Desde pequenos, começamos a ouvir das pessoas à nossa volta a pergunta: “o que você quer ser quando crescer”? Muitas vezes isso é fruto de uma preocupação sobre o nosso futuro e, ao mesmo tempo, o nosso sustento. Tentamos então nos preparar para esse futuro, na medida do possível, utilizando as oportunidades que vão surgindo e que, eventualmente, levam-nos a propostas de emprego nos mais variados ramos.
A depender de diversos fatores, tais propostas podem ser abundantes ou escassas, e aceitarmos uma delas pode ser uma tarefa difícil, até mesmo se só tivermos uma, já que o trabalho é um compromisso que influencia grandemente nossas vidas. É trabalhando que muitos de nós passamos a maior parte do tempo em que estamos despertos. Quando aceitamos uma proposta de emprego, aceitamos algo que definirá boa parte de nossa rotina, nosso padrão de vida, nossas amizades, nossas preocupações, entre tantas outras coisas.
Por isso, é importante refletirmos sobre o que buscamos em uma proposta de trabalho, pois isso mostra o que nossos corações valorizam e desejam para nossas vidas. Quando estamos procurando o primeiro emprego, ou tentando sair de uma condição de desemprego, muitas vezes nossos critérios mudam um pouco, pois não necessariamente temos muitas escolhas. Mas e quando já possuímos um emprego e novas propostas continuam surgindo? Devemos sair para, por exemplo, ganhar mais?
Fugir de tarefas difíceis
Um critério que podemos utilizar para avaliar uma proposta é a dificuldade do trabalho. Nossa natureza muitas vezes tende a ser preguiçosa e, dessa forma, procura fazer o mínimo necessário. Propostas que se apresentam como muito desafiadoras podem ser desconsideradas quando nos esquecemos que o “suor do rosto” é um elemento que o próprio Deus determinou para os nossos trabalhos (Gênesis 3.19).
O livro de Provérbios fala bastante sobre a preguiça e quão danosa ela pode ser. Por isso, temos de refletir se o desejo por conforto e facilidade não é uma manifestação de um coração preguiçoso. Um exemplo é que a falta de diligência pode, na verdade, levar a um trabalho mais penoso:
“A mão diligente dominará,
mas a remissa será sujeita a trabalhos forçados.”
(Provérbios 12.24)
E a realização pessoal?
E se a dificuldade da tarefa não é o que me preocupa, mas, sim, não me sentir realizado com o trabalho que tenho?
“Considerei todas as obras que fizeram as minhas mãos,
como também o trabalho que eu, com fadigas, havia feito;
e eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento,
e nenhum proveito havia debaixo do sol.”
(Eclesiastes 2.11)
Salomão responde a essa pergunta de forma categórica, dizendo que toda forma de trabalho, no fim das contas, é vaidade e não pode, por si só, trazer realização pessoal, já que ela, na realidade, vem do Senhor.
“Nada há melhor para o homem do que comer,
beber e fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho.
No entanto, vi também que isto vem da mão de Deus, pois,
separado deste, quem pode comer ou quem pode alegrar-se?”
(Eclesiastes 2.24 e 25)
É errado querer ganhar mais?
A própria realização proveniente do fruto do trabalho, que inclui o salário, vem dEle e, portanto, não pode ser buscada de forma dissociada. Sem dúvida, a remuneração é parte importante de uma proposta, até “porque digno é o trabalhador do seu alimento” (Mateus 10.10b). No entanto, a busca por salários maiores pode nos levar a tentações e ciladas:
“Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada,
e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas,
as quais afogam os homens na ruína e perdição.
Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males;
e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé
e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.”
(1 Timóteo 6.9 e 10)
O dinheiro é um senhor (com letra minúscula) muito cruel, que pode ofuscar o verdadeiro Senhor de nossas vidas (Mateus 6.24). Querer simplesmente ganhar cada vez mais pode ser perigoso, pois evidencia uma condição de coração que não necessariamente agrada a Deus. Ainda assim, é importante também considerar que suprir nossas necessidades, bem como as dos nossos, é parte importante de nossas vidas e que, quando não acontece de forma adequada, pode levar a outros tipos de tentações:
“Duas coisas te peço; não mas negues, antes que eu morra:
afasta de mim a falsidade e a mentira;
não me dês nem a pobreza nem a riqueza;
dá-me o pão que me for necessário;
para não suceder que, estando eu farto,
te negue e diga: Quem é o Senhor?
Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus.”
(Provérbios 30.7–9)
O equilíbrio deve ditar a nossa busca por recursos, sempre entendendo de quem eles são (Ageu 2.8) e a primazia dos tesouros espirituais (Mateus 6.19–21), até porque nada podemos levar desse mundo (1 Timóteo 6.7 e 8).
Os colegas de trabalho
Um aspecto por vezes negligenciado quando pensamos em mudar de emprego é o dos relacionamentos. Como passamos muito tempo trabalhando, as pessoas que colaboram conosco comumente se tornam próximas e, por isso, mais impactadas pelo nosso testemunho.
E isso leva tempo. Não é de uma hora para outra que uma pessoa irá compartilhar questões pessoais que podem ser solucionadas pelo Evangelho. Além disso, leva tempo para que as pessoas consigam ver como tratamos diversas situações sob a ótica divina. Ser estimado e respeitado a ponto de ser um modelo também leva tempo e isso é superior aos recursos financeiros que às vezes podemos ganhar ao trocar frequentemente de trabalho.
“Mais vale o bom nome do que as muitas riquezas;
e o ser estimado é melhor do que a prata e o ouro.”
(Provérbios 22.1)
Propostas vs. Propósitos
Por fim, lembremo-nos que, por trás da busca por boas propostas, estão os propósitos de nossos corações, que nem sempre são evidentes e fáceis de descobrir:
“Como águas profundas, são os propósitos do coração do homem,
mas o homem de inteligência sabe descobri-los.”
(Provérbios 20.5)
Muitas vezes buscamos nas propostas de trabalho soluções para nossas necessidades, deixando de colocá-las, pela oração e pela súplica, aos pés do Senhor (Filipenses 4.6).
Que ao refletirmos sobre o trabalho, possamos sempre nos lembrar de que o que mais importa são os tesouros do céu (Mateus 6.19–21) e que os tesouros sobre a terra vêm das mãos de Deus, o qual nos dá até mesmo enquanto dormimos (Salmo 127.2)!
Editorial de André Negrão Costa
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