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Ouça o canto dos cisnes

Qual a influência que um homem pode ter na história? Certamente já ouvimos relatos de homens no comando de grandes exércitos, levando nações à vitórias militares. Já ouvimos histórias de grandes presidentes que levaram seus países a períodos de prosperidade econômica. Ouvimos sobre grandes pensadores que revolucionaram a ciência e trouxeram avanços tecnológicos. Não podemos negar que a sociedade como conhecemos hoje (com seus pontos fortes e fracos) só foi possível por causa de homens como esses, cuja atitude corajosa ou inovadora impactou toda uma época. Em certo sentido, o mesmo vale para a igreja de Cristo: Deus usou diversos homens no decorrer da história para edificar e preservar a igreja na doutrina dos apóstolos. Tais homens, em sua maioria, não eram considerados em alta conta em seus dias; na realidade, muitos deles foram desprezados e mortos por suas posições ideológicas. Mesmo assim, suas vozes ecoam até os dias de hoje, e suas posições firmes diante das oposições são vistas não só como um exemplo, mas como uma amostra do cuidado de Deus pela igreja.


Deus usa homens para manter Sua igreja


A igreja de Cristo não é apenas uma reunião de pessoas que pensam de maneira parecida. Na realidade, desde o seu projeto original ela foi desenhada para ser a expressão visível do Deus invisível, mostrando seu amor (João 17), santidade (2 Pedro 1.16), sabedoria (Efésios 3.10 e 5.15) e justiça (1 João 3.7). A igreja é definida como coluna e fundamento da verdade (1 Timóteo 3.15), e deve ser preservada justamente por esse motivo. No meio de um mundo relativizado, onde o engano reina e tudo parece durar pouco, a igreja revela a natureza do Deus imutável e verdadeiro. Foi com essa preocupação que John Huss, um pregador do século XV, vendo os abusos cometidos pela igreja católica na época, passou a pregar a Escritura como autoridade última em todos os aspectos da vida do crente. Sua atitude o levou à prisão e morte em 1415, mas o movimento ele que havia começado cresceu imensamente nos anos seguintes. Aproximadamente 100 anos depois, em 1517, na véspera do Dia de Todos os Santos, Martinho Lutero pregou na porta da catedral de Wittenberg suas 95 teses, iniciando definitivamente a Reforma Protestante. Lutero é visto hoje como a principal figura da Reforma, um dos principais movimentos de retorno à sã doutrina que impactou a igreja de maneira única.


Homens como Lutero e Huss são vistos hoje como peças importantes da história da igreja, mas eles mesmos não tinham essa consciência. Eles eram simplesmente homens alcançados pelo Evangelho, que reconheceram sua miséria diante de um Deus Santo, mas com histórias de vida imperfeitas. Ambos eram um reflexo de 2 Coríntios 4.7: “Mas temos esse tesouro em vasos de barro, para mostrar que o poder que a tudo excede provém de Deus, e não de nós.” Nunca devemos olhar para esses homens como grandes heróis, mas como servos de Deus, usados e capacitados por Ele para cumprir seus objetivos na história. Seus grandes feitos são, na realidade, grandes feitos da graça de Deus em favor da igreja.


Cante com os cisnes!


A tradição diz que, antes de morrer, John Huss escreveu: “Hoje, vocês irão queimar um ganso [que é o significado de Huss, na língua tcheca]; porém, daqui a cem anos, vocês irão escutar um cisne cantando. Vocês não irão queimá-lo, mas terão de ouvi-lo.” Lutero se refere a essa mesma frase cem anos depois, assumindo a posição do cisne que Huss havia mencionado, que haveria de continuar cantando, “se isto agradar a Deus” – e sabemos que foi exatamente isso o que aconteceu. Homens como Huss, Lutero, Zuínglio, Calvino, e muitos outros “cisnes da Palavra”, entenderam a importância de se manter a sã doutrina inalterada no seio da igreja, preocupando-se com o papel central da Escritura; sem isso, todo o propósito da igreja iria fracassar. Vemos nessas histórias algumas amostras da soberania de Deus que, em seu poder e para a sua glória, capacita homens a proteger e restaurar a mensagem do Evangelho, o maior presente de Deus para a humanidade. Mas isso não estava reservado apenas para a época da reforma; vivemos numa época extremamente relativista, onde a defesa da verdade se faz necessária em cada esfera das nossas vidas. Portanto, não deixe que a voz desses cisnes ecoe sozinha! Adicione seu canto à essa melodia e seja firme. Esteja pronto para pagar o preço de uma vida firmada somente na Palavra, com a consciência de que a nossa cidadania está nos céus, e lá iremos ver de maneira cabal o quanto esse esforço valeu a pena.


Editorial de Petrônio Nogueira



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