Ética Cristã — Aborto
- Site IBMaranata
- há 5 dias
- 7 min de leitura
O aborto é um dos temas mais sensíveis e debatidos da atualidade. Ele desperta emoções intensas e opiniões divergentes, pois envolve não apenas questões políticas e sociais, mas acima de tudo, a dignidade da vida humana. No meio cristão, também é um assunto amplamente discutido. Muitos têm dúvidas, outros carregam marcas dolorosas de experiências passadas, e há ainda os que não sabem como responder biblicamente diante dos questionamentos que surgem no dia a dia. A boa notícia é que Cristo é suficiente: Ele é a verdade que nos guia e o consolo que restaura corações feridos.
No entanto, é importante lembrar que a nossa reflexão sobre o aborto não deve ser movida por polarizações políticas ou por divisões internas na própria igreja. O objetivo não é criar facções, mas buscar a verdade que vem de Deus, a qual nos conduz à santidade e fortalece a edificação do corpo de Cristo. A clareza sobre esse tema não deve servir para condenar ou apontar dedos, mas para nos guiar em amor, compaixão e fidelidade ao Senhor.
Neste editorial, caminharemos juntos por um princípio que é crucial para desmistificarmos e clarificarmos o assunto: Deus é o dono da vida! Todas os pontos referentes ao aborto podem descansar sob esse princípio libertador e confortador. Não precisamos ficar ansiosos correndo atrás de respostas, Cristo é a resposta! Além disso, trataremos de questões difíceis que desafiam nossas convicções e colocam à prova nossa fé, sempre com a certeza de que a Palavra do Senhor é suficiente para nos instruir e consolar.
Deus é o Criador da Vida, Ele Define o Seu Início
Uma das grandes confusões sobre o tema do aborto é a pergunta: “Quando começa a vida?” Essa questão tem sido amplamente levantada em debates políticos, acadêmicos e até mesmo dentro das igrejas, como se fosse nossa a responsabilidade de definir o ponto inicial da existência humana, e nos esquecemos de um ponto importante: nosso papel não é determinar, mas sim nos submetermos a Deus e ao que Ele definiu.
Quando partimos desse pressuposto, um facho de luz se abre diante de nossos olhos, pois a Bíblia é clara ao mostrar que o Senhor conhece cada ser humano desde o ventre e até mesmo antes da concepção. O salmista declara: “Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe” (Salmo 139.13). E ainda acrescenta: “Os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir” (Salmo 139.16). Jeremias também testemunha essa realidade quando ouve da parte de Deus: “Antes de formá-lo no ventre, eu o escolhi; antes de você nascer, eu o separei” (Jeremias 1.5).
Essas passagens revelam que a vida não começa a partir de critérios humanos, mas é conhecida e sustentada por Deus desde a eternidade passada. Ao relativizar o início da vida para justificar o aborto, o homem assume para si uma autoridade que nunca lhe foi dada e tenta usurpar um lugar que pertence somente a Deus.
Deus é o Criador da Vida, Ele Define o Seu Fim
E essa tentativa não reside somente em tentar definir o início, mas também o fim, como se a decisão pelo fim da vida fosse uma questão de “escolha pessoal”. Como se pudéssemos decidir pelo fim da vida de alguém. Muitos defendem a ideia de que a mulher tem autonomia plena sobre o seu corpo e, portanto, pode decidir sobre a vida que nele se desenvolve, reforçando o desejo por ser Deus e ter o controle completo sobre a sua vida e a vida do outro.
Contudo, em Deuteronômio 32.39 vemos uma forte declaração de Deus: “Vede agora que Eu, Eu o Sou, e mais nenhum deus além de mim; eu faço morrer e eu faço viver; eu firo e eu saro, e ninguém há que possa livrar-se da minha mão”.
Por isso, decidir pela morte de alguém — especialmente de quem é inocente e indefeso — nunca pode ser considerado uma opção moralmente aceitável. Ao contrário disso somos encorajados em vários momentos a zelar pela vida e em especial a dos indefesos. Em Provérbios 24.11 e 12, lemos: “Livra os que estão sendo levados para a morte, salva os que cambaleiam indo para serem mortos. Se disseres: Eis que não o sabíamos, por acaso não o perceberá aquele que pesa os corações? Aquele que guarda a tua alma não o saberá? E não retribuirá ele a cada um segundo as suas obras?”.
O aborto, portanto, não é uma simples “decisão particular”, mas um ato que viola a lei de Deus e transgride diretamente o Mandamento: “Não matarás” (Êxodo 20.13). Reconhecer que Deus é o dono da vida nos conduz à submissão e à responsabilidade de defender aqueles que não podem se defender por si mesmos.
Deus é o Criador da Vida, Ele Define os Seus Valores
Outra confusão comum é de que o valor de alguém já formado é maior do que a de um ser humano em formação. Aqui, também vemos o homem tentando definir algo já definido por Deus. Cada vida é preciosa e digna, pois todas são criadas à imagem do próprio Deus (Gênesis 1.27). Os pontos anteriores já nos prepararam para compreender este princípio com ainda mais clareza. Deus nos conhece desde a eternidade passada e dentro do ventre de nossa mãe.
