Todo livro transmite uma mensagem, e todo livro tem um propósito. Inclusive, entender o propósito e a mensagem central de um livro nos ajuda a ler esse livro corretamente. Partindo desse princípio, duas perguntas importantes surgem:
Qual a mensagem da Bíblia?
Qual o propósito da Bíblia?
Você saberia dizer, em uma frase, qual a mensagem da Bíblia e qual o seu propósito?
Não é uma resposta fácil. Ainda assim, é uma resposta importante, que nós, como cristãos, deveríamos saber. A Bíblia é o livro que governa nosso relacionamento com o Deus vivo, e entendê-la é essencial para que vivamos vidas agradáveis ao Senhor.
Portanto, o objetivo desse artigo é ajudá-lo a responder essas duas perguntas de forma objetiva e clara. Para concluir, veremos como essa mensagem nos auxilia a compreender o conceito de Teologia Bíblica, que tem como objetivo unificar a mensagem das Escrituras e apontar cada texto para Cristo.
I. Qual a mensagem da Bíblia?
Será que é possível resumir a mensagem de toda a Bíblia em uma frase? Será que há um tema central que coordena todas as narrativas bíblicas? Será que a mensagem do Antigo Testamento é a mesma mensagem do Novo Testamento? E como essa mensagem é comunicada a nós? Há muitas respostas — e boas respostas — para essas perguntas. Ainda assim, a que eu creio ser a mais acurada é composta de 3 partes.
Para explicar essas 3 partes, eu quero que você pense em um corpo. De forma simplificada, nosso corpo é composto de um esqueleto, que é a parte estrutural. De um coração, que é o que nos dá vida. E segurando tudo junto temos a pele. Essas três partes aparecem em um único versículo, que será a passagem diretora para respondermos nossa primeira pergunta:
“Havendo-lhe eles marcado um dia, vieram em grande número ao encontro de
Paulo na sua própria residência. Então, desde a manhã até à tarde,
lhes fez uma exposição em testemunho do reino de Deus,
procurando persuadi-los a respeito de Jesus,
tanto pela lei de Moisés como pelos profetas.”
(Atos 28.23)
Então, qual a mensagem da Bíblia? A Bíblia fala sobre o Reino de Deus e sobre Jesus — o Rei do Reino. E como ela nos comunica essa mensagem? Através da lei de Moisés e dos profetas — que são uma referência a toda a Bíblia (cf. Lucas 24.44). Basicamente, é isso; mas sim, nós podemos desenvolver um pouco mais nossa resposta usando a ilustração do corpo.
I. a. [Pele] A estrutura temática: o Reino de Deus
O Reino de Deus é o tema que mantém todos os outros temas juntos. O Reino de Deus abrange tudo. Podemos falar sobre a criação porque ela é o domínio do Reino. Podemos falar sobre a lei porque ela é a lei do Reino. Podemos falar sobre os sacerdotes porque eles são os mediadores do Reino. Tudo existe dentro do Reino de Deus.
Como era de se esperar, o tema do Reino é mais explicitamente abordado nos Evangelhos, quando o Rei do Reino se faz presente entre nós. Inclusive, Jesus falava muito sobre o seu Reino (Mateus 4.17). O Reino foi o resumo de tudo o que Ele ensinou aos seus discípulos nos 40 dias após a ressurreição (Atos 1.3). O Reino é o que nos ajuda a unificar o Antigo e o Novo Testamento.
Sem a pele, não há compreensão — não há como colocar as outras coisas juntas sem ela. Não há como unificar a Palavra de Deus sem o Reino de Deus.
I. b. [Coração] O centro teológico: Jesus
A segunda parte que Paulo fala em Atos 28.23 é Jesus. Ele é o centro teológico das Escrituras. Isso é diferente da estrutura temática. O centro teológico é o coração, o objetivo, o alvo da revelação bíblica. Em outras palavras, Jesus é o coração das Escrituras — Ele é o Rei do Reino. Sem Cristo, não há vida nas Escrituras. Se você remover o coração, o corpo estará morto. Se nós retirarmos Jesus, não há mais nada. Como o apóstolo Paulo diz em Romanos 11.36: “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!”
