“Então chamaram os apóstolos e os açoitaram. E, ordenando-lhes que não falassem no nome de Jesus, os soltaram. E eles se retiraram do Sinédrio muito alegres por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome.”
(Atos 5.40, 41)
“E depois de lhes darem muitos açoites, os lançaram na prisão, ordenando ao carcereiro que os guardasse com toda segurança. Este, recebendo tal ordem, levou-os para o cárcere interior e prendeu os pés deles no tronco. Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus.”
(Atos 16.23-25)
Se compartilhássemos apenas esses poucos versículos com pessoas que ainda não conhecem o Senhor Jesus, mostrando a elas a forma alegre como os apóstolos respondiam diante da perseguição ferrenha que sofriam por causa do Evangelho, provavelmente as reações mais comuns seriam: “São uns malucos!”, “Esses caras são masoquistas!”, “Isso é loucura!”.
Nada mais natural e esperado, porque não há mesmo como compreender uma situação como essa – onde há intolerância, injustiça, violência, rejeição e sangue por todo lado, mas, ao mesmo tempo, alegria por toda parte – sem o poder gracioso e revelador do Espírito Santo. O apóstolo Paulo deixa isso claro em 1 Coríntios 2.14: “Ora, a pessoa natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura. E ela não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente.”
Os descrentes, ainda que inteligentes e considerados geniais, possuem apenas o conhecimento deste mundo. São sábios segundo a carne, mas incapazes de compreender a doutrina da piedade e, muito embora tenham a noção da existência de Deus, não O glorificam, nem Lhe rendem graças (Romanos 1.21), porque não conseguem enxergar Sua glória.
Isso faz com que suas mentes se voltem apenas para a vaidade de seus próprios raciocínios. É por isso que se sentem tão cheios, alegres e satisfeitos em suas atividades, suas coisas, ideias, sonhos, visões e finalidades.
E, centrados na certeza de que, de fato, o homem vive só de pão, criam uma existência com sentido real, inflando uma devoção singular por eles mesmos e reduzindo Deus ao nível mais miserável das suas próprias condições.
No fundo, são prisioneiros de uma consciência cauterizada pela insensatez e, algemados na masmorra do próprio orgulho, vivem reféns da instabilidade dos sentimentos e emoções.
Porquanto, quando os seus sentidos entram em colapso, quando a aflição chega de mãos dadas com o desespero e a angústia lhes faz cair o semblante, não conseguem exorcizar o medo, nem, tampouco, conter os diques contra o caos, que se rompem inesperadamente, afogando, nas águas tortuosas da própria realidade, todo devaneio do prazer volátil e da alegria efêmera, acumulados, inutilmente, na embriaguez de suas vãs arrogâncias.
Mas, com os verdadeiros filhos de Deus não é assim, porque eles conseguem entender, avaliar, sentir, aplicar e expressar a realidade ao seu redor na dependência e na capacitação do poder gracioso do Espírito Santo, comprado pelo sangue do Cristo crucificado e ressurreto, cujo único objetivo é sempre glorificar a Deus.
Assim, encontram alegria genuína e liberdade de alma, porque ambas vêm do Senhor, através de Cristo e, por isso, elas são inabaláveis, mesmo quando há luto, aflições, fraqueza, pobreza, desonra, humilhação, perseguição, injustiças, entre tantos outros. Os verdadeiros cristãos são livres porque são controlados, exclusivamente, pela autoridade da Bíblia e pelo poder majestoso do único Deus santo, soberano e criador de todas as coisas.
Se, então, o sol brilha e a situação lhes é favorável, louvam e adoram a Deus. Se estão no meio da tempestade, exultam e rendem graças, não por ser ela agradável, pois, certamente, eles também a temem, fogem da adversidade, sentem a dor das aflições e amarguras quando elas aparecem.
Mas, a alegria vem porque, em Cristo, encontram dignidade no sofrimento e ocasião, não somente para compartilhar o valor, a beleza e a grandeza do seu Mestre, mas sobretudo, para agradecer a oportunidade de se tornarem ainda mais parecidos com Ele.
Na carta aos Filipenses, o apóstolo Paulo demonstra essa mesma alegria ao afirmar que: “Digo isto, não porque esteja necessitado, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Sei o que é passar necessidade e sei também o que é ter em abundância; aprendi o segredo de toda e qualquer circunstância, tanto de estar alimentado como de ter fome, tanto de ter em abundância como de passar necessidade” (Filipenses 4.11, 12 – ênfase do autor).
O segredo da felicidade dos que vivem pela fé está na graça de reconhecer a soberania de Deus e a doçura de Cristo reinando absolutas em cada célula, em cada respiração, em cada circunstância e em cada segundo de suas vidas.
A alegria genuína, como marca registrada do verdadeiro discípulo, vem com a dádiva e com a certeza de poder manifestar, em obediência, submissão, dependência, humildade, serviço e transbordante gratidão ao Senhor, a mesma convicção do apóstolo Paulo de que “tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4.13).
Editorial de Walter Feliciano
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