Não é incomum ouvirmos, mesmo entre os cristãos, a frase "o que vale é a intenção". Em alguns casos, embora não seja uma frase explicitamente dita, é uma realidade vivida.
De fato, as nossas intenções, que de forma mais profunda demonstram a nossa motivação, são importantes. Mais até do que importantes, elas são essenciais. No entanto, não é porque algo é essencial que ele é tudo o que importa. A atitude correta com a motivação errada caracterizam o legalismo, que, mesmo não parecendo, é um padrão egoísta que visa algum retorno. A motivação correta com a atitude erradacaracterizam o liberalismo, fruto da falta de temor ao Senhor e de sabedoria.
Numa busca incessante por motivações corretas, deixamos de enxergar o outro lado da moeda: Deus já determinou o que devemos fazer e como devemos fazer. De que forma, então, conciliamos esses dois conceitos?
A motivação é essencial
Deus se importa com a nossa motivação. Muito mais do que uma reforma comportamental, Ele quer restaurar os nossos corações. A história do jovem rico escancara a necessidade de termos os nossos corações transformados, enfatizando que Deus não quer somente uma parte de nós, mas que Ele nos quer por inteiro (Mateus 19.16-22; Marcos 10.17-22; Lucas 18.18-23). Ele busca adoradores que O adorem em espírito e em verdade (João 4.23-24), e isso só é possível se Ele transformar os nossos corações, nos dando novas vontades e motivações. A motivação correta é um aspecto tão importante, que a inexistência dela torna impossível adorarmos genuinamente.
A motivação não é tudo
O conceito de liberdade cristã tem sido compreendido equivocadamente hoje em dia. Nossa liberdade é da escravidão do pecado, não é essa libertinagem pregada pelo mundo, onde podemos e devemos fazer o que quisermos, desde que haja amor. Infelizmente, nós não temos muito claro o fato de que somos escravos de Cristo, e que, como tais, não somos autônomos. Nossa missão é dada pelo nosso Mestre, e não criada pelo que entendemos ser o melhor. Afinal de contas, se cada um adora a Deus do seu jeito, por que Nadabe e Abiú morreram por oferecerem adoração estranha (Levítico 10.1-7)? Se o que vale é a intenção do coração, por que Uzá morreu ao tocar na arca (2 Samuel 6.1-11)? Se o que vale é fazer a "obra de Deus", por que Saul foi reprovado quando ofereceu sacrifícios na demora de Samuel em chegar (1 Samuel 15.1-31)? E se Deus recebe qualquer tipo de adoração, por que Ele aceitou a de Abel e rejeitou a de Caim (Gênesis 4.1-7)? O que fazemos é tão importante quanto como fazemos e por que fazemos.
Cristo nos deixou o Seu exemplo
Devemos ter o mesmo sentimento que houve em Cristo (Filipenses 2.5). A palavra sentimento não abrange o tamanho do significado do que Paulo estava falando. A palavra atitude, vista em outras traduções, também não é a ideal, embora se aproxime mais. O que o apóstolo quer dizer é como que uma soma das duas palavras. É uma sabedoria prática, bem próximo do que chamamos de prudência. É ter a consciência da ação correta, a vontade de realizar a ação correta, e finalmente realizar a ação correta. De nada vale saber o que é certo e não ter a capacidade ou a vontade de realizar o que se sabe ser certo. Cristo sabia o que deveria fazer, e obedeceu ao Pai, exatamente da forma como Deus havia determinado (Filipenses 2.8).
O Evangelho é o caminho
Simplesmente entender tudo isso não irá resolver os nossos problemas. Na verdade, só irá colocar um peso sobre nós que não somos capazes de suportar. Mas Cristo, que nos deixou o exemplo, não é somente o nosso exemplo, mas também o nosso Salvador. Justamente por não sermos capazes de fazer tudo isso, Ele fez no nosso lugar, para tornar possível fazermos a obra que Deus planejou para nós. O evangelho não é somente a porta de entrada, mas todo o caminho. Não é aquilo que precisamos só para sermos salvos, mas também o que nos mantém firmes. Não é somente para incrédulos, mas para pecadores. O mesmo poder que ressuscitou Cristo dentre os mortos está disponível a nós hoje, para que vivamos vidas santas e agradáveis diante de Deus (Romanos 6.1-4).
A realidade dura e crua é que nós queremos saber o suficiente da Bíblia apenas para manipulá-la, mas não o suficiente para deixá-la nos transformar. Que Deus nos conceda temor para nos submetermos a Sua Palavra, buscando corações contritos e dispostos a servi-lO como Ele deseja!
Editorial de Gustavo Henrique Santos
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