A ira é um dos pecados mais comuns em nossas vidas. Dificilmente você irá encontrar alguém hoje que não tenha tido um leve momento de impaciência com algo que fugiu a seu controle nesta semana ou até mesmo neste dia. Nossa ira demonstra um coração focado em coisas erradas, e que deseja ter tudo sob o seu controle para poder satisfazer seus desejos.
No livro de Jonas, vemos uma situação em que o próprio Deus pergunta sobre o estado de ira do profeta: “É razoável essa tua ira por causa da planta?” (Jonas 4.9). Na situação em questão, um verme havia ferido uma planta que Deus havia feito nascer por cima de Jonas, secando-a. A ira de Jonas demonstrava um desvio de foco tão grande, que Deus fez uma outra pergunta para ele:
“Tornou o Senhor: Tens compaixão da planta que te não custou trabalho,
a qual não fizeste crescer, que numa noite nasceu e numa noite pereceu;
e não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive,
em que há mais de cento e vinte mil pessoas,
que não sabem discernir entre a mão direita e a mão esquerda,
e também muitos animais?”
(Jonas 4.10, 11)
O verme havia tirado Jonas do sério, pois o fez perder um benefício que ele muito valorizava: a sombra. Entretanto, quando se tratava da vida dos ninivitas, Jonas agia com desprezo, pois não acreditava ser justo que fossem salvos. Ou seja, a ira está ligada também a nosso senso de justiça e esse é justamente o primeiro ponto de nossa reflexão sobre como a ira tira a nossa vitalidade, assim como tirou a de Jonas a ponto de até desejar a morte.
A ira não produz justiça
“Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus.”
(Tiago 1.20)
O primeiro motivo pelo qual a ira rouba nossa vitalidade é o fato de ela não produzir a justiça de Deus. Por mais que a ira seja uma de nossas respostas a uma situação de injustiça, ela não é capaz de revertê-la. Muito pelo contrário, muitas vezes a ira só piora essa situação.
A ira provoca contendas
“O iracundo levanta contendas, e o furioso multiplica as transgressões.”
(Provérbios 29.22)
Em vez de trazer justiça, a ira nos leva a contendas e transgressões. Por mais que seja possível não pecarmos quando nos iramos (Efésios 4.26), isto só ocorre se a ira é fruto de um zelo pelas coisas de Deus e não por nossos desejos e senso de justiça própria. As contendas são fruto justamente desses nossos desejos (Tiago 4.1) que, ao serem diferentes entre as pessoas, acabam por gerar divergências e ainda mais ira.
A ira acaba mal
“Deixa a ira, abandona o furor; não te impacientes; certamente, isso acabará mal.”
(Salmo 37.8)
Em razão das contendas, transgressões e suas consequências, não é difícil vermos em situações de nossas próprias vidas que a ira não costuma acabar muito bem. Ela fere pessoas, desfaz relacionamentos, gera prejuízos, entre tantas outras coisas que nos roubam a vitalidade, nos entristecem e nos destroem (Jó 5.2).
A ira nos deixa transtornados
“Irou-se, pois, sobremaneira, Caim, e descaiu-lhe o semblante.”
(Gênesis 4.5b)
Essa tristeza que a ira traz é capaz de fazer descair nosso semblante de tão transtornados que ficamos sob seu poder. E isto é, muitas vezes, visível para as pessoas ao nosso redor, como foi para Deus a respeito de Caim, que, por não ter tido sua oferta aceita por Deus, muito se irou. Isto o levou a uma grande transgressão contra Deus, o assassinato de seu irmão Abel.
A ira nos deixa sob o julgamento de Deus
A ira de Caim o levou a ser amaldiçoado por Deus (Gênesis 4.11). Esse julgamento severo do Senhor nos aponta para o Evangelho de Mateus:
“Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e:
Quem matar estará sujeito a julgamento. Eu, porém, vos digo que todo aquele que se irar
contra seu irmão estará sujeito a julgamento.”
(Mateus 5.21, 22a)
Neste texto, Jesus coloca em pé de igualdade a ira contra um irmão e o homicídio, que foi justamente o que Caim cometeu e pelo que foi julgado. Ficar sobre o julgamento de Deus é algo terrível, como o próprio Caim reconheceu ao afirmar: “É tamanho o meu castigo, que já não posso suportá-lo” (Gênesis 4.13b).
A ira nos afasta das pessoas
Além disso, a ira de Caim o afastou das pessoas com quem convivia, de sua família e de Deus. A ira nos distancia das pessoas, pois comumente elas não conseguem suportar viver perto de uma pessoa iracunda. Isso é evidenciado no contexto familiar em Provérbios:
“Melhor é morar numa terra deserta do que com a mulher rixosa e iracunda.”
(Provérbios 21.19)
Será que é melhor morar no deserto do que ficar perto de você?
A ira é pesada
“Pesada é a pedra, e a areia é uma carga; mas a ira do insensato é mais pesada do que uma e outra. Cruel é o furor, e impetuosa, a ira.”
(Provérbios 27.3, 4a)
A ira não é apenas insuportável para as pessoas à nossa volta, mas também para nós mesmos. Ela é um peso em nossas costas, é impetuosa e cruel. Viver sob o seu domínio é ver sua vitalidade ser roubada diariamente.
Para que possamos nos livrar disso, o primeiro passo é reconhecermos a razão que nos levou à ira. Se esta razão não é fruto do amor ao próximo ou a Deus, ela deve ser repensada, pois provavelmente estamos colocando-a na frente daquilo que realmente importa. Se você tem lutado com a perda de vitalidade cristã, não deixe de esquadrinhar o seu coração dando especial atenção à ira, este poderoso ladrão de nossa vitalidade.
Editorial de André Negrão Costa
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