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O Pastor do Salmo 23 – Parte I

Atualizado: 15 de fev.

 O livro dos Salmos tem sido uma fonte de consolo e conforto ao longo da história do povo de Deus. Seus autores inspirados pelo Espírito Santo registraram suas experiências de alegria, gratidão, lamento, aflição, confiança e louvor. Talvez seja por estas experiências comuns a todos nós que tornam os Salmos tão preciosos e amados.

 

Com o Salmo 23 não é diferente. Certamente é o Salmo mais familiar de todo o saltério, talvez a porção mais conhecida de toda a Escritura. Essa familiaridade às vezes pode ser danosa, pois é possível deixar de apreciar a beleza, a profundidade e a firme esperança que este Salmo entrega. Pessoalmente, ao longo de quase 40 anos caminhando com Jesus, este Salmo tem conquistado um lugar especial em meu coração. Nos momentos mais difíceis que experimentei, fui consolado e edificado por ele. Recebi conforto, esperança e uma nova visão de como o Senhor ampara Suas ovelhas. Este é um cântico de confiança no cuidado amoroso, gracioso e protetor do nosso Supremo Pastor.

 

Davi é o autor deste Salmo e sabemos que ele não teve uma vida fácil, e o Salmo reflete algumas dessas provações. “Caminhar pelo vale da sombra da morte” é uma realidade para muitos que experimentam tristeza profunda, depressão, a realidade de doenças, perdas seja no âmbito material ou entes queridos, enfim, a própria morte, sendo isto, nosso último inimigo.

 

Quando lemos nas Escrituras sobre os desafios que este rei enfrentou, o Salmo 23 ganha mais brilho: “O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará”.

 

Davi está afirmando que o Senhor, Aquele que é autoexistente, autossuficiente e Todo-Poderoso Criador é o seu Pastor. Há um relacionamento pessoal, há intimidade aqui. O Deus incriado é aquele que cuida, protege e supre todas as necessidades da ovelha, portanto, “nada me faltará”.

 

Interessante observar que o Salmo 23 é o único Salmo que nos ensina a chamar o Senhor de “meu pastor”. Os outros Salmos que chamam o Senhor de Pastor, o fazem como “nosso pastor” ou “Pastor de Israel”. Mas este Salmo também ensina cada um de nós a chamar o Senhor de “meu pastor”. Isso torna o relacionamento muito pessoal e íntimo. Não é que o Senhor seja o meu Pastor e não o seu. Pelo contrário, porque o Senhor é o nosso Pastor comunitário, cada um de nós pode confessar que este Senhor é também o Pastor pessoal de cada um.

 

No Antigo Oriente Próximo os reis eram conhecidos como pastores do seu povo, assim, confessar que o Senhor é o seu Pastor é declarar lealdade e a intenção de viver sob o reinado deste Rei-Pastor. Davi está declarando que somente o Senhor, Yahweh, é seu único Rei-Pastor e ele não declarará lealdade para ninguém mais.

 

A firme declaração de que Davi experimentou dificuldades em sua vida, é uma afirmação surpreendente. Perder seu melhor amigo Jônatas, perder um filho ainda bebê, perder seu trono, perder seu filho favorito Absalão: “Nada me faltará”. Como Davi pode dizer isso? Como podemos declarar essas verdades quando as dificuldades surgem?

 

Nos versículos seguintes, Davi menciona sete aspectos que o Senhor, como pastor, faz por ele e por nós.

      

Primeiro aspecto: o pastor nos concede descanso

 

“Ele me faz repousar em pastos verdejantes.”

 

Reconheço que não sou nenhum especialista em cuidar de animais, e por isso recorri a leituras sobre as ovelhas. Há características interessantes nessa analogia, que diga-se de passagem, é riquíssima. Veja, uma ovelha com medo jamais se deitará! Quando lembramos de Gênesis e daquele dia tenebroso quando Adão e Eva deliberadamente pecaram, está registrado que Adão ao ouvir a voz do Senhor disse: “...porque estava nu, tive medo, e me escondi” (Gênesis 3.10). Adão estava com medo porque havia pecado. O medo é um dos mais estranhos resultados do pecado.

