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As responsabilidades do discípulo

Atualizado: 17 de abr. de 2020

Ser um discípulo é seguir a Cristo, imitando-O ao longo de um processo de transformação de acordo com o Seu caráter. Por isso, o discipulado encontra sua base na vida, mensagem e obra de salvação de Jesus Cristo. Com a base do discipulado estabelecida (vide editorial A base do discipulado), nossa atenção se direciona para as responsabilidades envolvidas no discipulado. Sim, responsabilidades são um tema presente na vida do discípulo. Para entendê-las, pense no exercício de responsabilidades em círculos de relacionamentos. Partindo da vida pessoal do discípulo até “os confins da Terra”, podemos apontar três grupos de responsabilidades do discípulo: pessoais, comunitárias e externas.


Responsabilidades pessoais

São as responsabilidades relacionadas ao cuidado pessoal do discípulo. As responsabilidades pessoais descrevem a conduta do seguidor de Jesus Cristo referente ao seu relacionamento com o Mestre Jesus. São práticas relacionadas às disciplinas espirituais, que estabelecem os meios para o crescimento do discípulo. Pense assim, se discipulado tem a ver com um processo de transformação de acordo com o caráter de Cristo, temos que nos perguntar quais são as práticas que irão amparar a maturidade espiritual vista na transformação do discípulo no caráter de Cristo. Por exemplo:


Oração. A oração é essencial para a vitalidade do relacionamento do discípulo com Jesus. É o meio pelo qual o discípulo fala com o Mestre enquanto desfruta de comunhão com Ele. A Bíblia traz inúmeras instruções sobre a oração, a começar pelos registros dos ensinos do próprio Jesus sobre oração (Mateus 6.5-15). A primeira geração de discípulos não só aprendeu com os ensinos de Jesus sobre oração, como também com Seu exemplo. Jesus orava com bastante frequência. Jesus orou em Seu batismo (Lucas 3.21); antes de escolher os doze discípulos (Lucas 6.12-16); depois de rejeição (Mateus 11.20-26); em momentos de necessidade (João 11.41, 42); na última ceia (Mateus 26.26, 27); logo depois da última ceia (João 17); no jardim do Getsêmani (Lucas 22.41-44) e até mesmo em Suas últimas palavras na cruz (Lucas 23.46). Os primeiros discípulos aprenderam a orar com Jesus e transmitiram o que aprenderam às próximas gerações de discípulos (1 João 1.1-4). Tão logo, a oração foi ensinada e praticada pelos apóstolos (1 Tessalonicenses 5.17; Colossenses 1.9) e tornou-se regular no cristianismo primitivo (Tiago 5.16).


Meditação na Palavra. Se a oração descreve a via de comunicação com Deus, a meditação na Palavra abrange a comunicação de Deus para os discípulos. Mais uma vez, encontramos em Jesus um exemplo de meditação na Palavra. Jesus conhecia a Palavra de Deus como resultado de um processo de internalização das Escrituras em Seu coração, Ele cresceu em estatura e sabedoria (Lucas 2.52). Jesus conhecia a vontade de Deus expressa em Sua Palavra, demonstrando seu uso no momento em que foi tentado (Mateus 4.1-11) e corrigindo fariseus e escribas (Mateus 5.21-26). A importância que Jesus deu à Palavra de Deus foi transmitida para Seus discípulos (João 14.21; 15.3; 1 João 1.1-4), recebida com fé (2 Pedro 1.16-21) e sempre enfatizada no ministério dos apóstolos (2 Timóteo 3.14-17) e da igreja primitiva (Colossenses 3.16).


Crescimento. O discípulo tem a responsabilidade de crescer e amadurecer. Sem dúvida, quem dá o crescimento é o Senhor (1 Coríntios 3.6), mas a responsabilidade do crescimento na graça e no conhecimento de Jesus é do discípulo (2 Pedro 3.18). A Bíblia afirma os dois sem a preocupação de "conciliar" aparentes contradições. O crescimento espiritual é obra do Senhor e somos chamados a crescer. Negar qualquer um dos dois trará distorções do plano divino para o discipulado. Negar o agir de Deus criará fariseus confiantes de seus esforços e com a alma cansada. Negar as responsabilidades em seguir Jesus criará libertinos de uma ética distante de Jesus. É responsabilidade do discípulo "desenvolver a salvação com temor e tremor" (Filipenses 2.12), convicto de que o Senhor está agindo (Filipenses 2.13).


Responsabilidades comunitárias

Além de responsabilidades pessoais, o discípulo foi chamado para viver em comunidade: a Igreja (Efésios 2.19-22). Vida cristã é um compromisso individual, mas não pode ser vivido fora de uma comunidade (1 João 1.7). Inclusive, é um mandamento que os discípulos de Jesus congreguem com frequência, numa prática de estímulo ao amor e às boas obras (Hebreus 10.24, 25). No contexto da comunidade chamada igreja, os discípulos têm responsabilidades uns com os outros. São responsabilidades relacionais exercidas no contexto da comunidade.


