Às vezes a menção de trabalho nos faz passar mal. Pensamos nele como uma maldição. Outras vezes, nossos olhos brilham tanto que podemos ver no trabalho um deus. Deus não criou o trabalho para nenhum desses objetivos. Ele criou o trabalho para refletir o Seu próprio caráter. E, porque Deus é bom, não criou o trabalho para ser um peso, mas para desfrutarmos dele e dos seus frutos, sendo fiéis às oportunidades que ele nos dá.
Por que precisamos trabalhar?
O Deus que criou o trabalho, trabalha. Ele trabalhou na criação e continua trabalhando hoje. Cristo veio à terra para realizar a obra de salvação. O Espírito Santo trabalha continuamente nos filhos de Deus os santificando. E naqueles que não O conhecem, atua abrindo o entendimento para a Palavra. Se Deus criou o homem a Sua imagem e semelhança (Gênesis 1.26-27), devemos imitá-lo, trabalhando e amando as pessoas ao servi-las com o nosso trabalho. Além disso, o trabalho é a forma que Deus determinou para tirarmos o nosso sustento. Portanto, ao contrário do que muitos pensam, o trabalho não é fruto da queda do homem; as dificuldades que enfrentamos no trabalho sim. A vocação do ser humano é trabalhar para expandir o Reino e a Glória do Criador por toda a criação, sujeitando, cultivando e guardando a terra. Trabalhamos para o Rei, e isso muda tudo! A pessoa para quem trabalhamos é mais importante do que aquilo que fazemos, então o nosso trabalho “secular” na verdade é apenas uma área da nossa vida cristã, que deve ser vivida para a glória de Deus.
O que é trabalho?
Trabalho é adoração (1 Coríntios 10.31). Não conseguimos honrar a mensagem do evangelho no nosso trabalho sem saber para quem estamos trabalhando. Não importa quem seja o seu chefe aqui na terra, seu chefe sempre será Deus de forma final. A pessoa para quem trabalhamos é mais importante do que as nossas atividades. Isso não significa que devemos parar com nossas obrigações no escritório para cantar louvores a Deus; significa cumprir com nossas obrigações fazendo o nosso melhor, de forma que Cristo seja visto em nossas atitudes, como resposta a quem Deus é (Colossenses 3.22-23).
Trabalho é imitação (Gênesis 1.26-27). É uma oportunidade de imitarmos quem Deus é. É uma oportunidade de refletir o caráter criativo de Deus (descobrindo novas coisas, criando novos procedimentos, pensando em novas maneiras de aprimorar o que precisa ser feito). Da mesma forma que Deus se alegrou ao ver sua criação, que ele se alegrou com o sacrifício de Cristo, que ele se alegra fazendo o trabalho dele, nós sentimos uma alegria “divina” quando fazemos um trabalho bem feito, pois estamos imitando a Deus. Isso inclui agir de forma justa, correta, paciente, amando o próximo.
Trabalho é amor (Mateus 22.37-39). Quando entendemos que trabalhamos para Deus, trabalharemos com amor. Isso não significa necessariamente amar o seu trabalho, mas mesmo assim fazê-lo com amor, de todo o coração. Nós também trabalhamos para demonstrar amor às outras pessoas ao servi-las. Isso será um tremendo impacto para incrédulos, porque eles trabalham para si mesmos, buscando os seus próprios interesses, colocando no trabalho a identidade deles. Servir as pessoas criará oportunidades para proclamação do evangelho, que é a maior demonstração de amor que podemos ter por alguém — falar da mensagem que pode transformar a vida delas.
Trabalho é fidelidade (Mateus 25.14-30). Algumas vezes, fazer tudo isso será fácil, mas em outras vezes será muito difícil. A fé nos moverá a viver no trabalho para a glória de Deus, pois Deus nos chama a uma fidelidade ativa, e não a uma “estagnação espiritual”. E é aqui que definimos como podemos honrar a Deus no nosso trabalho.
Como honraremos a mensagem do evangelho no nosso trabalho?