Em termos da relação de Jesus com a Palavra de Deus, Ele mesmo afirma ser a Palavra encarnada. Ele é a fonte e o significado de cada palavra encontrada em cada uma das páginas das Escrituras, inclusive nas páginas do Antigo Testamento (Provérbios 8.23; Isaías 44.6; Lucas 24.25–27, 44–47; João 1.1–4; 5.39; 2 Coríntios 1.20).
Compreender isso muda a forma de como lidamos com as histórias do Antigo Testamento. Somente dessa forma aprenderemos corretamente sobre Deus em sua Palavra, ao invés de usá-la como um livro de autoajuda moralista. Essa é uma grande mudança hermenêutica.
“Ouse ser um Davi… seja como Salomão… seja como Elias e Eliseu…” Existem algumas coisas que não podemos fazer, e o papel dessas narrativas não é, necessariamente, nos ensinar como devemos viver. Em vez disso, elas nos mostram tipos de Cristo, mostrando-nos que Deus é fiel em manter sua aliança, nos salvar e nos redimir do início ao fim. Consequentemente, usaremos essa passagem para encorajar nossa fé com o Evangelho, e não impor sobre nós — e aqueles que nos ouvem — o peso esmagador do moralismo que normalmente vem em nossa exposição do Antigo Testamento.
I. c. [Esqueleto] A estrutura canônica: a Lei e os Profetas
A última parte da nossa analogia é o esqueleto — a estrutura canônica das Escrituras. O esqueleto dá, em certo sentido, uma representação visível ao corpo — forma, aparência externa, estrutura básica. Apesar de Paulo citar apenas a Lei e os Profetas no texto de Atos, podemos considerar uma referência a toda a Bíblia (cf. Lucas 11.49–51; 24.25–27, 44–47). Tomar uma parte pelo todo era uma prática comum na literatura da época.
Infelizmente, parte desse ponto se perde para nós hoje, uma vez que, na nossa Bíblia, alguns livros do Antigo Testamento são dispostos em ordens diferentes do que no original. Ainda assim, é possível notarmos uma grande mensagem se desenvolvendo ao longo dos livros, nos preparando para a chegada do Messias e para Seu retorno futuro.
Portanto, com base no que vimos até aqui, podemos afirmar que A Bíblia fala sobre o Reino de Deus e sobre Jesus — o Rei do Reino. Essa é a mensagem das Escrituras, comunicada através da estrutura canônica: a lei de Moisés e dos profetas, isto é, a Bíblia toda.
II. Qual o propósito da Bíblia?
Contudo, ainda precisamos responder a segunda pergunta. Qual o propósito desse livro, que fala sobre o Reino de Deus e Jesus? O propósito das Escrituras é nos transformar através da mensagem que comunica. Como o apóstolo Paulo diz em 2 Timóteo 3.16, 17: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (ênfase do autor). Em outras palavras, o objetivo do Senhor é usar sua Palavra para moldar em nós o caráter do seu Filho.
Assim, nossas histórias pessoais fazem sentido apenas quando estamos interpretando tudo ao nosso redor à luz da História do Rei, contada através de gêneros literários variados, escrita por homens diferentes e em ocasiões históricas diversas. Porém, com um Autor divino por trás de cada página da Bíblia: o Espírito Santo.
A partir da semana que vem, começaremos uma série de reflexões baseadas nas mensagens dos profetas menores. Deus moveu homens em momentos distintos através da história do povo de Israel para comunicar uma mensagem sobre Seu caráter e Seu plano perfeitos. Juntos, os profetas menores contribuem para a compreensão da mensagem da Bíblia, apontando para o Rei no desenrolar da história de Seu Reino. A mensagem dos profetas menores é um bom exemplo de como cada parte da Bíblia contribui para uma mensagem coerente numa dinâmica perfeita.
Editorial de Gustavo Henrique Santos
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