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Fazei isso em memória de mim

Nos últimos passos de Jesus antes da crucificação, o Mestre reuniu seus discípulos para a comemoração da páscoa judaica que representava a libertação do povo hebreu, onde o sangue do cordeiro marcado nos umbrais das portas salvou a vida de seus primogênitos e acabou, definitivamente, com o cativeiro egípcio.


Chegando, pois, a hora da celebração, pôs-se Jesus à mesa junto com os discípulos para dar-lhes a notícia de algo novo, porquanto aquela não seria apenas mais uma tradicional realização da páscoa. Naquele momento, mesmo estando prestes a ser humilhado, escarnecido, torturado e morto, a alegria que Jesus nutria em seu coração e o desejo ardente de comer aquela Páscoa com seus discípulos, manifestaria, de forma mais pura e emocionante, o ápice do Seu infinito amor por todos eles (e também por nós). O único e verdadeiro amor que nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se Ele próprio maldição em nosso lugar (Gálatas 3.13).


Então, Ele tomou o pão em suas mãos e tendo dado graças, o partiu e deu aos seus discípulos, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isso em memória de mim (1 Coríntios 11.24). Naquele instante Jesus revela que, agora, Ele é o Cordeiro Pascal que seria imolado em favor do Seu povo e que o castigo que estava prestes a receber seria a única forma de eles serem, não somente salvos pelo imenso amor de Deus, mas, também, salvos da justa e santa ira de Deus.


Por semelhante modo, depois de haver ceado, Jesus tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue, fazei isto em memória de mim (1 Coríntios 11.25). Nada neste mundo, nem prata, nem mesmo o ouro, ou qualquer outra coisa corruptível, seria capaz de nos resgatar do nosso terrível destino: o inferno. Somente o precioso sangue de Cristo, como o de cordeiro sem defeito e sem mácula (1 Pedro 1.18, 19), que marcaria, definitivamente, as portas de nossas vidas, seria capaz de remover toda a nossa dívida e encravá-la, inteiramente, naquele madeiro maldito (Colossenses 2.14). Essa era a nova aliança, pelo sofrimento físico de Cristo, receberíamos alívio em nossa carne, Sua angústia nos traria refrigério, Sua aflição nos daria paz, pelo Seu desamparo, jamais seríamos abandonados e pela Sua morte receberíamos vida eterna.


Mas, repare que tanto após o ato de partir o pão, quanto o de tomar o cálice, Jesus ordena a seus discípulos: “FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM”. O Dr. R. C. Sproul, de forma interessante, sintetiza essa ordem de Jesus ao descrever que:


“Num sentido, o que Cristo disse foi: Sei que tenho sido o mestre de vocês por três anos. Fiz muitas coisas, algumas das quais vocês esquecerão, mas, o que quer que esqueçam, por favor, não esqueçam isto, porque o que experimentarão nas próximas vinte e quatro horas é a coisa mais importante que farei por vocês. Não esqueçam isto. Estarão lembrando de mim. Estarão lembrando da minha morte, o derramamento do meu sangue, o partir do meu corpo, que acontecerá amanhã. Por favor, não esqueçam isto” (SPROUL, R. C. O que é a Ceia do Senhor, pág. 22, Ed. Fiel, 2013).


Celebrar o evento da Cruz na Ceia é, portanto, uma atitude de obediência pela qual todos nós participamos do pão e do vinho para revivermos juntos a morte do nosso Salvador, ao mesmo tempo em que apontamos para a Sua volta. Porém, o ato de comemorarmos a maior prova do amor de Deus aos homens deve ser feito não porque fartar-se do pão e do vinho, nos torna bem-aventurados ou promove bênçãos de Deus em nossas vidas. Para que a Ceia do Senhor seja o que Jesus pretendeu que ela fosse, é preciso de algo a mais. Algo que singularize os verdadeiros cristãos. É preciso de FÉ, pois é somente ela que põe diante de Deus o homem vazio e nu, para que a Graça, mediada pela lembrança do Calvário, o encha com as bênçãos de Cristo e o cubra com o Seu precioso e milagroso sangue.


Quando festejamos a Ceia do Senhor com Fé em Jesus Cristo, em Sua obra, Pessoa e Palavra, celebramos a misericórdia do Pai e todas as Suas promessas compradas pelo sangue do nosso Salvador. Infelizmente, isso é algo que muitos cristãos ainda negligenciam e até ignoram. E é por isso que se fartam do pão, mas desprezam o irmão necessitado, recebem do cálice, mas brindam sem perdoar, dobram os joelhos, mas o coração permanece duro, seus lábios expressam pureza, mas a alma regurgita pecado. No íntimo, anseiam pela saciedade do memorial, mas, a indigestão decorre do fato de não discernirem a mesa do Senhor dos banquetes pagãos e, por isso, tornam-se réus do corpo e do sangue de Cristo, nosso Senhor.


Participar da Ceia do Senhor é, portanto, sentir a tristeza da lembrança de nossos pecados ser transformada na alegria de nos encontrarmos, espiritualmente, com o Cristo vivo e recebermos, dEle próprio, os benefícios sagrados do Pão da Vida, ao mesmo tempo em que nos guardamos de toda conduta que distorça ou macule essa ordenança, para que não desagrademos ao Pai, nem, tampouco, façamos cair sobre nós o Seu desgosto.


Editorial de Walter Feliciano



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