A parábola dos talentos (Mateus 25.14-30) mostra dois perfis de servos, o mau e o bom. O final do servo mau é o inferno (v. 30). Às vezes parece que a consequência foi muito grande para alguém que apenas devolveu o que recebeu ao invés de produzir mais. Mas precisamos entender que se não fosse por esse desfecho, a parábola seria apenas um incentivo ao moralismo. A atitude dos dois servos bons contrasta completamente com a atitude do servo mau. Eles confiaram plenamente na fidelidade do seu mestre. Eles se esforçaram ao máximo para servi-lo. Eles confiaram que crer nas promessas do seu mestre era a melhor coisa que eles poderiam fazer das suas vidas. Eles são chamados de fiéis (vv. 21 e 23) porque foram obedientes, mas a parábola não mostra a obediência como um fim em si mesma. A obediência é importante porque mostrava a bondade e a fidelidade do mestre.
A parábola deixa claro que as nossas atitudes revelam quem de fato é o nosso mestre. A parábola diz muito mais sobre fidelidade (especialmente ao seu mestre) do que sobre obras em si. O ponto não é “precisamos produzir mais para agradarmos a Deus”, mas sim “precisamos ser fiéis a Deus como resposta à mensagem do evangelho”. A fidelidade é importante porque se somos fiéis a Deus, mostraremos que temos confiado nas suas promessas maravilhosas e mostraremos um Deus bom e fiel às outras pessoas. Qualquer coisa que façamos com nossos dons e talentos é insignificante se comparado ao que eles revelam sobre Deus pela maneira com que os usamos.
Portanto, honraremos a Deus sendo fiéis com as oportunidades que Ele nos deu (trabalho, escola, igreja, relacionamentos, etc.), porque o que fazemos reflete aquilo que Cristo fez por nós. Da mesma forma que o mestre é o centro da parábola, na nossa vida o centro deve ser Deus. Isso precisa afetar a forma como encaramos tudo, inclusive nosso trabalho/estudo. Nossa vida só terá algum propósito ou valor se Deus for o centro dela.
O mestre não cobrou seus servos pelos resultados deles, mas pela fidelidade ativa deles — vista em forma de obediência. Se Deus não nos criou para resultados nem para nada desse mundo, não podemos colocar nossa identidade em nada passageiro e nem analisar nosso sucesso pelos resultados. Nós precisamos analisar nossa vida como Deus faz. Ele busca fidelidade, porque Ele sabe que nós não podemos controlar os resultados. O problema é que, como o mundo, analisamos nossa vida em termos de resultados, corremos atrás deles com todas as nossas forças, inclusive estando dispostos a pecar quando não conseguimos o resultado que queremos, sem pensar que tudo o que isso pode fazer é nos levar ao desapontamento. Mas de forma impressionante, confiar em resultados é algo que deve nos tranquilizar, não porque nós somos fiéis — porque nós vamos falhar no nosso trabalho. Não iremos sempre adorar a Deus no nosso trabalho, não iremos sempre imitá-Lo no nosso trabalho, não amaremos sempre ao próximo no nosso trabalho, não seremos sempre fiéis no nosso trabalho. Nos tranquiliza porque Jesus não falhou; os resultados dEle são perfeitos. Ele adorou a Deus no trabalho que veio fazer. Ele viveu uma vida perfeita, mostrando o caráter do Pai. Ele mostrou o Seu amor ao morrer por nós enquanto ainda éramos pecadores, e foi fiel até o fim. Nós não precisamos de resultados para agradar a Deus, nem para merecer aquilo que Ele pode nos oferecer em Cristo, porque o próprio Cristo fez isso por nós. O que precisamos é sermos fiéis à mensagem do evangelho — Cristo morto e ressurreto, pagando o preço pelos nossos pecados e garantindo um resultado eterno —, fazendo dessa mensagem a base para a nossa vida, em todos os lugares e circunstâncias que Deus nos colocar.
A pergunta que fica é “temos mais medo do fracasso ou da infidelidade”?
Que Deus nos ajude a sermos fiéis a Ele em todas as áreas de nossa vida.
Editorial de Gustavo Henrique Santos
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