Quando penso em amizade e em suas definições, fico com a sensação de que estou falando sobre uma pessoa, e não sobre um tema, quase como se tivesse vida própria. As amizades têm data de nascimento, lembramos o dia, as circunstâncias, as testemunhas que presenciaram e os agentes responsáveis pela apresentação formal dos amigos. Há multiplicação de amizade com a chegada de novos integrantes no círculo de convivência. Há também rupturas e reconciliações causadas por diversos acontecimentos. E assim como existe a data de nascimento, uma amizade que não é cultivada com hábitos saudáveis sofre o risco de ter sua data de falecimento.
Todos passamos por relacionamentos assim, e é muito provável que você tenha identificado pessoas que experimentaram cada uma dessas situações com você. Cada história começa de um jeito, e se desenvolve de diferentes formas.
Não é impressionante como as pessoas marcam nossas vidas? “As amizades fazem parte da nossa vida” é uma afirmação incontestável, por isso completar essa frase com: “e amigos não são agentes passivos, eles te levam para cima ou te puxam para baixo” traz a seriedade devida ao tema.
Recentemente, um jovem músico de funk brasileiro com a carreira em alta, morreu em um provável surto pelo consumo de drogas ao cair da sacada de um prédio no Rio de Janeiro. A despeito das circunstâncias, perícias e investigações, o que chamou a atenção foi uma cena em seu velório, em que sua viúva repetia entre gritos e prantos uma frase para o finado cantor: "Está vendo esses seus amigos aqui? Eles são os responsáveis pela sua morte!” Aparentemente sem nenhum conhecimento bíblico, essa viúva acabou acertando em cheio os princípios de 1 Coríntios 15.33: “Não se deixem enganar, as más companhias corrompem os bons costumes”.
De fato, a Bíblia é muito rica na abordagem do tema amizade. Nosso Deus, na Sua infinita sabedoria, deixou-nos princípios claros, pois sabia que mais cedo ou mais tarde precisaríamos saber distinguir corretamente quem seriam nossos amigos e quem seriam nossos inimigos.
Por um lado, como não lembrar de Jônatas e Davi (1 Samuel 18), Rute e Noemi (Rute 1.16), Daniel, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego (Daniel 2.49), além do próprio Cristo e Lázaro (João 11.5), entre tantos outros exemplos de amizades nas Escrituras?
Por outro lado, temos o terrível exemplo de Roboão, narrado em 2 Crônicas 10. Ele nos mostra como as amizades podem nos puxar para baixo, e se revelar como instrumento de satanás para fazer justamente o que o inimigo sabe fazer de melhor: matar, roubar e destruir. O texto narra um pedido do povo de Israel para o novo rei que assumira o trono, Roboão. O pedido era para que tivesse compaixão dos trabalhadores, e que reduzisse a alta carga de trabalho e impostos que eram exigidos desde o reinado anterior de seu pai. Em troca disso, o povo ofereceria sua eterna lealdade. O resto da história nós sabemos, e Israel sofreu por muitos anos por causa da falta de sabedoria de Roboão em ouvir as pessoas certas. Aqueles jovens não foram amigos verdadeiros. Eles se preocuparam em falar aquilo que agradaria aos ouvidos de Roboão.
O que a Bíblia nos mostra, então, sobre ser um bom amigo? O que um bom amigo busca alcançar?
1. O amigo é alguém extremamente próximo: "Quem tem muitos amigos pode cair em desgraça; mas há amigo mais chegado que um irmão" (Provérbios 18.24).
2. O amigo é alguém constante: "O amigo ama em todo tempo, e na angústia nasce o irmão" (Provérbios 17.17).
3. O amigo é alguém sincero e que não tem medo de confrontar: "Melhor é a repreensão franca do que o amor encoberto. Leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos de quem odeia são enganosos" (Provérbios 27.5, 6).
4. O amigo é alguém que dá conselhos bíblicos: "Como o ferro com o ferro se afia, assim, o homem, ao seu amigo" (Provérbios 27.17).
5. O amigo é alguém que perdoa: "Quem encobre a transgressão fortalece a amizade, mas o que insiste no assunto separa os maiores amigos" (Provérbios 17.9 - ênfase do autor).
6. O amigo é alguém que se sacrifica por você e que faz tudo para te levar para perto de Cristo: "Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; portanto, também nós devemos dar a nossa vida pelos irmãos" (1 João 3.16).
Obviamente, essas características são resumidas. Porém elas nos dão um bom ponto de partida, primeiro para entendermos onde estamos, e depois para avaliarmos os amigos que temos buscado.
Todos precisamos de amigos verdadeiros. Mas será que sabemos o que é um amigo verdadeiro? Ou mais importante: será que temos sido esse amigo verdadeiro?
Para reflexão
Que tipo de amigo você tem sido? E que tipo de amigo você busca manter perto de você?
Como você pode crescer em cada uma dessas características que a Bíblia nos mostra sobre ser um bom amigo?
Lembre-se que a amizade tem que ser primeiro construída e depois cultivada. Algumas atitudes práticas vão te conduzir a ter uma amizade que contribua para o reino de Deus:
1) Seja observador. Amigos em apuros, conscientes ou não, nem sempre pedirão sua ajuda, alguns contarão com sua percepção diante dos sinais dados involuntariamente. Por isso esteja atento ao comportamento dos seus amigos.
2) Seja direto. Diante das lutas espirituais de seu amigo compartilhe trechos bíblicos, encaminhe sermões, indique livros que abordem o assunto específico que o faz tropeçar, inclusive incentive seu amigo a procurar os próprios pais ou pastores para terem conversas sobre as suas lutas.
3) Seja intencional. Promova circunstâncias que possibilitarão crescimento espiritual como encontros com pessoas ou grupos que de alguma forma agregarão experiências que você considere importante.
4) Seja presente. Invista tempo, amizades crescem no contexto de histórias vividas numa rotina em comum. Muitas vezes abrir mão da sua zona de conforto será necessário. Ir até seu amigo onde quer que ele esteja vai mostrar o quanto você o valoriza.
5) Seja intercessor. Ore pelo seu amigo, compartilhe seus pedidos para que juntos os dois intercedam diante de Deus, isso vai estreitar a confiança entre ambos.
Por fim, qual a importância que boas amizades tiveram ao longo da sua caminhada cristã?
Editorial de Márcio Giffoni
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