top of page

Os Dez Mandamentos - Esculturas Mortas X Pedras Vivas

Atualizado: 24 de jan. de 2023

Um dos trabalhos mais perigosos da antiguidade era o dos escultores que serviam debaixo do jugo de um imperador. Nos museus que visitamos em nossos dias, passeamos devagar observando cuidadosamente estas estátuas imponentes e enormes, porém raramente pensamos no risco que esses artistas corriam ao produzi-las. Se eles não se atentassem exatamente ao pedido do imperador sobre o tamanho, aparência e majestade da estátua, poderiam perder suas regalias, ou pior, suas vidas.


Se é arriscado produzir uma escultura de um homem como o imperador, por exemplo, quão mais perigoso é fabricar uma imagem do único Deus Todo-Poderoso revelado nas Escrituras? Aquele que esculpe a imagem de um imperador terreno tem um ponto de partida, que é a aparência humana do governante. Porém, aquele que esculpe um ídolo e o chama de deus não têm ideia da aparência ou glória do Deus verdadeiro, pois o Deus da Bíblia é invisível e habita na luz inacessível a qualquer homem (1 Timóteo 1.17; 6.16).


Estamos em uma série de editorias sobre Os Dez Mandamentos com o objetivo de conhecer mais do nosso Deus único. Cada um dos Mandamentos revela mais do caráter de um Deus sábio, justo e amoroso. Hoje iremos refletir no segundo Mandamento registrado em Êxodo 20.4–6:


“Não farás para ti imagem de escultura,

nem semelhança alguma do que há em cima nos céus,

nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.

Não as adorarás, nem lhes darás culto;

porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso,

que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e

quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia

até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.”


1. Não adore esculturas mortas


Enquanto o primeiro Mandamento nos instrui quanto à necessidade de uma adoração indivisível ao Deus único, o segundo Mandamento trata da expressão externa desta adoração.


O texto proíbe que façamos ou adoremos qualquer imagem, seja ela para representar ao Deus verdadeiro ou um deus falso. É notável que na proibição do Senhor, Ele adiciona que não deva ser feito nada parecido “do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra”. O nosso Deus único se antecipa às nossas tendências pecaminosas de buscar na criação aquilo que somente o Criador pode dar. Com zelo por nós, Ele nos alerta como nossos olhos tendem a percorrer o céu, descendo pelo horizonte, até o profundo dos mares, procurando algo para adorar. É como se Deus dissesse: “Tudo que Eu criei é glorioso e belo, mas nada se compara a Mim! Por isso, não adore algo criado, nem faça uma imagem com base em algo criado para Me adorar”.


Diante do segundo Mandamento, alguns podem se questionar em relação ao tabernáculo. Será que os objetos sagrados do templo que Deus instruiu o povo a construir deveriam ser adorados? A resposta para esta pergunta é não! Os objetos sagrados do tabernáculo estavam relacionados a Deus e davam um senso de localização da Sua presença abençoadora. Mas eles não eram neles mesmos objetos que compartilhavam da natureza divina, como os ídolos supostamente eram para os deuses que eles representavam.


2. Conheça o Deus que é zeloso e misericordioso


O nosso Deus único também nos diz no segundo Mandamento que é zeloso e misericordioso. Algumas versões trazem a palavra “ciumento”, porém esta não é a melhor maneira de comunicar a ideia do texto original. O zelo de Deus se refere não a uma emoção, mas a uma atividade veemente e violenta, que brota de uma ruptura no laço pessoal exclusivo com o Senhor. O comentarista bíblico R. Alan Cole explica: “Isso não deve, portanto, ser visto como intolerância, mas exclusividade, e brota tanto da singularidade de Deus (que não é um entre muitos) quanto da singularidade de seu relacionamento com Israel. Nenhum marido que amasse verdadeiramente sua esposa suportaria compartilhá-la com outro homem: Deus nunca mais dividirá Israel com um rival”.¹


A expressão “visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração” (Êxodo 20.5), às vezes passa a impressão de que Deus puniria uma geração inocente por causa do pecado de uma geração predecessora. Porém, esta expressão se refere à determinação do Senhor de punir gerações sucessivas por cometer o mesmo pecado que aprenderam com seus pais. Ou seja, Deus estava dizendo que os filhos não poderiam fugir da culpa ao afirmarem que simplesmente estão fazendo o que aprenderam com os pais. Portanto, devemos considerar atentamente este alerta de Deus para aqueles que se envolvem com ídolos.


Mas em seguida temos um contraste muito belo, pois o mesmo Deus que visita a iniquidade dos pais nos filhos também “faz misericórdia até mil gerações” (Êxodo 20.6). De três a quatro gerações para mil gerações, revelando que o desejo mais profundo do nosso Deus único é mostrar fidelidade pactual para com o Seu povo. O comentarista bíblico Douglas Stuart acrescenta: “Nos versículos 5b e 6, a menção ao ’ódio‘ e ao ’amor‘ refere-se idiomaticamente à lealdade, não a atitudes emocionais ou sentimentais”.²


3. Ofereça sacrifícios através das pedras vivas


Começamos falando dos perigos de esculpir um ídolo e chamarmos de deus algo que nunca vimos e não temos ideia da magnitude. Mas uma outra razão possível para Deus ter nos dado o segundo Mandamento é que Ele já fez a Sua própria imagem, portanto não temos o direito de produzir uma cópia barata. É como se o Senhor tivesse “patenteado” Sua criação e qualquer um que crie uma imagem para representá-lO comete crime de plágio.


Vemos este conceito sendo descrito em Gênesis 1.27: “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Deus criou os seres humanos como representantes e vice regentes da criação, porém o homem se rebelou contra o Senhor e foi expulso do paraíso (Gênesis 3). A imagem de Deus no homem não foi destruída, mas foi manchada. Por anos a humanidade e até mesmo os anjos, aguardaram ansiosos pelo dia em que o Homem prometido viria e restauraria a imagem de Deus no homem, levando-o de volta ao paraíso.


Este Homem prometido é Jesus Cristo, o resplendor da glória e a expressão exata de Deus (Hebreus 1.3). Quando Jesus Cristo nasceu na plenitude do tempo, viveu uma vida sem pecado, morreu no lugar do homem pecador e ressuscitou triunfante sobre a morte. Jesus Cristo restaura a imagem manchada do homem, unido a Ele pela fé. O apóstolo Pedro descreve a realidade desta humanidade redimida por Jesus em 1 Pedro 2.4, 5:


“Chegando-vos para ele, a pedra que vive,

rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa,

também vós mesmos, como pedras que vivem,

sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo,

a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus

por intermédio de Jesus Cristo.”


Esta passagem une muitos dos conceitos vistos neste editorial, pois é somente o Senhor Jesus Cristo que é essa pedra eleita e preciosa para Deus. Aqueles que creem nEle se tornam pedras vivificadas, ou pedras vivas, sendo edificados para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus!


Que o Senhor nos conceda a graça de não adorarmos esculturas mortas, de conhecermos o Deus que é zeloso e misericordioso e de, sendo pedras vivas, oferecermos sacrifícios espirituais somente a Ele.


Editorial de Leonardo Cordeiro

¹ R. Alan Cole, Exodus: an introduction and commentary, vol. 2, Tyndale Old Testament Commentaries (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1973), 164 [Tradução livre do autor].


² Douglas K. Stuart, Exodus, vol. 2, The New American Commentary (Nashiville: Broadman & Holman Publishers, 2006), 454 [Tradução livre do autor].







コメント


bottom of page