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Pets Não São Pessoas

O tema é delicado como um poodle, polêmico como um pitbull e pode fazer mais barulho que um pinscher contrariado.

 

Se você chegar numa roda de conversa em um parque, clube ou no portão de saída de uma escola, e ouvir frases do tipo: “fizemos uma festinha de aniversário ontem para os bebês, trouxemos amiguinhos do condomínio e encomendamos até um bolinho preparado com ingredientes especiais para não fazer mal para o estômago e dentes deles, afinal são supersensíveis”. Antes de sair perguntando quem é o aniversariante, aguarde a conversa desenrolar um pouco mais. A dica é perguntar sobre os ingredientes do bolo. Caso tenha sido feito de chocolate e morango, certamente foi o aniversário de um filho (humano), mas se o bolo foi de carne especial, então o aniversariante é o outro “filho” (canino ou felino). Se a festa for mesmo para um pet, não faça cara de espanto. Sua reação de reprovação trará grande discórdia e a certeza de que teria sido melhor ter “dado uma mancada” com o filho humano do que com o “filho pet".

 

É bem provável que este editorial seria desnecessário há 20 anos, mas hoje, no século 21, ele é extremamente relevante. Não que a distorção dos papéis de um pet na família seja algo que nunca existiu, mas este tema “pegou carona” na crise familiar que se instalou com muita força em nossos dias. Papéis invertidos do homem e da mulher criaram um ambiente propício para que os pets fossem promovidos ao status de filhos. O processo de destruição da família é tão maquiavélico que nos escandalizamos (ou deveríamos nos escandalizar) quando invertemos o papel dos pets com o papel dos filhos, mas já nos conformamos dos homens virarem auxiliadores idôneos, enquanto as mulheres fazem o papel de provedoras do lar, estamos acostumados a ver filhos adultos infantilizados e superprotegidos, ou ainda casais que optam por não terem filhos. Casais homossexuais também engrossam a lista do caos familiar e também são responsáveis por grande crescimento de “filhos pets”.

 

Os chamados “pais de pet”, por exemplo, são os casais que optam por não ter filhos, ou solteiros que adotam cachorros, gatos, peixes, aves, roedores e até repteis para chamarem de “bebês”. Certamente esta é a distorção número um deste tema. Ter um “filho pet” é politicamente correto nos dias de hoje, sua imagem é associada a pessoas “do bem” que ganham aplausos sempre que postam seus cuidados maternos/paternos com fotos bem produzidas ou espontâneas de suas rotinas felizes e perfeitas. Seus passeios são sempre um grande evento, e a obediência dos bichinhos (por vezes aprendida pela terceirização de um adestrador) trazem orgulho e arrancam aplausos dos que estão por perto.


Os "pais de pets" ganharam nova terminologia, a de tutores de pets! Vejam só o aumento do grau de responsabilidade que este termo trouxe, afinal ter a tutela de alguém é algo previsto pelo Código Civil e implica em proteger pessoas que pela menor idade não tenham capacidade de tomar suas decisões. "Pais de pets" agora se autoproclamam tutores. A explicação passa pelo “objeto” pelo qual está sendo cuidado, ou seja, ao chamar o "pai de pet" de “dono”, entende-se que ele pode ser dono de qualquer coisa (objeto inclusive), enquanto um tutor de pet, entende-se que é tutor de um ser senciente, um ser com sentimentos. Acreditem a coisa está mais séria do que se pensa!

 

Numa análise superficial, segue uma lista de “vantagens” dos “filhos pets” sobre os filhos humanos: pets não fazem birra, pets não pedem presentes novos a cada ida ao shopping, pets não sentem ciúmes, pets não precisam de uma casa organizada para viver, pets não fazem tarefas diárias de escola, pets não argumentam suas atitudes incoerentes, pets não cobram que seus donos se retratem de um erro, pets não vão embora de casa na vida adulta deixando um passado de remorso e falhas, pets não têm a chance de escolher sua companhia ou sua distância, pets dependem 100% de seus donos, pets acatam suas vontades e gostos,  pets se enquadram à rotina de seus donos.

