Celebrações de Ano Novo marcam uma época muito interessante do nosso calendário. Em nenhuma outra data uma autoavaliação é realizada tão intensamente em toda a população global como no dia 31 de dezembro, especialmente na nossa cultura ocidental. Isso costuma resultar no que chamamos “resoluções de Ano Novo”. Em suma, olhamos para o ano que passou, identificamos momentos de dificuldades e pontos a serem melhorados, juntamos com desejos que temos para o nosso futuro e pronto! Temos uma lista de 10 (ou mais) metas a serem atingidas durante o próximo ano para evitarmos os erros do passado e obtermos o que se espera para o futuro. O problema é que boa parte dessas listas desconsidera que Deus é o Criador e Rei do universo, e que pouco podemos fazer por nós mesmos. É por essa razão que muitas dessas listas acabam sendo esquecidas já no primeiro mês do ano. Mas meu objetivo aqui não é criticar resoluções em si; elas são importantes e podem ser muito benéficas para nossa vida espiritual. Mas gostaria de propor uma estrutura diferente do usual “eu quero, eu posso, eu consigo”. Essa estrutura é baseada num evento singular da Escritura: o momento da renovação da Aliança por Josué (Josué 24.1-15).
O livro narra a conquista da terra de Canaã pelo povo de Israel, sob o comando de Josué. No final do livro, Josué reúne o povo e realiza um discurso que é baseado em três pontos principais: os feitos do Senhor no passado, como isso teve efeitos no presente e, baseado nisso, quais as perspectivas e objetivos para o futuro. Fazendo um paralelo desse fim de ciclo do povo de Israel com o final do nosso “ciclo solar” (vulgo fim de ano), podemos usar essa mesma estrutura para planejar nossa lista de resoluções biblicamente inspirada. Assim como em Josué, olhando para o passado, entendemos a realidade do presente e nos preparamos para o futuro.
Olhando para o passado...
Josué inicia seu discurso com uma mensagem do Senhor relembrando a trajetória do povo de Israel até aquele momento (versículos 2-12). Essa não é a primeira vez que uma recapitulação desse tipo é feita na Bíblia, e essa não será a última na história do povo de Israel. A realidade é que todo ser humano, é facilmente suscetível ao esquecimento, e precisamos ser constantemente relembrados daquilo que é importante. No caso de Israel, o lembrete foi da grandiosa obra do Senhor em separar um povo a partir de um único homem, preservar e multiplicar esse povo, e finalmente cumprir sua promessa de libertação e de provisão da terra, o que implicava na derrota sobrenatural da maior nação da época – uma história digna de filme.
E no nosso caso? Ora, podemos começar com a maior obra que Deus fez em nós: a nossa salvação. Deus nos tirou do domínio das trevas, onde estávamos mortos em nossos pecados e condenados a uma eternidade sem Ele, e nos trouxe para Sua família. Hoje, Deus nos trata como filhos, nos dando Seu perdão eterno por meio do sacrifício de Jesus. Mas podemos ser ainda mais intencionais ao pensar no nosso fim de ciclo respondendo à pergunta: o que Deus fez em nossas vidas neste ano? Quais pecados foram vencidos? Quais são os motivos para sermos gratos neste fim de ano? Como Deus agiu esse ano em nossas vidas?
... entendemos a realidade do presente...
Toda a recapitulação dos versículos 2-12 talvez ficasse distante da realidade do povo se não houvesse o versículo 13. Ali, Deus deixa bem claro que toda aquela ação divina no passado levou ao ponto específico no presente em que eles poderiam desfrutar das bênçãos da terra de Canaã (no caso, em forma de terras, cidades, vinhas e olivais). Pensando que a missão de Israel não acabava ali, tudo aquilo não era simplesmente o cumprimento de promessas. Na realidade, aquelas dádivas seriam úteis para o fim da conquista da terra, para o estabelecimento de Israel como a nação que proclamaria a glória de Deus para o mundo e para a preservação da nação que daria origem ao Messias.
Do mesmo modo, todas as bênçãos que desfrutamos hoje, de uma forma ou de outra, foram resultado da ação de Deus na nossa história. Isso certamente nos dá motivos para sermos gratos, seja qual for a situação! Por outro lado, nada do que Deus nos dá tem um fim em si mesmo. Temos uma missão como povo do Senhor de proclamar as virtudes dAquele que nos chamou das trevas para Sua maravilhosa luz (1 Pedro 2.9), e devemos usar cada dádiva nesse propósito. Assim, podemos analisar nosso presente pensando: Como cada ação de Deus me levou ao ponto em que estou hoje? Neste ponto da minha história, como posso ser útil ao Reino com aquilo que Deus me deu? Como a minha gratidão a Deus pode entrar em ação?
... e nos preparamos para o futuro.
Diante da ação de Deus no passado, provido pelas bênçãos de Deus no presente, Josué profere um dos versículos mais conhecidos da Bíblia: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor” (Josué 24.15b). A estrutura desse discurso inteiro mostra que só é realmente possível fazer uma resolução firme como essa no início de um novo ciclo se ela for motivada pela gratidão a Deus. Essa gratidão nos move à ação, e assim entendemos onde estamos e o que podemos fazer com o que Deus já nos deu. Podemos planejar o futuro da maneira correta, focando naquilo que realmente importa e alinhando as nossas expectativas com a vontade de Deus. Nesse processo, é natural que as Escrituras nos mostrem pontos a serem melhorados neste novo ano. Vale lembrar que, ao trabalhar nessas áreas, encontramos o processo já ativo de santificação, e o próprio Deus nos dá os recursos necessários.
Com isso em mente, montando a sua nova lista de resoluções, nunca se esqueça: o Senhor esteve conosco em cada um dos dias de 2019, e certamente estará conosco por todo o ano de 2020.
Editorial de Petrônio Nogueira
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