Todos nós sentimos vergonha. Durante a vida passamos por situações em que ela é adequada e esperada, e também por situações em que ela não é apropriada de forma alguma. A vergonha quando não está em seu devido lugar pode nos controlar, nos causar imensa dor e tornar a vida miserável. Contudo, se adequada, nos faz sentir uma dor que nos move ao arrependimento e em direção a Deus. Portanto, devemos nos perguntar: o que é a vergonha? Quando a vergonha é apropriada? Quando ela não é apropriada?
O que é a vergonha?
Utilizando-se da definição de John Piper, vergonha é ''uma emoção dolorosa causada pela consciência da culpa ou das deficiências ou da impropriedade''.
A vergonha é causada pela culpa por termos agido de forma contrária ao dever. Por exemplo: você é demitido por justa causa por ter agido desonestamente. Sua família, seus amigos e sua igreja tomam conhecimento do ocorrido. Diante disso, você se sente dolorosamente envergonhado.
Para ilustrar a deficiência como uma das causas da vergonha, suponha que você seja o melhor corredor da sua região e que seja dedicado nos treinos. Você decide participar de uma corrida de 3 km representando a sua pequena cidade em uma competição de nível nacional e muitos amigos estão te assistindo. Porém, apesar dos seus melhores esforços, você termina a corrida com uma volta atrás. Você se sente envergonhado por não ter sido rápido o suficiente.
Considere agora a impropriedade: você é convidado para uma festa e chegando lá descobre que se vestiu de maneira totalmente inadequada para o evento. Isso gera vergonha por uma impropriedade no seu comportamento.
Esta definição tem por objetivo facilitar o entendimento de que existe a vergonha apropriada e a vergonha inapropriada. É apropriado que um funcionário desonesto se envergonhe, mas não é apropriado que um atleta dedicado sinta esta dor por não ter sido o melhor de todos ou uma pessoa que apenas não se vestiu da maneira esperada. A vergonha é, portanto, uma emoção dolorosa que pode ser apropriada ou não.
Quando a vergonha é apropriada?
O critério para uma vergonha apropriada precisa estar centrado no olhar de Deus para a situação e não na percepção humana. Se uma conduta desonra a Deus a vergonha é apropriada.
Deus espera isso:
“Então se lembrarão dos pecados que cometeram no passado e terão aversão de si mesmos por todas as coisas detestáveis que fizeram. Mas assim diz o Senhor Soberano:
Lembrem-se de que não farei tudo isso porque vocês merecem.
Ó meu povo de Israel, vocês deveriam se envergonhar profundamente de tudo que fizeram! Assim diz o Senhor Soberano: Quando eu os purificar de seus pecados,
farei que suas cidades voltem a ser habitadas e as ruínas sejam reconstruídas.”
(Ezequiel 36.31–33 – Ênfase do autor)
Deus espera de Seu povo uma disposição do coração que reconhece seus pecados e se envergonha por eles. A vergonha é apropriada à medida em que faz parte do arrependimento e da restauração do relacionamento com o Senhor. Essa é a função dela e não deve permanecer após isso. Uma disposição contrária revela a dureza de coração e atrai a disciplina amorosa de Deus sobre Seus filhos. Veja também os textos de 1 Coríntios 6.5; 15.34 para exemplos de uma vergonha apropriada.
Quando a vergonha não é apropriada?
A vergonha não é apropriada quando o nome de Deus não é desonrado. Quando não há pecado envolvido em nossas ''deficiências'' e ''impropriedades'' não devemos dar espaço para a dor da vergonha. Também não devemos sentir vergonha de algo bom (aos olhos de Deus), apesar de que isso seja possível: quando temos vergonha de testemunhar do Evangelho (2 Timóteo 1.8) ou quando nos envergonhamos diante do escárnio e do sofrimento por seguirmos os ensinamentos de Cristo (1 Pedro 4.16).
Colocando a vergonha em seu devido lugar
Há uma profunda inversão em nosso pensamento quando sentimos a vergonha inapropriada ou quando não sentimos a vergonha apropriada: estamos muito preocupados com a honra do nosso nome neste mundo e pouco preocupados com a honra do nome de Deus. Isso acontece quando tememos a opinião de homens mais do que a de Deus. Este desejo pela aprovação dos homens nos conduz a armadilhas (Provérbios 29.25), e pode nos fazer aplaudir atitudes desprezíveis e desprezar atitudes honradas.
Portanto considere:
As pessoas e atitudes que você valoriza revelam zelo pelo nome do Senhor?
As pessoas e atitudes que você desvaloriza revelam zelo pelo nome do Senhor? (Provérbios 8.13).
Qual é o verdadeiro motivo que te faz sentir envergonhado?
Não importa o quão forte e sábio você pareça diante dos homens se determinada atitude desonra a Deus. E não importa o quão fraco e tolo você pareça desde que o nome de Deus seja honrado. Este é o lugar seguro, pois aquele que confia no Senhor jamais será envergonhado (Salmo 25.1–3).
Editorial de Matheus Carneiro
Bibliografia
Piper, John. O poder purificador de se viver pela fé na graça futura. São Paulo: Shedd Publicações, 2009.
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