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As Bem-aventuranças: Os Mansos

Vivemos em um mundo de muita confusão em relação aos aspectos morais. Cada vez mais os conceitos de mal e bem são relativizados, e as pessoas sofrem em uma sociedade em que “cada qual faz o que acha mais reto” (Juízes 21.25). No entanto, essa não é a realidade no Reino de Deus. As bem-aventuranças (Mateus 5.1–12) nos revelam as características presentes em um cidadão desse Reino e nos mostram que há uma clara diferença entre aquele que pertence a Jesus e os demais. A “mansidão” é o terceiro ponto dessa lista de características.


A mansidão, na Bíblia, está diretamente relacionada com a forma como o cidadão do Reino lida com a impiedade ao seu redor. Enquanto o homem natural responde com ira aos episódios de injustiça na sua vida, reivindicação de direitos, ingratidão e estresse, o cristão é capacitado pela graça a descansar em um Deus que é soberano em cada aspecto da vida. Dessa forma, a mansidão não é um aspecto da personalidade de alguns, e sim uma evidência da habitação do Espírito Santo na vida do cristão (Gálatas 5.23).


1. Entendendo melhor a mansidão


Quando Jesus diz em Mateus 5.5 que “os mansos herdarão a terra”, Ele está fazendo uma alusão ao Salmo 37. Por isso, entender os apontamentos do Salmo 37 nos ajuda a compreender quem é o manso de Mateus 5.


O manso:


a) não se indigna nem inveja os malfeitores (versículos 1 e 2): ele conhece a pecaminosidade humana, pois ele já reconheceu a sua própria (Mateus 5.3), e sabe que a graça de Deus é que o transformou. Ele também sabe que o destino dos que não se converterem será a destruição;


b) confia no senhor e faz o bem (versículo 3): o manso sabe que o Senhor está no controle de cada aspecto da sua vida, e que isso deve afetar, de forma prática, a forma como ele vive;


c) habita na terra (versículo 3): a mansidão não existe em alguém que vive isolado. Ela faz diferença na vida do cristão em meio a um mundo caído;


d) agrada-se do Senhor (versículo 4): o manso é grato pela provisão e cuidado de Deus e, portanto, não vive reclamando;


e) entrega o caminho ao Senhor (versículos 5 e 6): o manso sabe que Deus irá conduzir sua vida melhor do que ele próprio. Ele sabe que Deus é quem irá fazer a justiça, não ele próprio;


f) descansa no Senhor (versículo 7): o manso não fica preocupado ou ansioso com direitos violados ou ofensas, pois sabe que o Senhor está no controle. Ele pode descansar na sabedoria de Deus em conduzir a sua vida;


g) não se ira (versículo 8): o manso sabe que a ira do homem não produz a justiça de Deus (Tiago 1.20) e, portanto, deixa que Deus julgue sua causa.


Resumindo, vemos que a mansidão implica em não reivindicar direitos e não se ofender com o efeito da impiedade contra si. O manso não fica maquinando formas de defender sua honra, mostrar que está certo, vencer discussões, defender direitos, nem tampouco fica sofrendo por não os conseguir. O manso também não coloca sua esperança nas soluções humanas de fazer justiça: disputas judiciárias, denúncias jornalísticas, postagens em redes sociais ou planos de vingança. A esperança do manso está em esperar no Senhor. E, por fim, o manso é grato mesmo que suas circunstâncias não mudem.


2. Exemplos de mansidão


A Bíblia nos traz vários exemplos de mansidão, porém o mais esclarecedor é o de Moisés, visto que o termo “manso” aparece contextualizado (Números 12). No episódio, Arão e Miriã falam contra Moisés, questionando sua autoridade e liderança. Nesse momento, o texto diz que Moisés era o homem mais manso da terra (Números 12.3), pois ele preferiu sofrer pelo pecado dos outros do que pecar. O Senhor é quem ouve a situação e faz justiça a Moisés.


O outro grande exemplo é, certamente, o Senhor Jesus Cristo, visto que Ele nos diz para aprendermos a mansidão com Ele (Mateus 11.28–30). De fato, Jesus “quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente” (1 Pedro 2.23). O principal exemplo disso foi Sua morte na cruz, por pecadores que não mereciam, sendo ofendido por pessoas que não entendiam o Seu plano. Graças a Deus pela mansidão de Jesus que nos permitiu ser salvos!


3. O resultado prático da mansidão


Além da consequência imediata da mansidão, herdar a terra (ou seja, a mansidão é evidência de salvação), essa característica impacta diversos aspectos da nossa vida presente. Muitas vezes deixamos de viver a vida abundante prevista por Cristo porque não estamos crescendo em mansidão como Ele nos orientou a fazer. Dessa forma, vamos pensar em algumas áreas importantes em que podemos crescer:


a) A mansidão é essencial para a manutenção do corpo de Cristo: você já deve ter percebido que a igreja não é imune a conflitos, e que, se existe um lugar em que temos oportunidades de exercitar a mansidão, é lá. Em Efésios 4.1–3, Paulo orienta a igreja a perseverar na união, evidenciando a necessidade de sermos mansos para sermos capazes de suportar uns aos outros. A igreja é o lugar para servirmos, e não para termos nossas preferências ou supostos direitos garantidos. Em Tiago 3.13, o apóstolo desenvolve o assunto evidenciando que mansidão é uma demonstração de maturidade e sabedoria. Se não estamos crescendo nesse caminho, devemos avaliar se de fato estamos evoluindo na nossa caminhada cristã.


b) A mansidão é evidência de salvação e de crescimento em santidade: o texto de Tiago 1.21 nos mostra que mansidão está ligada a reconhecermos o nosso pecado. Sem mansidão, iremos negar ou minimizar o nosso pecado e vamos querer correr atrás do nosso direito. Por conta dessa postura, muitos entendem que não precisam de Jesus para serem salvos, pois se consideram bons. No mesmo rumo, muitos cristãos perdem a oportunidade de tratarem e se arrependerem dos seus pecados por acharem que estão sendo injustiçados em determinadas situações.


c) A mansidão é essencial para a exortação em amor: este é o outro lado da moeda do item anterior. Assim como precisamos ter mansidão para sermos exortados, precisamos de mansidão para exortar. Quando vamos confrontar alguém de um pecado, não devemos ter a mentalidade de reivindicar direitos na conversa e sim de restauração (2 Timóteo 2.25).


d) A mansidão é essencial para ser exemplo ao próximo: a mansidão é uma das características que se destaca bastante em um cristão, visto que ela é tão oposta à cultura humana. Ao longo da história, o mundo desenvolveu vários métodos de resposta à impiedade, mas nenhuma delas se assemelha à resposta cristã da mansidão. Uma resposta bíblica fala alto às pessoas ao redor, de forma que o seu sofrimento serve de testemunho para outros (1 Pedro 3.14–17).


Diante do cenário de impiedade no mundo, as pessoas estão buscando desesperadamente alguém que lhes faça justiça. O manso sabe que a resposta para isso está em Cristo, e desfruta de paz mesmo em meio a essas dificuldades, porque vive de forma prática as características citadas. Que possamos verificar se temos vivido dessa forma e que possamos dar o próximo passo para crescer em mansidão.


Editorial de Tássio Côrtes Cavalcante



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