“Todos vão para o mesmo lugar; todos procedem do pó e ao pó tornarão.”
(Eclesiastes 3.20)
A realidade de que somos pó é algo que, por vezes, trabalhamos para esquecer. Às vezes fazemos isso para nos livrarmos daquilo que o autor de Hebreus chama de “pavor da morte” (Hebreus 2.15), algo que pode ser escravizador. Outras vezes tentamos ignorar isso para não sermos paralisados pelo pensamento tolo de que devemos apenas cruzar os braços, já que tudo é correr atrás do vento (Eclesiastes 4.5 e 6).
Entretanto, ao longo de nossas vidas, passamos por situações que tornam essa realidade impossível de ser ignorada. Dor, sofrimento, cansaço, desesperança e desânimo são alguns lembretes de que somos pó, como Jó, em meio ao seu enorme sofrer diz:
“Lembra-te de que me formaste como em barro; e queres, agora, reduzir-me a pó?”
(Jó 10.9)
Sermos pó é sermos limitados, é sermos finitos. Por mais que sejamos feitos à imagem e semelhança de Deus, nós não somos infinitos como Ele.
As limitações existem antes mesmo do pecado
Desde o início de tudo, Deus criou o homem limitado. Apesar de serem criados à imagem de Deus, Adão e Eva não eram, por exemplo, onipresentes, oniscientes e onipotentes como Ele. Eles possuíam limites, estavam confinados a um corpo mortal.
Muitas vezes associamos nossas limitações justamente aos nossos pecados, entendendo que foi o pecado que nos trouxe doenças, conflitos e toda a sorte de problemas. Entretanto, apesar de ser verdade que o pecado traz essas coisas, limitações já existem mesmo antes do pecado.
Ou seja, não entenda que uma limitação sua em particular tenha relação direta com algum pecado, pois isso pode não ser verdade. Como Jesus respondeu para os discípulos quando perguntaram quem havia pecado para que o cego de nascença assim o fosse, limitações podem ocorrer para que se manifestem as obras de Deus (João 9.2 e 3).
Deus usa as nossas limitações para Sua glória
Assim como no caso do cego de nascença, nossas limitações existem para evidenciar a glória de Deus. Somos frágeis como o barro para que fique claro para o mundo que o poder para fazer tudo o que realizamos vem de Deus e não de nós mesmos (2 Coríntios 4.7). É Ele quem faz a obra, inclusive em nós mesmos:
“Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória,
depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar,
firmar, fortificar e fundamentar.”
(1 Pedro 5.10)
Deus usa as fraquezas, as coisas humildes do mundo e as desprezadas (1 Coríntios 1.28), para mostrar que ninguém é digno de glória como Ele. As limitações são uma indicação clara e constante de que os pensamentos e caminhos de Deus são mais altos do que os nossos (Isaías 55.8 e 9).
Nossas limitações nos mostram quem Deus é e quem nós somos
Nossas limitações também deixam claro a diferença entre Deus e nós.
“Pois ele conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó.
Quanto ao homem, os seus dias são como a relva; como a flor do campo, assim ele floresce; pois, soprando nela o vento, desaparece; e não conhecerá, daí em diante, o seu lugar.
Mas a misericórdia do Senhor é de eternidade a eternidade,
sobre os que o temem, e a sua justiça, sobre os filhos dos filhos,
para com os que guardam a sua aliança e para com os que se lembram dos seus preceitos
e os cumprem. Nos céus, estabeleceu o Senhor o seu trono, e o seu reino domina sobre tudo.”
(Salmo 103.14–19)
Deus é eterno, soberano, completamente perfeito e sem pecado. Nesse sentido, Ele é o oposto daquilo que nós somos. Nossas limitações deixam isso extremamente claro para nós e para as pessoas à nossa volta. Somos um testemunho da grandeza de Deus, em contraste com aquilo que nós mesmos somos.
Curiosamente, ao mesmo tempo em que isso nos coloca em nosso lugar e quebra nosso orgulho, também nos dá esperança. Deus conhece a nossa própria estrutura como ninguém. Ele sabe que somos pó, e ainda assim demonstra graça e misericórdia:
“Ele ergue do pó o desvalido e do monturo, o necessitado,
para o assentar ao lado dos príncipes, sim, com os príncipes do seu povo.”
(Salmo 113.7 e 8)
Nossas limitações são uma bênção
“Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições,
nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte.”
(2 Coríntios 12.10)
Depois de ter pedido três vezes para que o espinho em sua carne fosse retirado (2 Coríntios 12.8), Paulo percebeu que o propósito de Deus era que ele permanecesse com esse sofrimento. Foi aí que ele realmente entendeu que essa limitação era uma bênção de Deus, que seria usada para que sobre ele repousasse o poder de Cristo (2 Coríntios 12.9).
Por mais que Deus seja quem perdoa nossas iniquidades, sara nossas enfermidades, farta-nos de bens e renova nossa mocidade (Salmo 103.3–5), por vezes Ele entende que a maior bênção que nos pode dar naquele momento é uma limitação. Ela não necessariamente é fruto de nosso pecado, mas é um lembrete de que não somos ilimitados como Deus, que é digno de toda a glória. A limitação é uma oportunidade de O glorificarmos nessa vida, como também faremos na eternidade!
Editorial de André Negrão Costa
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