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As Bem-aventuranças: Os Misericordiosos

As primeiras quatro bem-aventuranças focam em princípios internos, que se relacionam com a nossa situação perante Deus. Nesta semana, iniciamos um novo conjunto de princípios também internos, mas que têm implicações diretas em como nos relacionamos com as outras pessoas. De certa forma, podemos considerar essas outras bem-aventuranças como frutos das anteriores.


A partir disso, podemos assumir que a misericórdia procede de um espírito humilde (Mateus 5.3), consciente da gravidade de seus pecados (Mateus 5.4), manso (Mateus 5.5) e que tem fome e sede da justiça de Deus (Mateus 5.6).


O que é misericórdia?


Para entendermos esse importante conceito bíblico, podemos iniciar analisando a sua fonte: o amor.


“Mas Deus, sendo rico em misericórdia,

por causa do grande amor com que nos amou,”

(Efésios 2.4)


A causa da rica misericórdia de Deus é justamente o Seu grande amor para conosco. A maior prova desse amor foi o sacrifício de Cristo em nosso lugar (Romanos 5.8), o qual resultou no perdão completo de nossos pecados. Dessa forma, o perdão é proveniente da misericórdia, que, por sua vez, é oriunda do amor.


A misericórdia também está intimamente ligada à compaixão, o que podemos ver em diversas descrições do próprio Senhor Deus ao longo das Escrituras (2 Crônicas 30.9; Isaías 30.18; Joel 2.13; Jonas 4.2). De forma geral, a misericórdia é a compaixão direcionada a alguém passando por necessidade, ou seja, é a compaixão em ação. Como Davi coloca no Salmo 51, a misericórdia de Deus é proveniente de Sua compaixão.


A misericórdia de Deus age de forma a perdoar, curar, confortar, aliviar o sofrimento e cuidar daqueles que passam por necessidades. Todas essas ações são frutos da compaixão, isto é, de reconhecer o sofrimento dos outros, relacionando-se com eles, o que resulta em um agir com misericórdia.


O que não é misericórdia?


“Pois misericórdia quero, e não sacrifício,”

(Oséias 6.6a)


Muito mais do que práticas religiosas puramente, Deus deseja que nossa devoção a Ele seja expressa na forma com que tratamos as outras pessoas. Por isso, Jesus cita este versículo de Oséias em Mateus 9.13, ao responder aos fariseus, cuja vida espiritual se baseava muitas vezes em externalidades.


Semelhantemente, Jesus se refere novamente aos fariseus e escribas, quando coloca a misericórdia — juntamente com a justiça e a fé — como os “preceitos mais importantes da Lei” (Mateus 23.23), em oposição aos dízimos de especiarias que eles davam.


Ou seja, um dos grandes inimigos da misericórdia são detalhes muitas vezes triviais que nos levam à intolerância e à intransigência para com os outros. Em vez de nos preocuparmos com trivialidades, o desafio que Jesus coloca é focarmos naquilo que é mais importante nos mandamentos de Deus. Qualquer prática religiosa pode se tornar uma trivialidade se não estiver alinhada com tais preceitos (misericórdia, justiça e fé), transformando-se em algo que, em vez de nos aproximar de Deus, distancia-nos.


Como ser misericordioso?


A conhecida parábola do bom samaritano foi proferida por Jesus com o objetivo de explicar a um intérprete da Lei quem era o seu próximo. Ela também serve como um bom exemplo para entendermos alguns aspectos do caráter do misericordioso.


Após certo homem ter sido atacado por salteadores em seu trajeto entre Jerusalém e Jericó, deparamo-nos com o seguinte relato:


“Certo samaritano, que seguia o seu caminho,

passou-lhe perto e, vendo-o, compadeceu-se dele.”

(Lucas 10.33)


Em primeiro lugar, o misericordioso vê o sofrimento de perto. Em segundo lugar, ele responde a esse sofrimento internamente com compaixão. Mas o misericordioso não para por aí:


“Então, aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo.

Em seguida, colocou-o sobre seu próprio animal,

levou-o para uma hospedaria e cuidou dele.”

(Lucas 10.34)


Em terceiro lugar, o misericordioso responde externamente com esforços práticos para aliviar o sofrimento do próximo. E, por fim, em quarto lugar, notamos que tudo isso não se limita a amigos e pessoas próximas, mas é aplicável a qualquer um, até mesmo a “inimigos”, como os judeus e samaritanos da época comumente se consideravam.¹


Qual o resultado de agir com misericórdia?


Conforme a própria pergunta do intérprete da Lei (Lucas 10.25), a qual levou Jesus a contar a parábola, a misericórdia faz parte do caminho para herdarmos a vida eterna (Lucas 10.28). Isso vai de encontro justamente ao texto base deste editorial:


“Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.”

(Mateus 5.7)


Somente ao alcançarmos a misericórdia de Deus é que somos capazes de herdarmos a vida eterna. A misericórdia de Deus no dia do juízo será dada a todos aqueles que amarem a Deus (de todo o coração, de toda a alma, de todas as forças e de todo o entendimento) e o próximo como a si mesmo, algo que somente quem crê nEle é capaz de fazer e, portanto, de ter a vida eterna (João 6.47).


Editorial de André Negrão Costa

¹https://www.desiringgod.org/messages/blessed-are-the-merciful

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