 

Posso afirmar, então, que os “filhos pets“ foram criados exclusivamente para a satisfação de seus donos. É uma explosão de egoísmo e comodidade. Tiago 3.16 nos alerta sobre o risco desta atitude: “Pois onde há inveja e ambição egoísta, aí há confusão e toda espécie de males".

 

Ser “pai de pet” em nada se assemelha à paternidade/maternidade que Deus criou. Pais cristãos experimentam uma vida com demonstração de amor aos filhos com muita renúncia, dedicação, instrução, correção, dividindo um relacionamento duradouro por várias etapas da vida, com vínculo que não acaba nesta vida, mas segue por toda a eternidade. É um chamado ao serviço humilde, e não à satisfação de desejos egoístas.

 

E a distorção não para por aí. Pessoas consideram os pets seus melhores amigos, e dizem que eles são “mais fiéis do que as pessoas”. Por vezes a intimidade é tanta que, na morte do pet, o luto vivido é maior do que o luto quando há a perda de um membro da família, tamanha a distorção de valores nos relacionamentos.

 

Ainda na linha da falha nos relacionamentos humanos existem aberrações modernas que fazem dos pets legítimos herdeiros por força de lei, transcritos nos testamentos milionários de seus donos que certamente tiveram nos filhos naturais ou familiares uma vida com experiências decepcionantes e traumáticas. Vale ainda destacar a fortuna gasta com um pet para se viver conforme o mundo “exige” hoje: uma infinidade de banhos, tratamentos, medicação, hospedagem, treinadores, babás, roupinhas, caminhas, vacinas, e acreditem, canal de TV pago para os pets relaxarem.

 

E eu poderia continuar citando uma porção de exemplos de como nossa sociedade perverteu os valores familiares por motivos egoístas, mas creio que esses já são suficientes. Versículos como o Salmo 127.5 parecem não valer mais: “Feliz o homem que tem muitos filhos, uma aljava cheia de flechas. Ele terá ajuda quando tiver de enfrentar seus inimigos no tribunal”.

 

A ideia de amar e servir ao próximo (Mateus 22.37–40) parece muito mais fácil de ser cumprida quando o “próximo” é um pet.

 

O problema nisso tudo é que Jesus não morreu na cruz por pets, mas por pessoas. O Evangelho é a mensagem que transforma pessoas pecadoras em discípulos de Jesus. A missão que Jesus nos deu foi de fazer discípulos (Mateus 28.18–20). Pessoas são, e sempre serão, o alvo dos nossos relacionamentos. São com as pessoas que desenvolveremos amizades, cresceremos em intimidade, praticaremos paciência, daremos e receberemos perdão, e acima de tudo serão o próximo a quem amaremos como a nós mesmos, seguindo a ordem do nosso Senhor Jesus Cristo escrita em Mateus 22.39. 

 

Entenda, não há nada de errado em gostar de cachorros, gatos ou outros animais, ou mesmo em tê-los. Mas há um problema enorme quando o nosso amor aos animais nos impede de amar pessoas. Pets não são pessoas, portanto, não devemos tratá-los como se fossem.

 

E para você que tem um "Rex", uma "Molly", um "Manteiga" ou uma "Fifi", reflita sobre estas questões:


  • Quanto tempo você dedica aos cuidados do seu pet?

  • Ele toma um tempo do seu devocional ou dos seus ministérios na igreja?

  • Quanto de dinheiro você gasta para mantê-lo saudável?

  • Não está deixando de contribuir mais para o Reino por conta de excessos com ele?

  • Qual o seu grau de envolvimento sentimental?

  • Perdê-lo seria algo insubstituível?

  • Cuida mais das necessidades do seu pet do que as necessidades do seu próximo?  

Editorial de Márcio Giffoni


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