Nos dias atuais, o conceito de se obter a qualidade de vida fazendo somente aquilo que fornece conforto e prazer é cada vez mais valorizado. Normalmente, se vende em propagandas o desfrutar da preguiça em dias de folga, finais de semana, em períodos de férias, ou até mesmo como um modo de vida altamente desejado no qual não se faz nada. Assim, existe a possibilidade de se estimular um estilo de vida que enalteça a preguiça.
Nas Escrituras, por sua vez, a preguiça é apresentada como uma resposta inadequada à ordem de Deus para trabalhar e cuidar do que Ele designou ao ser humano. Isso muitas vezes se traduz em uma busca pela “fuga do trabalho”. Então, primordialmente, deixar a preguiça nos dominar é um pecado, pois é uma rebeldia contra a ordem de Deus. Sendo pecado, o salário para a preguiça é a morte (Romanos 6.23).
Além de uma consequência eterna e final, o livro de Provérbios nos mostra que a preguiça também traz destruição hoje, sendo o preguiçoso um dos seus personagens principais. Ele é exatamente o oposto daquilo que é valorizado: a sabedoria. No livro, são mostrados diversos exemplos que deveriam nos estimular a buscar o caminho da sabedoria e fugir do ócio. Um deles é a confrontação direta com o exemplo das formigas, que não tendo chefe ou oficial são diligentes, prudentes e não se deixam dominar pela preguiça: “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio, não tendo ela chefe, nem oficial, nem comandante, no estio, prepara o seu pão, na sega, ajunta o seu mantimento” (Provérbios 6.6–8).
A preguiça também demonstra que não valorizamos aquilo que Deus nos confia como mordomos. Como resultado, tudo que está sob a responsabilidade do preguiçoso vai de mal a pior. “Passei pelo campo do preguiçoso e junto à vinha do homem falto de entendimento; eis que tudo estava cheio de espinhos, a sua superfície, coberta de urtigas, e o seu muro de pedra, em ruínas. Tendo-o visto, considerei; vi e recebi a instrução. Um pouco para dormir, um pouco para tosquenejar, um pouco para encruzar os braços em repouso, assim sobrevirá a tua pobreza como um ladrão, e a tua necessidade, como um homem armado” (Provérbios 24.30–34).
E é interessante perceber que, quando o preguiçoso não faz nada, exemplificado pelas atitudes de dormir, cruzar os braços etc., podemos ter a percepção inicial de que ele não está causando nenhum mal, nem a ele nem aos que estão ao redor dele. Talvez possa até passar a impressão de que ele esteja desfrutando de um estado de neutralidade. Porém, diante da descrição de Salomão, quem não faz nada é um insensato e está praticando a maldade efetiva, em franca rebeldia e desobediência contra Deus. Destaca-se a necessidade de atitude intencional e um posicionamento ativo para trabalhar no sentido de evitar que as tarefas e responsabilidades delegadas a nós venham a se tornar um caos.
Para nos dar esperança, o escritor de Hebreus nos orienta a termos a “diligência para a plena certeza da esperança” pela observação e imitação daqueles que não são preguiçosos, porém operantes e úteis na obra de Deus: “Desejamos, porém, continue cada um de vós mostrando, até ao fim, a mesma diligência para a plena certeza da esperança; para que não vos torneis indolentes, mas imitadores daqueles que, pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas“ (Hebreus 6.11, 12).
Por fim, o apóstolo Pedro, em sua segunda carta, menciona que o exercício de certas qualidades que são adquiridas e desenvolvidas nos levam a ter um maior conhecimento de Jesus, e que isso nos impede de ser inativos ou improdutivos (preguiçosos) diante de Deus e no desenvolvimento das atividades requeridas por Ele: “por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor. Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois aquele a quem estas coisas não estão presentes é cego, vendo só o que está perto, esquecido da purificação dos seus pecados de outrora” (2 Pedro 1.5–9).
Devemos nos lembrar que existe uma obra do Espírito Santo que está sendo executada em nossas vidas com o objetivo de nos fazer mais maduros, e como resultado, sermos instrumentos úteis a Deus e aos que estão ao nosso redor. Em suma, devemos buscar crescer em conhecimento (pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo) e não sermos ignorantes sobre Jesus, pois esse desconhecimento nos leva à apatia em todas as áreas de nossa vida e consequente inatividade na igreja.
Como podemos perceber, a preguiça, como qualquer outra manifestação pecaminosa, nos promete prazer e realização, mas nos leva à desobediência a Deus, culpa e destruição. Porém, a Bíblia nos estimula a nos posicionar intencionalmente, buscar aprendermos com Cristo e imitar irmãos que podem ser exemplos na caminhada cristã com o objetivo de fugir da prática da preguiça.
Editorial de Neemias X. P. Santos
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