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A cultura que agrada a Deus (Parte 2)

Atualizado: 19 de set. de 2018

Na semana passada, vimos um pouco do que é a cultura e como o cristão não deve se relacionar com ela. Vimos os perigos de nos amoldarmos à cultura externa e desonrar a Deus, assim como o perigo de criarmos uma cultura interna tão rígida na comunidade que passamos a encará-la como o único modo de nos relacionarmos com Deus, desprezando assim a suficiência do sacrifício de Cristo. Com os perigos delineados, voltamos ao tema: Qual é o lugar da cultura na adoração cristã? Como o cristão deve se relacionar com ela?


Reconhecendo a Deus na cultura


Uma das características mais evidentes de Deus é a sua criatividade. Basta olhar a natureza ao nosso redor para perceber isso: é incrível a quantidade de espécies de animais e plantas que encontramos no planeta, em tão diversas formas! Somente uma mente como a de Deus poderia criar tal quantidade de seres que não conseguimos descobri-los totalmente em milhares de anos de humanidade. Ainda mais incrível é ver como Ele, ao criar o homem à Sua imagem e semelhança, faz com que herdemos essa criatividade. Basta pensar em Adão em sua tarefa de nomear todos os animais da terra em Gênesis 2; isso certamente exigiu uma bela cota da Sua criatividade “não-caída”. Mas isso não mudou com a Queda: apesar do relacionamento rompido com Deus, a capacidade criativa do homem continuou em ebulição como parte de sermos imagem dEle, porém dissociada do serviço a Deus e da sua adoração – a criação da flauta e da harpa em Gênesis 4:21 é um bom exemplo disso. Assim, nossas manifestações artísticas que buscam o que é belo e harmonioso é consequência de sermos imagem e semelhança de um Deus que criou tudo belo e harmonioso. Quando a humanidade cria algo belo, seja uma música que nos leva a lágrimas ou uma pintura que toca o nosso coração, ela reflete uma das características de Deus, mesmo que inadvertidamente. É por isso que nós, cristãos, podemos olhar para a arte e cultura em toda a sua diversidade, identificar essas características e louvar a Deus pela sua criação, louvar a Ele por ser a essência da beleza e por ter inspirado alguém a refletir essa característica de maneira tão sublime!


A cultura é redimida pelo Evangelho

Como consequência dessa criatividade de Deus, diferentes povos em diferentes lugares do mundo criam culturas extremamente distintas. Ainda assim, ao contrário do que se pensava, o Evangelho não vem para destruir cada uma delas e conformar os crentes à cultura judaica, considerando que Jesus nasceu em Israel. Ao contrário, o Evangelho liberta a cultura para servir aos seus verdadeiros propósitos. Saber que somos reconciliados com Deus unicamente por meio do sangue de Cristo faz com que deixemos de lado o foco “redentor” das manifestações culturais (pensando que a cultura é uma das maneiras com que o ser humano tenta ser aceito por Deus e pela sociedade, se tornando assim um ídolo) e passemos a usar toda a diversidade de ritmos, literatura e outras artes unicamente como forma de adorar a Deus. Dessa maneira, não é só saudável, mas recomendável olharmos toda a riqueza cultural à nossa volta e usarmos isso tudo para a glória de Deus. Como fazemos isso?


Garimpando na nossa mina cultural


O primeiro passo é não se acomodar e buscar uma riqueza maior nos nossos momentos de louvor, pensando na nossa musicalidade brasileira. Vivemos numa época de uma subcultura evangélica enlatada, consumindo de maneira indiscriminada tudo aquilo que vem de outros países com o selo “cristão”, desprezando assim muitas das belas obras cristãs produzidas em nossa própria cultura. Não que devamos rejeitar tudo o que vem de fora, mas devemos ter em mente que a adoração não é como uma receita de bolo; se a encararmos assim, ela será inevitavelmente superficial e ficaremos sempre procurando a mais nova moda dos cultos de louvor para trazermos à nossa comunidade. Nossa adoração deve ser sincera e diversa, como a própria igreja é diversa, lembrando do contexto em que nós fomos alcançados. Nossa criatividade como um dom de Deus deve ser usada na sua adoração, seja na escolha diversa de ritmos e letras, seja no processo de criação. Somos incentivados a isso pela própria diversidade apresentada nos Salmos.


“Louvem-no ao som de trombeta, louvem-no com a lira e a harpa,

louvem-no com tamborins e danças,

louvem-no com instrumentos de cordas e com flautas,

louvem-no com címbalos sonoros, louvem-no com címbalos ressonantes.”

(Salmo 150.3-5)


Cristo é Senhor sobre toda tribo, povo e raça

Por fim, lembramos de que somos um novo povo, a igreja de Deus. Mesmo assim a diversidade desse povo mostra a complexidade de Deus em ser o mesmo Senhor de pessoas de culturas tão diferentes. Desse modo, os louvores em diversas culturas não se contradizem, mas se completam, montando um quadro de um Deus que escolhe alcançar pessoas do mundo inteiro e que é adorado por todas elas. Um só Deus, louvado em milhares de ritmos diferentes. Assim, temos o chamado de mostrar que podemos ser uma igreja que não recai nos lugares comuns, mas sabe onde está inserida, não desprezando aquilo que é belo na nossa cultura e usando isso tudo para o louvor e a glória de Deus.


Editorial de Petrônio Nogueira



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