Acredito que qualquer cristão com alguns anos de conversão já se fez essa pergunta, vendo pessoas chegando e indo embora depois de um tempo, se “desviando” da fé, ou ainda, em termos mais formais, “apostatando”.
Isso pode nos trazer dúvidas sobre a segurança da salvação, pois algumas dessas pessoas que se desviaram realmente pareciam ter verdadeiramente crido em Jesus e passado por um novo nascimento. Entretanto, esse tema é tratado de forma bastante clara em diversos versículos bíblicos e, para já começarmos com a mais direta resposta possível: não, um salvo em Cristo jamais pode perder a sua salvação!
A seguir vamos refletir melhor sobre como essa resposta pode ser embasada nas Escrituras, tornando-se uma fonte de grande segurança em nosso Senhor.
A eternidade da vida eterna
“E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna;
e esta vida está no seu Filho.”
(1 João 5.11)
Nosso primeiro ponto é que a vida que Deus nos dá através da fé em seu Filho é por definição eterna. Dessa forma, pensar que ela pode ser ganha e depois perdida é algo incoerente, pois a tornaria algo temporário. As alianças de Deus são eternas (Jeremias 32.40) e é Ele quem as mantém.
Outro ponto importante é que é o próprio Senhor quem nos dá essa vida eterna. Ou seja, não haveria sentido em outorgá-la e depois retirá-la de nós, pois Deus é quem realiza também todos os passos posteriores do plano salvífico:
“E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou,
a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.”
(Romanos 8.30)
Deus nos escolheu na eternidade passada, chamou-nos pelo agir do Espírito Santo, justificou-nos pela obra de Cristo e nos glorificou e glorificará na eternidade futura. A obra é completa e quem a realiza é o próprio Deus. Ele a começou e Ele a irá completar (Filipenses 1.6).
E as pessoas que se desviam?
Além de todos os versículos já mencionados, poderíamos citar muitos outros sobre a perseverança dos santos garantida pelo Salvador, tais como Deuteronômio 30.6; Jeremias 24.7; Ezequiel 11.19; Romanos 8.29 e 30; 1 Coríntios 1.8 e 9; Efésios 1.3–14; Filipenses 2.13; 1 Tessalonicenses 5.23 e 24 e 1 Pedro 1.5. Todos eles colaborando com a ideia de que é impossível para um crente verdadeiro perder sua salvação. Deixo-os como referências adicionais para podermos aprofundar um pouco na questão da apostasia.
A resposta direta para uma pessoa que por um tempo pareceu ser salva, mas que depois abandonou a fé é a de que ela nunca fora de fato salva, pois, se fosse, não teria abandonado sua fé:
“Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos;
porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco;
todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos.”
(1 João 2.19)
Contudo, para adicionar um pouco de complexidade à questão, vemos no livro de Hebreus que há uma possibilidade de que, tendo abandonado a fé, essas pessoas jamais possam retornar:
“É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados,
e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo,
e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo,
estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia.”
(Hebreus 6.4–6)
Pelo texto vemos que tais pessoas tiveram fortes experiências espirituais: foram iluminadas, provaram o dom celestial, tornaram-se participantes do Espírito Santo, provaram da palavra de Deus e dos poderes do mundo vindouro. A pergunta que fica, no entanto, é se elas de fato nasceram de novo. Pois, se isso tivesse acontecido, a passagem estaria dizendo que elas poderiam acabar por perder a sua salvação, já que não mais poderiam ser renovadas para arrependimento. Entretanto, os próximos versículos nos trazem luz sobre o que essa situação significa:
“Porque a terra que absorve a chuva que frequentemente cai sobre ela e produz erva útil para aqueles por quem é também cultivada recebe bênção da parte de Deus;
mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada e perto está da maldição;
e o seu fim é ser queimada. Quanto a vós outros, todavia, ó amados,
estamos persuadidos das coisas que são melhores e pertencentes à salvação,
ainda que falemos desta maneira.”
(Hebreus 6.7–9)
A chuva que cai representa as diversas bênçãos espirituais que as pessoas podem receber. Se a pessoa produz frutos (erva útil), ela de fato recebeu bênçãos e é salva. Se, por outro lado, ela produz “espinhos e abrolhos”, ela é rejeitada e, portanto, não é salva. Dessa forma, uma pessoa pode passar por todas as experiências espirituais descritas em Hebreus 6.4 e 5 e ainda assim “estar perto da maldição”, o que prova que o texto não se refere a pessoas salvas, mas a pessoas que foram expostas ao Espírito e que depois acabaram por rejeitá-lO. Assim como Esaú, essas pessoas, mesmo que queiram herdar a bênção da salvação, não conseguirão mais achar lugar de arrependimento:
“Pois sabeis também que, posteriormente, querendo herdar a bênção, foi rejeitado,
pois não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado.” (Hebreus 12.17)
Por fim, em Hebreus 6.9, o autor da epístola deixa claro que, por mais que estivesse dando um aviso um tanto quanto grave, ele sabia que esse não era o caso de seus destinatários, justamente por observar suas obras (Hebreus 6.10), que são coisas “pertencentes à salvação”. Isso corrobora com a ideia de que fomos salvos para dar frutos (João 15.16) e para boas obras (Efésios 2.10), as quais se não estiverem presentes, indicam que a fé é morta (Tiago 2.17) e, portanto, não somos salvos.
Como saber se sou eternamente salvo?
Agora que sabemos que alguém que é verdadeiramente crente não pode perder a salvação, vamos finalizar esse editorial com algumas verdades que testemunham de que somos eternamente salvos:
1. É salvo aquele que acredita que Jesus é o Filho de Deus (1 João 5.10–13): Esse é o ponto fundamental da salvação e nada além da fé em Cristo pode nos garanti-la.
2. É salvo aquele que vive uma vida justa (1 João 3.6–9): Ser salvo significa crescer em piedade, e não permanecer no pecado.
3. É salvo aquele que ama a seus irmãos (1 João 3.14): Deixar de amar aos irmãos é equivalente a odiá-los, e isso nos torna assassinos, que não podem herdar a vida eterna (1 João 3.15). O amor ao irmão é uma forma clara de demonstrarmos o amor de Deus para conosco em Sua obra de salvação (João 13.34).
4. É salvo aquele que não é negligente (indolente) (Hebreus 6.12): O que o texto quer dizer com indolente é ser uma pessoa inativa, que tem ouvidos, mas não ouve, que tem olhos, mas não vê (Jeremias 5.21).
5. É salvo aquele que é selado pelo Espírito Santo (Efésios 1.13): Essa é a maior garantia que temos, pois o próprio Espírito habita em nós e testifica sobre a nossa salvação eterna (Romanos 8.16)!
Editorial de André Negrão Costa
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