Pense num filme de espionagem. Em meio ao suspense e à ação, mergulhamos num mundo onde as pessoas não vivem pelas regras e fazem de tudo para terem o que querem. São pessoas inescrupulosas, capazes de coisas que nos chocam à medida que a classificação indicativa do filme aumenta, levando-nos a imaginar o que deve acontecer na realidade desse mundo paralelo em que elas parecem viver.
No entanto, dificilmente somos altos oficiais do governo, conhecedores de grandes segredos de Estado, alvos de uma rede de espionagem inimiga. Por essa razão, vivemos com certa tranquilidade, não nos preocupando tanto com o que acontece a nossa volta, nunca imaginando que podemos estar vivendo numa cena de espionagem de um filme. E isso também se aplica ao que acontece em nossa mente.
A realidade é que vivemos em meio a um conflito constante e muitas vezes silencioso com um agente infiltrado em nós mesmos: nossa carne (Gálatas 5.17). Ela investiga cada área de nossas vidas para identificar nossas vulnerabilidades, observa nosso procedimento em detalhes. Esse agente hostil se mostra inicialmente como um amigo, como alguém que se interessa por nós. Oferece ajuda para deixar a nossa vida mais agradável, fácil e confortável. Aos poucos, aquilo que ela oferece se torna algo não só desejável, mas necessário. Colocamos nesta vida tranquila e prazerosa nosso coração. É aqui que a carne começa a fazer exigências e aquele aparente amigo que estava se aproximando mostra a que veio. Não são informações confidenciais de nosso local de trabalho que ela deseja em troca de alguns milhões de dólares, ela pede nossa vida. Em outras palavras, a carne quer que pequemos.
Para tanto, ela sutilmente nos mostra que as consequências de seguir a Cristo levam a uma vida muito difícil e que o resultado de abandonarmos o pecado são perdas grandes demais em nossa satisfação, não valendo o custo. Coloca-nos num emaranhado de intrigas do qual a cada dia que passa torna-se mais difícil de nos livrarmos.
Diante de tudo isso, somos tentados a fazer as pazes com esse agente inimigo, colaborando com ele em sua missão. E o cessar fogo tem como condição abrir mão de princípios, inclinando-nos ainda mais para carne (Romanos 8.5). É uma paz que nos acomete sem nos fazer odiar o pecado, permitindo-nos continuar amando o mundo (1 João 2.15). Ou então uma paz simplesmente lógica, cujo o objetivo final é tê-la e não o reconciliar-se com Deus. É uma paz gerada por nossos próprios pensamentos, quando nem mesmo ouvimos a voz de Deus, o doador da paz verdadeira (Salmos 85.8).
Só que essa paz não é real, pois a carne é, em si mesma, inimizade contra Deus (Romanos 8.7). Esse agente infiltrado sempre será uma ameaça, é um inimigo irreconciliável. Paulo mesmo mostra seu desespero ao escrever sobre a presença de tal inimigo (Romanos 7.24), sabendo de seu poder para o mal (Romanos 7.18). Assim, nosso papel como cristãos é lutar essa guerra, fugindo da falsa paz que nos é oferecida. Não podemos mais conviver pacificamente com o pecado (1 João 3.9) e, apesar de ele ser um agente poderoso, temos um Salvador que é muito mais forte. É somente olhando para Ele que podemos sair vitoriosos dos constantes ataques do pecado:
“Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo o peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra de Deus.”
Hebreus 12.1-2
Não há um minuto sequer nesta vida que a guerra contra o pecado cessa, apesar de ser exatamente isso que a carne deseja que pensemos. Portanto, somos por toda a Escritura desafiados a estarmos alertas (1 Coríntios 16.13 e 2 Pedro 3.17):
“Vigiai e orai, para que não entrei em tentação;
o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.”
Mateus 26.41
A segunda parte desse versículo nos enche de esperança! Desde o momento em que fomos convertidos ao senhorio de Jesus Cristo, temos já todas as armas do Espírito para combatermos (e vencermos!) a carne. Apesar de ser de nossa total responsabilidade o lutar contra a carne, as armas para tanto já nos foram entregues, permitindo-nos não viver mais segundo a lei do pecado:
"Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte;
mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis.”
Romanos 8.13
Matar a carne custa caro, mas não é algo que podemos nos dar ao luxo de não fazermos. É de nossa total responsabilidade usarmos todos os recursos que temos para nos livrarmos do pecado e da morte espiritual que ele traz. Não se deixe abater pensando que a presença deste agente por si só já é uma vitória para ele. Nós temos tudo o que é necessário para semearmos para o Espírito nos livrando da corrupção da carne (Gálatas 6.8), crucificando diariamente aquilo que nos faz pecar (Gálatas 5.24) para trazermos glória a nosso Deus!
Editorial de André Negrão
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