top of page

Aprendendo a Depender

Atualizado: 30 de ago. de 2023

Existe a ideia de que a ajuda é necessária somente quando se deseja fazer algo ou por causa de alguma coisa feita a nós. Gênesis mostra que o ser humano, até mesmo antes do pecado, é carente de auxílio, necessitando de ajuda para existir e viver. Isto está evidenciado na criação do homem: “Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gênesis 2.7 – ênfase do autor), e na formação de sua auxiliadora: “...far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea” (Gênesis 2.18 – ênfase do autor).


Tendo em mente que o ser humano foi criado para ser dependente, pois não tem as condições naturais e espirituais necessárias para viver de forma isolada, seria totalmente compreensível que se recorresse à ajuda tanto de Deus como das demais pessoas que estão ao seu redor.


Além disso, não é necessário muito tempo para se chegar à conclusão de que existem muitos assuntos nos quais não somos peritos. A observação das falhas e dos insucessos ao longo do tempo deixa claro que não possuímos todas as habilidades, quer sejam elas manuais, artísticas ou de outra natureza.


A Bíblia, por sua vez, nos apresenta um Deus que é conhecido como um “Deus que ajuda”, um ajudador.


Davi conhecia esta característica divina e, diante do cenário de dificuldades que se apresentou a ele, buscou auxílio deixando clara a sua confiança e o seu conhecimento de quem viria a resposta e solução para a sua necessidade.


“Pois contra mim se levantam os insolentes, e os violentos procuram tirar-me a vida;

não têm Deus diante de si. Eis que Deus é o meu ajudador,

o Senhor é quem me sustenta a vida.”

(Salmo 54.3 e 4 – ênfase do autor)


Em um outro ponto da narrativa bíblica, o Senhor se apresentou a Isaías evidenciando que não somente estava com ele, mas que também atuava de forma poderosa, fortalecendo, ajudando e sustentando o profeta em todos os momentos.


“Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus;

eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel.”

(Isaías 41.10 – ênfase do autor)


Diante destas claras menções do auxílio divino em contraste com a condição humana de evidente necessidade, se apresenta uma pergunta pertinente: Por que temos tanta dificuldade em pedir ajuda?


Paul Tripp, em seu devocional Help Wanted¹, menciona duas mentiras nas quais acreditamos: a primeira é a autonomia, que consiste no direito de fazer o que bem queremos — quando, onde e como queremos. A segunda é a autossuficiência, que alega que temos dentro de nós tudo o que é necessário para realizar qualquer coisa que desejamos.


Repetidamente, atendemos à sugestão de Satanás (a mesma do jardim): “Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gênesis 3.5 – ênfase do autor). Cultivamos a ideia de que podemos viver de forma orgulhosa, sem recorrermos ao Criador, dirigindo nossas vidas sozinhos de forma teimosa, tomando decisões à nossa maneira e nos apoiando em conhecimentos, habilidades e senso crítico que pensamos possuir.


Sendo assim, como podemos crescer como pessoas que ajudam e são ajudadas?


A Bíblia nos mostra que a comunhão, tanto vertical (Deus) quanto horizontal (pessoas) é a proposta divina para pedirmos e recebermos toda a ajuda necessária para vivermos a nossa vida.


No que se refere à comunhão vertical, devemos expor nossas fraquezas, limitações e pedidos de ajuda a Deus como demonstração da nossa condição de fragilidade e dependência. Para isso, a oração é apresentada como canal livre para termos acesso à presença do Senhor e a contarmos com a ajuda dEle a todo o tempo, como descrito pelo escritor de Hebreus: “Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hebreus 4.16). Essa ideia é reafirmada por Paulo em Filipenses 4.6: “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças”.


Já na perspectiva horizontal, devemos disciplinar o nosso coração — que na maioria das vezes se mostra altivo, orgulhoso e reticente em pedir ajuda, exemplificando a insensatez descrita no livro de Provérbios: “O solitário busca o seu próprio interesse e insurge-se contra a verdadeira sabedoria. O insensato não tem prazer no entendimento, senão em externar o seu interior” (Provérbios 18.1 e 2). O objetivo de nos disciplinarmos é nos tornarmos dispostos a cultivar relacionamentos nos quais seja possível compartilhar com outros irmãos os nossos motivos de oração, quer sejam eles circunstâncias pelas quais passamos, quer sejam aspectos do coração e dificuldades em nossa vida espiritual.


Compartilhai as necessidades dos santos; praticai a hospitalidade;

abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis.

Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram.

Tende o mesmo sentimento uns para com os outros; em lugar de serdes orgulhosos, condescendei com o que é humilde; não sejais sábios aos vossos próprios olhos.”

(Romanos 12.13–16 – ênfase do autor)


Além disso, como decisão intencional contra o orgulho, devemos solicitar conselhos de irmãos mais experientes e sábios (Provérbios 11.14), bem como devemos nos exortar para termos uma constante motivação para a prática das disciplinas cristãs durante nossa caminhada (Hebreus 10.24 e 25).


Finalmente, devemos sempre nos lembrar do Evangelho, que escancara a nossa necessidade de ajuda e da graça de um Deus ajudador, que veio a nós em graça e misericórdia, nos dando o que realmente precisamos e que jamais seríamos capazes de conquistar.


Editorial de Neemias X. P. Santos


bottom of page