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A César o que é de César (Parte 2)

Atualizado: 12 de set. de 2018

Dando sequência às conclusões da semana passada sobre a resposta de Jesus aos fariseus e herodianos, meditaremos em mais três pontos importantes que evidenciam alguns princípios bíblicos com respeito à política de maneira ainda mais prática:


3. O cristão deve ser um bom cidadão

Política tem sido algo evitado por muitos cristãos em nosso país. Muitas vezes, fugimos de discussões, não prestamos muita atenção nos jornais e jamais consideramos qualquer envolvimento na vida pública. Entretanto, o governo e sua autoridade em última análise estão cumprindo aquilo que Deus nos ordenou em Gênesis 1.28: “enchei a terra e sujeitai-a”. Na história vemos exemplos de que quase qualquer governo é melhor do que completa anarquia. Mesmo um estado opressor e atroz como o romano proveu um período de certa paz, ordem e justiça, algo chamado pelos historiadores de Pax Romana. Como cristãos, devemos ver o governo como algo dado por Deus para o nosso bem, muitas vezes mediando bênçãos que Ele quer nos dar. Dessa forma, assim como em diversas outras instituições e empresas não cristãs, nosso envolvimento no governo deve ser desejável, encorajando as pessoas que dele fazem parte a fazerem um bom trabalho, trazendo bons frutos para a sociedade. Entretanto, essa não é a única forma de colaborarmos com o governo. Devemos ser bons cidadãos em qualquer esfera de poder, exercendo a autoridade que nos foi dada de maneira a refletir a autoridade de Deus e obedecendo às leis e às autoridades. Devemos ser honestos no pagamento de nossos impostos, mesmo que discordemos da forma com que os recursos serão usados depois. Em resumo, o cristão deve ser bom para o seu país, quer seja se envolvendo diretamente no governo, quer seja como um cidadão comum, procurando sempre a paz: “Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao SENHOR; porque na sua paz vós tereis paz.“ (Jeremias 29.7)


4. A verdadeira autoridade

No contexto dessa passagem em Jeremias, os israelitas haviam sido expulsos de suas casas e levados como prisioneiros a uma terra distante. Mesmo assim, o profeta ordena que eles não se rebelem, busquem a paz e orem pela cidade, porque somente Deus é que pode dar a eles paz e não as autoridades daquele lugar. Além de mais uma vez vermos as Escrituras nos guiando a interceder pelo local em que vivemos e, consequentemente, pelos governantes nele presente – algo que vários trechos do Novo Testamento também enfatizam (e.g. 1 Timóteo 2.1-2) – vemos claramente que o doador real da paz não é o governo terreno, mas Deus: “porque na sua paz vós tereis paz”. Não importava o fato de estarem numa condição adversa de sujeição àquele povo, a paz de Israel viria de uma autoridade muito maior, a autoridade final. A confiança do povo de Deus não podia estar nas autoridades terrenas pelo simples fato de que nelas não haveria salvação, exatamente como descrito por Davi no Salmo 146: “Não confieis em príncipes, nem nos filhos dos homens, em quem não há salvação. Sai-lhes o espírito, e eles tornam ao pó; nesse mesmo dia, perecem todos os seus desígnios.” (Salmos 146.3-4). O motivo principal desse fato é que todo governo é transitório e toda a autoridade terrena é mortal, ou seja, nenhum deles pode de maneira última manter a paz. É por isso que a esperança daquele povo era o Senhor, só ele se preocupava incessantemente com os interesses de cada um de seus filhos, mais ainda do que eles próprios. Isso é deixado claro pelo salmista nos versículos seguintes: “faz justiça aos oprimidos e dá pão aos que têm fome. O SENHOR liberta os encarcerados. O SENHOR abre os olhos aos cegos, o SENHOR levanta os abatidos, o SENHOR ama os justos. O SENHOR guarda o peregrino, ampara o órfão e a viúva, porém transtorna o caminho dos ímpios. O SENHOR reina para sempre; o teu Deus, ó Sião, reina de geração em geração. Aleluia!” (Salmos 146.7-10). Ou seja, mesmo que o governo não administre bem os impostos, não governe de maneira justa ou não cumpra o seu papel constitucional, Deus estará sempre preocupado com a sua justiça e com aqueles que o seguem. Deus é o soberano final e real de geração em geração!


5. A Deus o que é de Deus

Voltando à resposta de Jesus, é possível dizer que somente suas primeiras palavras já teriam respondido brilhantemente aquilo que lhe foi perguntado. Entretanto, ele tinha outro importante ensinamento para nos dar. Em tempos em que o chefe de estado também era comumente considerado uma divindade, Jesus deixa evidente que há uma clara distinção entre César e Deus. Nós cristão devemos obedecer e respeitar o estado, mas nunca o adorar ou considerá-lo mais importante do que é. Respondemos de maneira final a Deus e não a qualquer autoridade menor delegada por ele, ou seja, nossa responsabilidade com relação às autoridades do mundo é limitada. Como mostrado pelo salmista, Deus é quem realmente cuida de seu povo e reina para sempre. Dessa forma, não dar a Deus o que é dele, rebelando-se contra a autoridade final é algo que trará inevitavelmente graves consequências, tanto a um cidadão comum, quanto ao mais poderoso membro da classe política de um país. Isso pode ser observado diversas vezes ao longo da narrativa bíblica, como o famoso exemplo do faraó que obstinadamente questionou a autoridade final de Deus, o que não trouxe bons resultados aos egípcios: “Quem é o SENHOR para que lhe ouça eu a voz e deixe ir a Israel?” (Êxodo 5.2). Neste episódio podemos ver que as autoridades podem estar muitas vezes erradas, mas, quando esses erros afetam diretamente a habilidade dos cidadãos de seguir a Deus, ele irá de uma forma ou de outra intervir. Contudo, apesar de os israelitas saberem que as ordens de faraó eram abertamente contrárias às de Deus, eles mantiveram sua obediência à autoridade terrena, esperando de Deus a real salvação.


Para concluir, a aparentemente simples resposta de Jesus num famoso episódio de seu ministério mostra que, apesar de fazer parte da vida do cristão, a política não deve ser sua maior preocupação. Corrupção, carga tributária e impunidade podem sim nos trazer muitos desapontamentos, mas não são novos governantes ou reformas que irão resolver esses problemas. Deus é o nosso refúgio e salvação, mesmo em tempos de crise e instabilidade política, reinando sempre de maneira a cuidar de seus filhos. Ele permite que tenhamos o governo que temos como parte de seu plano perfeito para nossas vidas, com a garantia de que sempre teremos condições de vivermos uma vida que o agrade.


Editorial de André Negrão


Baseado no livro God and Politics , Mark Dever

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