, mas pela graça manifestada em sua vida. Já o mundo usaria de todo seu “senso de justiça” totalmente deturpado para acusar, condenar e executar pessoas, aplicando punições que por vezes são até mais rígidas do que a própria lei local.
“Antes, sede uns para com os outros benignos, misericordiosos,
perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.”
(Efésios 4.32)
Por isso para você meu irmão e minha irmã, se o perdão não é algo que faz parte da sua vida, reveja sua caminhada cristã até aqui. Pode ser que você esteja indo enganado para a direção errada.
Se o perdão até é concedido depois de “muita luta”, volte seu pensamento para Deus e recorde o preço que Cristo pagou na cruz por nós para termos o perdão dos nossos pecados.
Perdoar nossos ofensores não é fácil e nem natural, mas uma vida cristã que agrada a Deus tem que estar de posse desta poderosa chave do perdão em mãos, pronta para ser usada seja qual for a porta que estiver trancada, para que relacionamentos sejam restaurados, e a glória do Senhor seja evidenciada.
Para pensar:
Você recorda de alguma experiência marcante em que precisou perdoar ou ser perdoado? Você teve mais facilidade em perdoar ou em pedir perdão?
Existe hoje alguma situação ainda “em aberto” nos seus relacionamentos que você entende que precisa dar passos práticos para resolver? O que te impede de fazer?
Editorial de Márcio Giffoni
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