“Brasileiro é hospitaleiro!” Talvez você já tenha ouvido ou até mesmo falado isso. Com frequência, ouvimos que o brasileiro gosta de receber gente e de ser recebido. Na prática, isso significa muitas vezes que hospitaleiro é alguém festeiro e que gosta de um bom e longo papo. Assim, associamos hospitalidade com festa e, infelizmente, deixamos de crescer na prática de uma hospitalidade bíblica. Hospitalidade é mais que uma festa e ser hospitaleiro é mais que gostar de prosa.
O que a Bíblia ensina sobre a hospitalidade
Em toda a Escritura encontramos a prática da hospitalidade como uma resposta adequada de fé no caráter de Deus e de obediência à missão dada por Deus. Ainda no primeiro livro da Bíblia, em Gênesis 18, Abraão exerce hospitalidade com três hóspedes especiais, episódio que é mencionado em Hebreus 13.2 na exortação para não deixarmos de demonstrar hospitalidade aos estrangeiros. Já naquele episódio, o significado de hospitalidade começa a ganhar contornos diferentes do que estamos habituados a pensar.
Nos tempos antigos, hospitalidade incluía proteção. Isso fica bem evidente na história de Sodoma e Gomorra (Gênesis 19) e no sombrio episódio do levita e sua concubina (Juízes 19). Em outras narrativas do Antigo Testamento, a hospitalidade é o meio que profetas são cuidados por Deus (1 Reis 17.8–16). E em grande parte dessas ocasiões, os hóspedes levaram seus hospedeiros a um contato mais perto de Deus e chegaram a receber alguma forma de bênção. O exercício da hospitalidade (ou sua falta) revela o bem ou o mal no coração de alguém ou de uma comunidade (Gênesis 19; Juízes 19; 1 Samuel 25). As narrativas do Antigo Testamento nos ajudam a entender que hospitalidade é o exercício de cuidado.
O povo de Israel teve uma dura experiência como estrangeiro no Egito. Essa experiência migrou para a realidade de forasteiro em terras estranhas e marcou a vivência do povo com uma profunda dependência de Deus que seria expressa com gratidão e obediência. E é justamente essa experiência como estrangeiro que deveria cultivar a bondade do povo de Israel para com os estrangeiros em sua própria terra (Êxodo 23.9), em paralelo com o mandamento de amar ao próximo (Levítico 19.18; 33 e 34). A história do povo de Israel nos ajuda a entender que hospitalidade é um exercício de gratidão ao cuidado recebido e de obediência a Deus ao seu mandamento de amar.
O Novo Testamento também enfatiza a importância da hospitalidade. No coração da missão da igreja está a hospitalidade. Na prática, a igreja primitiva não contava com uma rede de hotelaria para hospedar pregadores e ministros itinerantes. Ainda como é hoje, a vida da igreja dependia da Palavra de Deus comunicada por homens separados por Deus. A hospitalidade garantia que pregadores da Palavra fossem recebidos em comunidades para o exercício do ministério da Palavra.
Em lares hospitaleiros, o Evangelho era pregado e os cristãos tinham sua identidade forjada e reforçada. Era no contexto da hospitalidade que os limites sociais eram estabelecidos e sustentados. Por exemplo, a hospitalidade não deveria ser exercida àqueles que se diziam cristãos, mas insistiam num estilo de vida imoral (1 Coríntios 5.9–11) e para aqueles que espalhavam falso ensino (2 Timóteo 3.6; 2 João 9–11).
Assim, somos chamados a “acolher uns aos outros” para algo mais profundo que uma boa prosa ou simplesmente uma gostosa refeição. Somos chamados a “acolher uns aos outros, como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus” (Romanos 15.7). A hospitalidade é uma ferramenta de avanço do Evangelho ao modelar a própria mensagem que proclamamos. Quando exercemos a hospitalidade bíblica, somos intencionais em cuidar, amar e edificar uns aos outros.
Crescendo em hospitalidade
Quando exercemos a hospitalidade, abrindo nossas portas e corações para os outros, estamos criando um ambiente acolhedor e convidativo para que as pessoas experimentem a graça e o amor de Deus. Crescer em hospitalidade envolve a disposição de estender a mão para além de nossas próprias quatro paredes e envolver-nos ativamente na comunidade ao nosso redor. Considere como podemos cultivar e fortalecer a hospitalidade:
1. Cultivar um espírito acolhedor: o Evangelho é a razão de nossa hospitalidade. Fique atento à pregação da Palavra, medite na obra de Cristo em seu favor e busque ser intencional para criar uma atitude amigável e acolhedora em relação aos visitantes e membros da igreja. Cumprimente os visitantes, conheça seus nomes e ouça suas histórias. Pequenos gestos de bondade, como um sorriso caloroso e um aperto de mão amigável, podem fazer uma grande diferença na experiência das pessoas.
2. Pequenos grupos e eventos sociais: participe ativamente de um “AGRUPE”, ou seja, um pequeno grupo. No “AGRUPE”, as pessoas se conectam e desenvolvem relacionamentos significativos, nos dando informações importantes de como podemos cuidar melhor uns dos outros. Eventos sociais regulares, como almoços, jantares ou atividades diversas, criam oportunidades para que os membros da igreja e visitantes se conheçam melhor e construam laços de amizade.
3. Ajude a manter um ambiente acolhedor: hospitalidade começa no coração, mas deve ser visto em atitudes práticas para criar um ambiente acolhedor. Ajude a garantir que as instalações físicas da igreja sejam convidativas e acessíveis. Coopere para manter os espaços limpos e bem cuidados. Não jogue papel no chão. Viu um papel no chão? Pegue e jogue no lixo. E assim, pequenos gestos irão fazer com que nosso ambiente comunique com mais clareza o acolhimento que queremos exercer.
Enfim, existem várias maneiras que podemos crescer em hospitalidade em resposta ao Evangelho, seja no contexto de nosso convívio na propriedade da igreja, como também em nossos respectivos lares. A chave aqui é um coração cheio de gratidão a Deus e uma postura intencional para usarmos tudo o que o Senhor nos deu para o avanço do Evangelho, pela graça de Deus e para a glória de Deus. Sejamos hospitaleiros!
Editorial do Pr. Alexandre “Sacha” Mendes
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