Amar uma pessoa difícil é difícil. Mas encontrar uma pessoa difícil é fácil. Todos nós, em algum momento, seremos testados nesse ponto: amar uma pessoa difícil "de engolir". Mas quem é essa pessoa? Uma pessoa difícil de se amar é alguém desagradável de acordo com a sua avaliação, resultando numa convivência atribulada. Essa simples definição inclui desde preferências pessoais até a situações extremas de perseguição ou brigas. A dificuldade aumenta com a culpa que experimentamos diante do padrão de Deus para amar o próximo como a nós mesmos (Mateus 22.39) e de orar pelos que nos perseguem (Mateus 5.44).
Para entender como podemos (e devemos) amar pessoas difíceis, precisamos dAquele que não só define amor como também Aquele que amou muitas pessoas difíceis: Jesus Cristo. Seu exemplo modela para nós o amor sacrificial. Seu poder transforma pessoas difíceis em alvos do nosso amor. Seu sacrifício é a base do amor perseverante necessário para a tarefa. Com isso em mente, reflita:
1) Você precisa rever suas expectativas sobre relacionamentos
Grande parte de nosso sofrimento na tentativa de amar pessoas difíceis está ligada às expectativas erradas sobre relacionamentos. Nosso coração deseja conforto e tranquilidade. Esse desejo também está presente na dinâmica dos relacionamentos. Então, queremos relacionamentos sem desconfortos nem esforços. Mas essa não é a realidade. Relacionar-se com pessoas irá custar tempo, recursos e, muitas vezes, nossa tranquilidade. É difícil, mas não é ruim. Associamos dificuldade como algo ruim, sem reconhecermos que essa associação é incompatível com a expectativa bíblica sobre relacionamentos. Seguir a Jesus sempre envolveu um custo. Seguir a Jesus em nossos relacionamentos irá custar suas expectativas sobre relacionamentos e elas precisam ser ajustadas.
Então, se você espera que seus relacionamentos sejam sempre tranquilos e confortáveis, você precisa rever suas expectativas. Tranquilidade e conforto não serão marcas constantes de relacionamentos reais num mundo caído. Não estou querendo ser pessimista, mas realista. A verdade sobre a natureza humana informa que nossos relacionamentos serão marcados por conflitos de expectativas e preferências. Por isso, você irá encontrar pessoas difíceis em seus relacionamentos e, vamos ser francos, você será a pessoa difícil em determinadas circunstâncias também.
2) Você precisa reconhecer que relacionamentos não pertencem ao seu reino, mas ao Reino de Deus
Relacionamentos não são edificados sobre suas expectativas, mas nos propósitos de Deus. Por isso, eles não têm a ver com a construção do seu reino pessoal, mas com a edificação do Reino de Deus. Se é de Deus, tem que ser para Ele, por Ele e por meio dEle (Romanos 11.36). Ou seja, relacionamentos são avaliados por Ele também!
Usamos relacionamentos para a construção de nosso reino pessoal quando procuramos a manutenção de nossos objetivos egoístas: tranquilidade e conforto. Sendo assim, os parâmetros de avaliação ficam distorcidos, sem considerar a edificação do Reino de Deus. Evitamos pessoas, destratamos outras. Tudo porque elas se tornaram ameaças à paz de nosso pequeno reino. Lembre-se, pessoas difíceis são desagradáveis de acordo com algum tipo de avaliação. Se o parâmetro é nosso conforto ou tranquilidade, sem a referência de Cristo, as pessoas difíceis estarão em todo lugar, pois pessoas invadem constantemente "nosso espaço".
Porém, elas convivem dentro do "espaço de Deus" e são peças importantes para a edificação do Reino de Deus. Não do nosso pequeno e medíocre reino. Sendo assim, relacionamentos servem um propósito maior que nossas expectativas curtas de garantir tranquilidade e conforto. Relacionamentos são ferramentas úteis de Deus para transformar o caráter de pessoas à semelhança de Jesus para a glória de Deus - e isso inclui a sua transformação (Romanos 8.28, 29).
3) Você precisa confessar que Cristo lhe amou primeiro
Mas ainda assim, é difícil! De onde vem a habilidade, capacidade, disposição e poder para amar uma pessoa difícil? O Evangelho nos informa que Cristo nos amou. Sim, Jesus Cristo me amou, lhe amou, nos amou. Ele nos amou quando ainda éramos pessoas muito difíceis. Jesus Cristo nos amou ao ponto de morrer por pecadores muito desagradáveis (Romanos 5.8). Seu amor foi visto na cruz e ouvido quando orou debaixo de intenso sofrimento: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lucas 23.34). Ele foi o sacrifício perfeito e o modelo de cristianismo. Se quisermos aprender a amar, temos que conhecer o Amor e seguir o Amor. Deus é amor.
Amar pessoas difíceis é uma questão de fé em resposta ao amor de Cristo. "Nós amamos porque ele nos amou primeiro" (1 João 4.19). Não tem como aprender a amar pessoas difíceis sem antes reconhecer que você é a pessoa "difícil" pela qual Cristo morreu e responder com fé ao Evangelho. Aí sim, amar uma pessoa difícil não se torna apenas possível, mas imprescindível.
Amamos pessoas difíceis para modelar ao mundo o Evangelho que recebemos e cremos. Por isso, ajuste suas expectativas: relacionamentos serão difíceis. Abra seus olhos para a realidade: relacionamentos estão à serviço do Reino de Deus. Creia no Evangelho: amamos porque Ele nos amou primeiro.
É possível e é necessário amar pessoas.
Editorial do Pr.Alexandre "Sacha" Mendes
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