 

Qual a solução para o medo? Jesus! Sim, Ele remove o medo, concede descanso, repouso e graciosamente oferece perdão para o pecador arrependido.

 

“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.”

(Mateus 11.28)

 

Uma ovelha somente se deitará quando estiver plenamente satisfeita. Note como este autor coloca a questão: significa que não ficarei descontente com meu quinhão; não ficarei desejando e ansiando por aquelas coisas que Deus me tem proibido, porque encontrarei meu todo, minha plenitude n’Aquele que é o meu Pastor. Meu conhecimento de que nada me faltará me dará contentamento. Lembram-se de como Paulo o expressou? Ele disse: "Mas é grande ganho a piedade com contentamento” (1 Timóteo 6.6). E é verdade, pois leva a uma alma quieta, confiante que "não faltará nada para mim". Uma das coisas fundamentais ao ofício e à profissão de um pastor é isto: paixão suficiente para providenciar que suas ovelhas tenham tudo de que carecem, e senso o bastante para evitar que elas tenham aquilo que as machucariam ou que as destruiriam. É esse o tipo de pastor, e o tipo de satisfação, que o cristão tem em Cristo, "Nada me faltará".¹

 

Segundo aspecto: o Senhor, como pastor faz, Ele supre com alimento

 

Pastos verdejantes apontam para abundância de comida. Nosso bom Pastor conduz Seu rebanho para lugares onde podem comer e se fartar e depois descansar. Uma ovelha jamais se deitará se estiver com fome. Ela ficará de pé comendo e não se deitará. A ovelha deitada é evidência de que está saciada.

 

A Palavra de Deus são os pastos verdejantes e recebemos alimento em abundância. Não somente isso, mas também experimentamos satisfação e deleite. A Sagrada Escritura é onde a alma deve se alimentar.

 

Terceiro aspecto: Ele conduz Suas ovelhas às águas tranquilas

 

“Leva-me para junto das águas de descanso.”

 

Ovelhas não podem beber águas agitadas e turbulentas. São tão frágeis que podem facilmente se afogar. Os rios que correm pelos wadis² seriam perigosos para as ovelhas. Elas poderiam cair, serem carregadas e se afogar. Assim, os pastores às vezes faziam uma pequena represa no barranco rochoso, formando um lago de águas paradas onde o rebanho podia descer facilmente das encostas e saciar a sede.

 

O Bom Pastor conhece Suas ovelhas e está atento às nossas fragilidades e portanto, nos conduzirá para águas mansas e tranquilas.

 

Podemos notar que a forma como as necessidades diárias das ovelhas é suprida diz muito sobre o pastor. Ele é dócil e conduz amorosamente as ovelhas.

 

No próximo editorial vamos trabalhar os demais aspectos daquilo que o Senhor, como pastor, faz por nós.

 

Editorial do Pr. Fábio Moreira 


¹ J. Douglas MacMillan, O Senhor nosso Pastor, São Paulo – SP: PES, 2003.

² Um rio, riacho ou leito de riacho. Muitos destes riachos fluem apenas sazonalmente e, portanto, são uma fonte de água não confiável. Wadis inclue Wadi Murabbaʿāt (a meio caminho entre Qumran e En-gedi) e Wadi Mukhmas (cuja fonte está nas colinas de Betel), dois lugares contendo cavernas onde importantes descobertas foram feitas. Outro exemplo é o Wadi Qelṭ em Jericó, três nascentes cujas águas fazem desta área um próspero oásis para a agricultura. John L. Gillman, ed. David Noel Freedman, Allen C. Myers, e Astrid B. Beck, Eerdmans dictionary of the Bible (Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans, 2000), 1363.

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