Honra & Preconceito
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Ao longo da história, a humanidade tem buscado desesperadamente definir seu próprio valor. Em vez de reconhecer que ele foi estabelecido por Deus, o ser humano tenta construir sua identidade a partir do orgulho — criando padrões de dignidade, classificando pessoas e determinando, segundo seus próprios critérios, quem merece respeito. Essa busca sempre esteve acompanhada por rupturas, guerras e destruição. Tais conflitos não nascem de “simples diferenças”, mas de uma rejeição profunda: a rejeição ao Senhor que concedeu honra e glória ao homem.
Esse orgulho é um dos grandes problemas da humanidade: a recusa em aceitar que nossa dignidade não provém de obras das nossas mãos ou de características arbitrárias, mas é dádiva do Senhor. Isso abre espaço para tentativas contínuas — e miseravelmente falhas — de ressignificar a existência, ao mesmo tempo em que alimenta uma covardia social: a incapacidade de assumir a responsabilidade dada por Deus, de amarmos o próximo como a nós mesmos (Mateus 22.39) e de considerarmos o outro superior a nós mesmos (Filipenses 2.3). Assim, ao rejeitar o valor concedido por Deus, o homem produz injustiça, desprezo e violência.
Por isso, as palavras do salmista nos conduzem a uma profunda reflexão: “Que é o homem para que dele te lembres?” (Salmo 8.4). Ao contemplar a grandiosidade da criação, ele reconhece que Deus concedeu ao homem uma honra imerecida — “de glória e de honra o coroaste” (Salmo 8.5). Essa dignidade não é combustível para a arrogância, mas fundamento para a responsabilidade: fomos criados para refletir a glória de Deus e exercer domínio justo sobre tudo o que Ele fez. Assim, o Dia da Consciência Negra nos recorda tanto a dor produzida por essa ruptura causada pelo orgulho quanto nos norteia a como devemos honra a toda criatura porque Deus as honrou.
A Honra pela Desonra
A negação dessa honra dada por Deus é o ponto de partida para toda forma de preconceito, rivalidade e opressão. Quando o homem rejeita a verdade de que foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1.26 e 27), ele inevitavelmente buscará outra base para definir seu valor — e ao fazer isso, criará também critérios para definir o valor do próximo. O coração orgulhoso, incapaz de se submeter, fabrica seus próprios padrões de grandeza: beleza, força, inteligência, cor da pele, posição social, poder econômico, performance ou qualquer outro critério passageiro. Mas toda vez que o homem decide redefinir o valor da vida humana, ele rebaixa o próximo e a si mesmo.
O que nos aponta para um ato de rebelião, e também de covardia. É mais fácil construir sistemas que exaltem alguns e silenciem outros do que reconhecer que, independentemente de raça, origem ou condição, todo homem carrega a marca da imagem de Deus e foi honrado por Ele. Assim, ao distorcermos os critérios do Criador, caímos em desonra diante dEle e diante dos outros.
Paulo descreve essa queda: quando os homens “mudaram a glória do Deus incorruptível” e “trocaram a verdade de Deus pela mentira” (Romanos 1.23,25), passaram também a desonrar seu próprio corpo, suas relações e sua visão do mundo. Em outras palavras, ao rejeitarmos a glória de Deus, perdemos a nossa. A desonra humana nasce da desonra ao Criador.
Por isso, toda forma de racismo, preconceito e violência nasce da mesma raiz: o orgulho que não aceita depender de Deus para definir quem somos.
Recuperando Nossa Honra e Glória em Cristo
Se a desonra nasce da rejeição a Cristo, a verdadeira restauração só pode vir por meio dEle. Em Cristo, vemos o cumprimento perfeito daquilo que Deus designou para o homem: o Senhor da glória (1 Coríntios 2.8) se fez homem, assumiu nossa fragilidade, e em obediência plena, refletiu perfeitamente a glória de Deus.
Aquilo que perdemos no Éden — a capacidade de refletir a honra e a glória concedidas por Deus — é restaurada na pessoa de Jesus. Jesus não apenas revela o valor do ser humano, mas o redefine a partir da redenção: nossa dignidade não está em nós mesmos, mas nAquele que nos transformou para sermos à imagem do Seu Filho (Romanos 8.29).
Em Cristo, Deus não apenas cura nossas feridas pessoais, mas também confronta nossos pecados pessoais e sociais. Ele destrói tanto a arrogância que exalta quanto a covardia que oprime, chamando-nos a um novo modo de viver:
reconhecendo a dignidade de cada ser humano;
servindo e amando ao próximo como a nós mesmos;
abandonando padrões humanos de grandeza;
e refletindo a justiça, misericórdia e verdade que vêm do Reino de Deus.
Honrados Para Honrar
Se em Cristo nossa dignidade é restaurada, então essa verdade precisa produzir um modo de viver coerente com o Evangelho. A honra que Deus nos concede não é abstrata, mas prática. A restauração que recebemos em Cristo confronta nosso modo de viver.
Primeiro, não podemos mais escolher quem merece ser honrado, dessa forma, nosso único débito para com os outros deve ser o amor (Romanos 13.8). Se Deus coroou todo ser humano de glória e honra (Salmo 8.5), negar essa honra a alguém é negar o próprio Deus.
Segundo, para conseguirmos aplicar o primeiro ponto, precisamos ser humildes e considerar os outros superiores a nós mesmos (Filipenses 2.3). Isso significa abandonar comparações, arrogâncias sutis e atitudes que diminuem o próximo.
Terceiro, o Evangelho nos chama à compaixão prática: “chorar com os que choram” e “carregar as cargas uns dos outros” (Romanos 12.15; Gálatas 6.2). Honrar é aproximar-se, ouvir, cuidar e participar da restauração de quem sofre.
Quarto, rejeitemos toda parcialidade e discriminação (Tiago 2.1). Isso exige vigilância sobre nossas palavras, preferências, escolhas e círculos sociais — confrontando qualquer forma de preconceito, ainda que sutil.
Por fim, somos chamados a sermos pacificadores (Mateus 5.9), agentes de reconciliação onde houver dor e divisão. Quem foi honrado por Deus passa a honrar; quem recebeu graça se torna instrumento de paz.
Assim, o Dia da Consciência Negra não é apenas memória de feridas, mas um chamado para vivermos a dignidade que Deus restituiu honrando aqueles que merecem honra. Honrados em Cristo, somos enviados a honrar. Restaurados pela graça, somos enviados a restaurar. Vivendo assim, refletimos Aquele que nos coroou de glória e de honra.
Editorial de Rafael Ceron

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