Propósito é o que nos move. Independentemente de qual seja o propósito de vida de cada indivíduo, é baseado nele que decisões são tomadas e atitudes são externadas. Que roupa usar, qual curso estudar, onde morar, com quem se casar, enfim, todas as decisões possuem necessariamente um motivador, um objetivo. Contudo, logo no primeiro capítulo da Bíblia na narrativa da criação (Gênesis 1.26–28), Deus em sua soberania já havia definido o propósito de vida para o homem, o de ser imagem e semelhança dEle.
À nossa imagem e semelhança
“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança;
e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado,
e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra.
E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra,
e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus,
e sobre todo o animal que se move sobre a terra.”
(Gênesis 1.26-28)
Ao longo deste capítulo inicial, é notório que Deus utiliza um padrão para a criação de todos os seres viventes. Ao criá-los, Ele menciona a seguinte frase: “Conforme a sua espécie”. Esta frase foi repetida por dez vezes durante a criação. Todavia, ao criar o homem este padrão é interrompido. Deus não utiliza a mesma referência. Agora, Ele usa a Sua própria imagem, deixando claro que o homem era diferente das demais criaturas.
Mas, o que significa ser à imagem e semelhança de Deus? Na época em que o Velho Testamento foi escrito, o contexto de guerras e conquistas era muito comum, por isso essa terminologia “imagem e semelhança” é utilizada nas Escrituras. Naquele período, era comum um rei de uma determinada nação conquistar o território de outro rei, expandindo assim seu território. Porém, como o rei não podia estar em dois locais ao mesmo tempo e precisava regressar para o seu país de origem, ele criava uma estátua de sua própria imagem para que todos vissem quem era o rei daquele local. Essa imagem era denominada de “imagem e semelhança”.
Ou seja, ser a imagem e semelhança de Deus significa que somos representantes visíveis de um Deus invisível. Em outras palavras, fomos criados por Deus e colocados no mundo para mostrar quem é o Rei desse lugar (Romanos 8.28, 29).
Entretanto, esta semelhança foi manchada pelo pecado no momento da queda. Desde então o homem procura redefinir o propósito pelo qual ele foi criado, assumindo um papel de criador e negando a sua natureza de criatura.
A imagem caída
À medida em que nos distanciamos de Deus, deixamos nosso status de criatura e passamos a nos enxergar como criador. Passamos a querer definir o que é bom para nós mesmos, desconsiderando a nossa verdadeira identidade.
Por vezes, criamos objetivos e os rotulamos de motivadores para continuarmos a caminhar, tirando Deus do foco. Colocamos dinheiro, família, trabalho ou qualquer outra coisa no lugar que deveria ser ocupado somente por Deus. Transformamos aquilo que é santo em profano. E quando Deus não é o foco, nossas atitudes não irão refletir a imagem dEle. Somos conformados à imagem daquilo que buscamos (Salmo 135.15–18).
Por exemplo, se colocarmos a carreira de músico como o propósito de nossas vidas, nosso dia a dia será balizado por este propósito. Nos submeteremos a ensaios exaustivos, compareceremos a eventos que promovam a música, workshops e tantas outras coisas. O fim pelo qual vivemos nossas vidas irá definir todos os meios.
Ídolos do coração
Não é à toa que este tema faz parte do grande Sermão do Monte. Há um grande cuidado de Deus com relação ao nosso coração, uma vez que dele procedem os maus desígnios (Mateus 15.1–20).
A autora Elyse Fitzpatrick, em seu livro “Ídolos do coração”, escreve a seguinte frase de João Calvino: “O coração do homem é uma fábrica de ídolos”.
Nossa natureza caída anseia por um propósito, por um ídolo nessa vida terrena. E infelizmente, ele procura suprir esse anseio fora da pessoa de Jesus Cristo. Naturalmente somos inclinados à idolatria, seja a imagens ou a realizações pessoais.
E o primeiro passo para matarmos os ídolos dos nossos corações é reconhecendo que não conseguimos matá-los, a menos que Deus interfira.
Um exemplo claro
A vida do apóstolo Paulo é um exemplo impressionante da ação do Senhor. Ao analisarmos a sua vida, percebemos que, de fato, o propósito de vida é aquilo que define todas as nossas atitudes.
Paulo, quando ainda Saulo, era conhecido como uma pessoa orgulhosa. Ele vivia por Roma e seu currículo era de um exímio romano. Estudou nas melhores escolas, teve os melhores mestres, perseguia cristãos (Atos 22.3, 4; 8.1-3), enfim, toda a sua trajetória foi marcada por um propósito, ser reconhecido. Saulo era orgulhoso e queria toda a glória para si. Contudo, Deus já o havia separado e o chamou para ser instrumento de Sua obra (Atos 9).
Paulo, quando chamado por Deus, deixou todas as suas velhas práticas e foi transformado pelo Espírito Santo. Pouco tempo depois de sua conversão, ele pregava o Evangelho e era perseguido por ser um Cristão. Agora, as pessoas conseguiam ver que ele já não era mais a mesma pessoa, pois seu propósito havia mudado.
Cristo, a verdadeira imagem
Assim como Paulo, Deus é quem transforma o nosso propósito. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus, com o propósito específico de representarmos a Deus e revelarmos Sua glória — tarefa que se tornou impossível por causa do pecado. Por isso, Deus enviou seu único Filho, Jesus Cristo, que é a perfeita e imaculada representação da glória do Deus Pai, para que nEle pudéssemos ter um novo coração, que nos possibilita viver para o propósito original para o qual fomos criados.
Precisamos entender que fomos criados à imagem e semelhança de Deus e tudo o que fizermos precisa ser feito para Ele. Quer comamos ou bebamos, devemos fazê-lo para a glória de Deus (1 Coríntios 10.31).
Deus está interessado em mais do que nossas atitudes externas — Ele também está preocupado com o nosso coração. Ele quer a nossa humildade e nossa dependência dEle, pois através de um coração humilde e contrito somos capazes de viver como representantes visíveis do Deus invisível — e de fato sermos à Sua imagem e semelhança. E isso é possível na pessoa de Cristo, pois “Ele é a exata expressão do Seu ser” (Colossenses 1.13–23).
Editorial de Rafael Ceron
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