Em Êxodo 21.22–25, provavelmente, um dos textos mais utilizados dentro desse assunto, tanto por quem defende quanto por quem condena o aborto. Porém, é claro que ali Deus estabelece uma igualdade entre a vida do feto e do ser humano já formado. Lemos que se alguém ferir uma mulher grávida e causar dano ao bebê, enfrentará consequências proporcionais ao ato: a vida do nascituro é protegida e valorada por Deus. Essa passagem deixa evidente que toda vida tem valor intrínseco, independentemente do estágio de desenvolvimento:
“Se homens brigarem, e ferirem mulher grávida,
de tal maneira que dê a luz prematuramente, porém sem que haja outro dano,
será multado conforme o marido da mulher lhe impuser,
e pago conforme a decisão dos juízes. Mas se houver dano grave,
então darás vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão,
pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe”.
Não se trata de uma questão de completude física ou de independência funcional. Reconhecer que Deus define os valores da vida deve nos mover não apenas a um posicionamento de fé, mas também a atitudes concretas de cuidado, defesa e compaixão.
Deus é o Criador e o Mantenedor da Vida, Mesmo em Cenários Difíceis
Contudo, estarmos convictos dessas verdades não significa que estaremos isentos de momentos difíceis, onde nossa confiança no Senhor será testada ao máximo. Casos delicados, como uma gravidez resultante de agressão sexual ou diagnósticos de doenças graves no bebê, certamente irão gerar sofrimento intenso e dilemas emocionais e espirituais, mas nosso Deus continua sendo o criador e o mantenedor da vida, esse é um outro princípio que precisamos ter enraizados em nossos corações.
Mesmo em cenários tão complexos, somos chamados a confiar, reconhecendo que Deus é o dono da vida e conhece cada situação antes mesmo de acontecer. Não estou minimizando ou tirando todo o sofrimento de cada situação, pelo contrário. Mas preciso relembrar de que a Bíblia nos oferece princípios que nos orientam, mesmo quando a decisão é difícil de ser tomada:
Deus conhece seus dias desde o ventre de sua mãe
“Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe.
Os teus olhos viram o meu embrião;
todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro
antes de qualquer deles existir.”
(Salmo 139.13 e 16)
Essa verdade nos lembra que, mesmo em momentos de dor ou incerteza, Deus já nos conhece, entende nossas lutas e tem propósito para cada vida. Não estamos sozinhos; Ele conhece cada detalhe de nossa história.
Deus é o nosso sustento bem presente na angústia
Mesmo diante do sofrimento, Ele é capaz de usar cada circunstância para nos fortalecer, nos consolar e nos guiar. Pode ser que não entendamos os propósitos de Deus de imediato, mas podemos confiar na Sua bondade e soberania (Romanos 8.28).
Deus fornece armas espirituais — oração, Sua Palavra, comunhão com irmãos — e recursos práticos por meio da igreja, para que possamos enfrentar o que parece impossível.
Além disso, 1 Coríntios 10.13 nos lembra: “Não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar”. Ou seja, com a ajuda de Deus, nunca seremos submetidos a algo que esteja além de nossa capacidade de suportar. Ele sempre nos dá forças para atravessar até os momentos mais difíceis.
Deus é o dono de qualquer diagnóstico
Cada vida é importante para Deus! Precisamos nos lembrar que ninguém é definido por sua condição física ou cognitiva. Por mais que as situações sejam difíceis, e certamente serão, o preconceito das pessoas ou o sofrimento, seja do bebê ou dos pais, não é suficiente para diminuir a importância do bebê ou da misericórdia de Deus.
E quando a mãe corre risco de morte?
Esse é um tema que precisa ser tratado com sabedoria e oração, sempre buscando preservar a vida em todas as suas formas. Preservar a vida da mãe em risco não é desvalorizar a vida do bebê, mas reconhecer que Deus é soberano e que, diante do mal inevitável, devemos buscar salvar a vida que pode ser salva.
Diante de realidades complexas, a Bíblia nos lembra que Cristo é o nosso consolo e a nossa esperança (Mateus 11.28–30). Ele nos sustenta, nos guia e nos oferece paz, mesmo nos momentos mais sombrios. Nossa responsabilidade como cristãos não é julgar, mas agir com amor, proteger a vida e confiar na soberania de Deus.
Defender a vida não é apenas uma questão ética ou legal; é um ato de obediência e fé, reconhecendo que cada ser humano, desde o ventre materno, possui valor inalienável diante de Deus. Ao enfrentarmos essas questões, somos desafiados a crescer em santidade, compaixão e fidelidade ao Senhor.
Que este editorial sirva, não apenas para esclarecer dúvidas, mas para nos lembrar de que em todas as circunstâncias a vida é preciosa e Deus está conosco, provendo consolo, sabedoria e forças para que possamos honrar e proteger o dom da vida, confiantes de que Deus cuida de cada detalhe, mesmo antes do nascimento.
Editorial de Rafael Ceron

Comentários