Serviço. Mais uma vez, um estilo de vida marcado por serviço brota na obra e mensagem de Jesus (Marcos 10.45; João 13.1-20). Serviço cristão marca o discípulo que vive além de si mesmo, convicto de que o preço pago por Jesus o libertou para viver além de si mesmo (2 Coríntios 5.15; Efésios 5.1, 2). A salvação em Jesus liberta o discípulo das trevas e o coloca no reino do Filho do Seu amor (Colossenses 1.13). Esse reino é manifesto também na comunidade onde o discípulo serve. Nela suas responsabilidades individuais não têm apenas um fim em si mesmas, mas também tem o objetivo de equipar o discípulo para servir outras pessoas (Efésios 4.16). Sendo assim, serviço é responsabilidade do discípulo como manifestação de seu amor ao próximo (Mateus 22.37-40), visto de forma diversa com os dons dados a cada um dos discípulos (1 Coríntios 12).

Instrução. A instrução dos discípulos acontece no contexto de uma comunidade. Desde o início de Seu ministério, Jesus escolheu um grupo para discipular (Lucas 6.13), sempre com a intenção de que esse grupo transmitisse a mesma instrução para as próximas gerações (Lucas 5.10; Mateus 28.18-20; 2 Timóteo 2.2; 1 João 1.1-4). Primeiramente, é responsabilidade do discípulo ouvir a instrução e colocá-la em prática (Mateus 7.24-27). O discípulo é responsável por ouvir uma mensagem espiritual que edifica e forma sua fé (Romanos 10.17). Discípulos também são responsáveis por instruir outros discípulos — alguns são designados para o ministério da Palavra de Deus (Efésios 4.11, 12), e todos são chamados a exercer a instrução mútua (Colossenses 3.16).


Exortação. De mãos dadas com a instrução, está a prática da exortação. A instrução trazida por Jesus apontava o caminho certo, obviamente confrontando o caminho errado que os discípulos viviam. Ou seja, Jesus exortou Seus discípulos enquanto os instruía (Lucas 12.22). E assim foi nas próximas gerações. Discípulos exortavam outros discípulos, até mesmo apóstolos (Gálatas 2.11). Discípulos têm responsabilidades comunitárias ligadas à atividade de exortação mútua para que o corpo de Cristo cresça (Hebreus 10.24, 25). Mas lembre-se, não se trata de ensinar ou exortar de acordo com preferências, mas de acordo com a Palavra de Deus (2 Timóteo 3.16, 17).


Responsabilidades externas

As responsabilidades pessoais equipam os discípulos para as responsabilidades comunitárias, e uma comunidade ativa cria o contexto para o exercício das responsabilidades externas. Discípulos vivem além de si mesmos, então, devemos esperar que as comunidades de discípulos sejam caracterizadas por uma atenção além de si mesmas também.


Missões. De forma simples, chamaremos de missões a atividade de fazer discípulos fora do contexto imediato, próximo e/ou cultural da comunidade. Uma das últimas ordens de Jesus para os discípulos foi justamente de fazer discípulos de todas as nações (Mateus 28.18-20). O plano divino envolve as nações desde o início da revelação divina (Gênesis 12.3), durante a história do Seu povo (Salmo 117.1, 2; Colossenses 1.3-6) e até a consumação dos séculos (Apocalipse 5.9, 10; 7.9). Como discípulo, você tem responsabilidades externas à sua comunidade de fé. Seu engajamento com missões é obrigatório e pode ser feito de inúmeras maneiras. Por exemplo, você é chamado a orar para que Deus levante mais obreiros (Mateus 9.38). Você pode se envolver financeiramente (2 Coríntios 8.1-4). Pode também se envolver com missões na prática da hospitalidade, tornando possível o trabalho missionário (3 João 5-8). E, obviamente, você pode se envolver INDO.


Testemunho. A adoração é uma responsabilidade pessoal e comunitária. Porém, a prática de boas obras no contexto da comunidade onde o cristão está inserido irá testemunhar de Cristo e levar pessoas a glorificar a Deus. Viver a prática das boas obras é o plano de Deus para cada um de nós, desde a eternidade passada (Efésios 2.10). Jesus nos chamou a viver essas boas obras a fim de que as pessoas venham a glorificar ao nosso Deus (Mateus 5.14-16). Foi exatamente assim que os discípulos viveram (Atos 2.42-47). São essas boas obras que nos foram dadas por Cristo para praticá-las, enquanto nos preparamos para encontrarmos com Jesus (Apocalipse 19.6-8).


Só pela graça

Ser um discípulo de Jesus é resultado da graça de Deus operando na vida de alguém. Essa graça também é o poder dado por Deus para cumprir suas responsabilidades pessoais, comunitárias e externas, evidenciando um povo zeloso de boas obras (Tito 2.11-14). Nosso desejo deve ser crescer no cumprimento de cada uma de nossas responsabilidades, como resposta a tão grande amor que Ele demonstrou por nós (2 Coríntios 5.14, 15). Essa é a vida abundante que Jesus nos prometeu, repleta de oportunidades de alegre serviço. Somos discípulos alcançados pela graça, portanto, sejamos responsáveis.


Editorial do Pr. Alexandre “Sacha” Mendes



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