“Suportem as dificuldades, recebendo-as como disciplina;
Deus os trata como filhos. Ora, qual o filho que não é disciplinado por seu pai?”
(Hebreus 12.7)
Todo pai, prudente e ajuizado, que ama verdadeiramente seu filho, sabe que não pode e nem deve negligenciar e, muito menos, terceirizar a autoridade que exerce sobre ele. E uma das formas mais básicas de exercitar essa autoridade é a aplicação consciente, adequada e oportuna da disciplina, que representa algo tão fundamental para o bem estar do filho, como o próprio alimento que lhe é fornecido. Infelizmente, essa é uma constatação fora de moda, que vem sendo superada, progressivamente, pelas regras apócrifas da super proteção e da permissividade excessiva.
Salvo algumas boas excessões, muitos pais “moderninhos”, em nome do dever cumprido pela provisão material que proporcionam, levantam o tapete da falta de tempo, do cansaço, do clamor pelo direito ao descanso e ao conforto, para esconderem ali toda sujeira deixada pela omissão do dever de educar e não se dão conta de que o embrião gerado no ventre dessa irresponsável ausência, poderá se desenvolver como uma aberração familiar e se tornar uma potencial ameaça para uma sociedade que também já se mostra apática a regras, órfâ de ética e carente de princípios.
Arthur W. Pink, um dos autores evangélicos mais influentes da segunda metade do século XX, certa vez escreveu que: “Uma das mais infelizes e trágicas características de nossa civilização é a excessiva desobediência aos pais da parte dos filhos, quando menores, e a falta de reverência e respeito, quando grandes. Infelizmente, isto se evidencia de muitas maneiras inclusive em famílias cristãs... Na maioria dos casos, os filhos são menos culpados que seus pais. A falta de honra aos pais, onde quer que a achemos, deve-se em grande medida aos pais afastarem-se do padrão das Escrituras. Atualmente, o pai imagina que cumpre suas obrigações ao fornecer alimento e vestuário para os filhos e, ocasionalmente, ao agir como um tipo de policial de moralidade. Com muita frequência, a mãe se contenta em desempenhar a função de uma criada doméstica, tornando-se escrava dos filhos, realizando várias tarefas que estes poderiam fazer, para deixá-los livres em atividades frívolas, ao invés de treiná-los a serem pessoas úteis. A consequência tem sido que o lar, o qual deveria ser, por causa de sua ordem, santidade e amor, uma miniatura do céu, degenerou-se em um ponto de parada para o dia e um estacionamento para a noite.”
Bendito e louvado seja o nosso Pai celestial que não nos trata assim. Se é que ainda existem pais dedicados que não ignoram o fato de que os filhos não podem aprender os valores da virtude sem uma correção pontual, muito menos Deus, que é o melhor e mais sábio dos pais, desprezaria um remédio tão eficaz. Durante toda nossa vida terrena, ainda que cresçamos em maturidade e santidade, não deixaremos de ser crianças perante os olhos de Deus e é essa a principal razão pela qual devemos suportar a vara em nossas costas.
Nosso Pai sabe que não é saudável para Seus filhos viverem isentos de disciplina, principalmente, porque, por várias vezes, serão tentados a se desviarem das Escrituras. Flertarão com o pecado e agirão com indisciplina, alguns até farão birra, outros se mostrarão insatisfeitos, desobedientes, autossuficientes e, vergonhosamente, ingratos.
Por isso, o preço pago com o precioso sangue de Jesus, trouxe aos seus resgatados não somente a convicção de salvação e a realidade de uma nova vida, mas também a certeza de que, em menor ou maior grau, os sofrimentos virão, quer seja por disciplina, quer por provação. Muitos, porém, semelhantes a crianças apavoradas que fogem da vara, naufragarão na fé. Evitarão a disciplina e darão as costas para a vida sofredora, piedosa e santa que a cruz leciona, para ficarem de frente com as lições de medo e inquietação que os sentimentos aflitivos da natureza carnal ministram.
O resultado? Rejeitarão a graça de Deus e perderão a oportunidade de experimentar, dentro da própria amargura, o doce sabor do fruto pacífico da justiça divina, que contém as sementes sagradas do amor de Cristo e o aroma suave dos perfumes da paz de Deus, da plenitude do Espírito Santo e da esperança de vida eterna.
Mas, os que têm o santo temor ao Pai e vivem na Sua completa dependência, conseguem ver Cristo dentro do próprio sofrimento e, por isso, compreendem que a correção divina representa uma oportunidade sagrada de domesticar e mortificar a carne, a fim de serem renovados para a vida celestial. Inundados, então, pelo vigor da alegria espiritual, fortalecem as mãos frouxas e firmam os joelhos vacilantes, para, receberem, com paciência e gratidão, o benefício e a utilidade daquilo que, no momento, lhes parecia amargo e cruel.
Semelhantes ao ouro e a prata que são purificados pelo fogo, nosso Pai celestial também nos coloca no cadinho da Sua disciplina para nos santificar com o calor abrasador do Seu amor. Suportemos, pois, com resignação cristã, os sofrimentos do tempo presente, louvando e glorificando a Deus nosso Senhor, que nos encontrou abandonados neste mundo caído e nos adotou como filhos, cuidou de nós e nos deu a maravilhosa esperança de, um dia, habitarmos juntos, como verdadeiros cidadãos do céu, o lar eterno na presença sagrada de Cristo Jesus.
Amém! Aleluia!
Editorial de Walter Feliciano
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