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Os Dez Mandamentos - O Único Deus

Atualizado: 24 de jan. de 2023

Um tempo atrás, enquanto eu andava pelo shopping, vi um rapaz com uma camiseta exatamente igual a que eu estava usando, idêntica. Talvez até o tamanho era o mesmo. Meu pensamento, logo em seguida, foi o de não usar mais aquela camiseta. Ela simplesmente perdeu a graça. Quanto mais de algo existe, menos valor aquilo tem. É por isso que peças exclusivas são tão caras — você nunca encontrará alguém no shopping com a mesma roupa que você.


Em Êxodo 20, Deus está comunicando ao povo a Sua Lei — a Lei que deveria direcionar a vida daquelas pessoas na Terra Prometida. Porém, antes de começar a descrever as leis, Deus diz algumas palavras que parecem simples, mas que dão base a tudo o que seria dito em seguida:


“Eu sou o SENHOR, seu Deus, que o tirei da terra do Egito, da casa da servidão.”

(Êxodo 20.2)


Nesse versículo Deus resume o que havia dito a Moisés em Êxodo 19.1–6. O Senhor havia libertado o Seu povo. Ele os tirou do Egito. Agora, Israel estava livre. Mas livre para cumprir um propósito.


Nas próximas semanas iremos analisar cada um dos dez Mandamentos. As Dez Palavras, como também são conhecidos, são familiares a maior parte dos cristãos — e até mesmo de pessoas que não conhecem a Cristo, mas que têm algum pano de fundo religioso. Normalmente, os dez Mandamentos são entendidos como sendo apenas regras, como uma lista de obrigações que precisam ser cumpridas à risca. Caso contrário, sofreremos as consequências.


Isso não é de todo mentira. Mas é uma verdade incompleta. Ao examinarmos a substância dos dez Mandamentos, não podemos — de forma alguma — nos esquecer do contexto em que esses imperativos foram dados. Não só isso, precisamos também entender como Jesus cumpre e transforma essas ordens.


Os dez Mandamentos foram dados para um povo já liberto e redimido. Isso significa que não foram dados como um meio de obter a redenção, mas como uma forma de expressar gratidão pela redenção recebida. Deus lembra a Israel que Ele estabeleceu Seu relacionamento com o povo ao libertá-lo da escravidão que eles experimentaram no Egito. Como observa Mark Strom:


“O Senhor não deu a lei para estabelecer seu relacionamento com os israelitas.

Ele a deu porque já tinha um relacionamento com seu povo e queria que eles agora aprendessem como expressar esse relacionamento fielmente.”¹


A Lei foi dada a Israel porque Deus amava Seus filhos, e queria instruí-los sobre como agradá-lO e como viver bem e com sabedoria na terra que Ele estava lhes dando.


E o que isso tudo tem a ver com Deus ser único? Afinal, o título do nosso editorial é esse. Todas as leis que Deus dá ao Seu povo partem do pressuposto de que Ele, o Deus que redimiu Israel, é o único Deus. Não existe outro. O nosso Deus é o único Deus verdadeiro. As estipulações da Aliança estão firmemente fundamentadas em quem Deus é e como Ele se deu a conhecer. O Senhor está sendo apresentado aqui como o único e grande Rei de Israel, cuja ação em nome de Israel exige sua gratidão e lealdade. Deus ordena a Israel que observe essas estipulações não para se tornar Seu povo, mas porque é assim que Seu povo, a quem Ele resgatou da opressão, deveria responder.


Se o nosso Deus é único, por que buscar falsos deuses? Se o Deus que nos comprou é único, que valor tem os falsos deuses? Se o nosso Deus é único, que lugar melhor para estar do que debaixo da Sua boa e perfeita vontade?


O nosso Deus é único. Não há outro (Isaías 45.3,5,6,7,14,18,21,22). E esse Deus, que é único, redime Seu povo para que eles reflitam exatamente quem Deus é (Êxodo 19.3, 4).


Como a Lei se aplica a nós hoje?


Um último detalhe, para concluirmos nosso pensamento. Falarei sobre as leis dadas por Deus, mas precisamos entender que elas se aplicam a nós, povo da Nova Aliança, apenas indiretamente.


Primeiro, visto que a Lei Mosaica era a constituição de Israel como nação, e visto que os crentes do Novo Testamento não constituem a nação de Israel, os crentes do Novo Testamento não estão sob a Lei Mosaica. Estamos unidos através das fronteiras nacionais, constitucionais e geográficas como povo de Deus em uma Nova Aliança estabelecida por nosso Rei comum, capacitado por nosso Espírito vivificante comum, e chamados a manifestar a verdadeira justiça de Deus, encontrada supremamente em Cristo, que testificou e discerniu em todas as Escrituras em amar nosso próximo em tempo real e em situações reais.


Em segundo lugar, nós não estamos mais debaixo da Lei Mosaica. A Nova Aliança é, de fato, uma Nova Aliança. A Antiga Aliança nos serviu de guia até a vinda de Cristo (Gálatas 3.23–25). Uma vez que Cristo veio, Ele estabeleceu algo novo. O livro de Hebreus fala sobre uma aliança superior feita em Cristo, sob a qual estamos hoje.


Isso não significa, de forma alguma, que vivemos sem lei. Como o apóstolo Paulo diz em 1 Coríntios 9.20, 21, estamos debaixo da Lei de Cristo.


“Para com os judeus, fiz-me como judeu, a fim de ganhar os judeus;

para os que vivem sob o regime da Lei, como se eu mesmo assim vivesse,

para ganhar os que vivem debaixo da Lei, embora eu não esteja debaixo da Lei.

Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus,

mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei.”


Como igreja, corpo de Cristo e comunidade da Nova Aliança, não estamos mais debaixo da Lei Mosaica; estamos debaixo da Lei de Deus, dada a nós por meio de Cristo.


Ao mesmo tempo, isso não significa que a Lei pode ser desprezada por nós. Ela ainda é relevante. Ela é útil, assim como toda palavra de Deus é útil (2 Timóteo 3.16), porque nela podemos ver expressões do caráter eterno de Deus e retirar princípios eternos para nossas vidas cristãs. Cada uma das Leis revela para nós mais sobre o caráter santo de Deus, mais sobre como Ele espera que Seu povo viva.


Portanto, podemos nos beneficiar ao compreender a vontade de Deus para que amemos nosso próximo em palavras e ações. Só não estamos mais debaixo da obrigação de guardá-la. Em outras palavras, a Lei de Moisés tem autoridade direta como Escritura e autoridade indireta como Lei.


A Lei, como um todo, foi cumprida por Cristo. A Antiga Aliança é antiga. Em Cristo, estamos no contexto da Nova Aliança. Agora, Deus é o mesmo. Ou seja, a Antiga Aliança nos ensina sobre o caráter de Deus, sobre o Seu cuidado pelo Seu povo, sobre Sua justiça e santidade, e assim por diante. Nós não a aplicamos diretamente, mas entendemos os princípios que lá estão, e que refletem o caráter único de Deus. Por isso, a entendemos e a transmitimos para o nosso dia a dia.


Editorial de Gustavo Santos

¹ Mark Strom, The Symphony of Scripture: Making Sense of the Bible’s Many Themes (Downers Grove, IL: IVP, 1990), 51.

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