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BiblicaMente — Ciúme

Ciúme é uma palavra cheia de pontas afiadas e muito difícil de transitar pelos canais auditivos, de modo que, quando escutamos alguém afirmar ou perguntar se estamos com ciúme, imediatamente, nosso orgulho entra em prontidão e o nosso ego prepara as armas para a primeira reação que, na maioria das vezes, é a de negarmos com muita convicção.

 

Não seria absurdo, no entanto, afirmarmos que muito, muito dificilmente, alguém vai passar por esta vida sem sentir ciúme, até porque esse sentimento, por si só, não é de todo ruim. Aliás, em muitos casos, ele se mostra legítimo e até recomendado. É o caso do ciúme que se manifesta como uma resposta emocional natural e instintiva, normalmente, em forma de proteção, de dedicação, de atenção, carinho, enfim, que traduz um sentimento de cuidado e diligência com o objeto de amor.

 

Nas Escrituras encontramos vários exemplos desse tipo de ciúme, que pode ser considerado como um zelo piedoso. É o caso do apóstolo Paulo que manifestava uma preocupação sincera e cautelosa com a santidade dos coríntios, procurando orientá-los e protegê-los, não somente, da sedução dos falsos ensinos, mas, sobretudo, do perigo de se afastarem da verdadeira devoção a Cristo Jesus (2 Coríntios 11.2).

 

O nosso próprio Deus se declara ser um Deus zeloso (ciumento), pelo cuidado que Ele tem por Sua divindade (Êxodo 20.3–6), por Sua glória e honra (Isaías 42.8), por Sua soberania (Isaías 46.9 e 10), por Seu santo nome (Ezequiel 39.25), e no sentido mais elevado, o Senhor se mostra ciumento por Seu próprio povo, ora (em Sua ira santa) executando disciplina (Ezequiel 5.13), ora (em sua Graça e misericórdia) exercendo cuidado e compaixão (Joel 2.18 e 19).

 

Desse modo, podemos constatar que é essa forma de ciúme (zelo piedoso) que deve reinar em qualquer tipo de relacionamento, em especial, entre os cristãos. Um bom exemplo pode ser visto na relação amorosa entre marido e mulher, onde é comum que haja ciúme piedoso, de maneira que ambos atuem em favor da preservação da aliança matrimonial. É o caso da esposa que previne o marido, desatento, sobre outras mulheres mal-intencionadas ou, da mesma forma, o do marido que orienta a esposa sobre a necessidade de cuidado redobrado ao que ela expõe e ao que é exposto nas redes sociais.

 

E seria muito bom se fosse apenas assim. Mas, o problema é que a paixão do ciúme no homem é, geralmente, exercida de maneira maligna. E ela vem como uma espécie de fervor passional que arde como um fogo nas profundezas mais baixas do coração, espalhando, por todo corpo, suas chamas carregadas de sentimentos negativos e de intensões pecaminosas.

 

Na Bíblia, o ciúme pecaminoso (que também pode ser sinônimo de inveja) é identificado como sendo uma das obras da carne, revelando um coração egocêntrico, vazio de amor e repleto de ressentimento, como é o caso de Caim que matou Abel, porque não suportou a preferência do Senhor pela oferta de seu irmão (Gênesis 4.4 e 5); ou de Raquel que não podia conceber e, por isso, criou um conflito emocional e familiar com Jacó e com sua irmã Lia que tinha filhos (Gênesis 30.1); ou de Saul que aumentou sua ira ao ouvir as mulheres de Israel exaltando Davi por suas vitórias (1 Samuel 18.7–9); e o que dizer dos líderes religiosos que, vendo crescer a influência, autoridade, e poder de Jesus, O entregaram a Pilatos? (Mateus 27.18). Quando o ser humano destrona Deus do seu coração e passa a adorar a si mesmo, é só isso que sobra.

 

Assim, então, como o zelo piedoso, o ciúme pecaminoso pode também se revelar de várias formas e em diversos lugares, como no ambiente de trabalho, nas amizades, na vizinhança, nas comunidades cristãs, enfim, lugares onde a relação deveria ser de amor e cuidado, mas acaba se manifestando de forma tóxica e possessiva. Nesse mesmo sentido, é, em especial, da relação amorosa abusiva que vem o melhor exemplo, porquanto é aí que essa emoção, frequentemente, costuma causar mais impacto e destruição.

 

Basta, então, que haja, por apenas algumas vezes, um corriqueiro aperto de mão, ou um simples abraço, ou um olhar despretensioso, ou, ainda, uma conversa informal e descontraída de um dos parceiros com uma pessoa do sexo oposto, para que o outro, desconfiado e inseguro, comece a açoitar sua mente com pensamentos obsessivos e paranoicos, como o da insegurança de estar perdendo o lugar que julga ser seu, ou o do medo de estar sendo rejeitado e abandonado, ou, ainda, o da temida incerteza da fidelidade do outro, podendo, até mesmo, chegar ao ponto de imaginar que a traição já possa estar em curso.

 

O resultado? Muito sofrimento, mágoas, tristezas e um imenso desgaste na relação de ambos, podendo, inclusive, se tornar algo doentio, com um exagerado tormento de regras, de imposições e restrições que, em última análise, pode chegar a pôr em risco, até mesmo, a integridade física de todos os envolvidos.

 

Mas, o que fazer, então? Como proceder para ficar livre desse sentimento, ou, se isso não for possível, como se manter imune às investidas do ciúme pecaminoso?

 

1. Lembre-se sempre do Evangelho (Colossenses 2.13 e 14): Jesus já pagou o alto preço da nossa dívida e removeu inteiramente todos os nossos pecados, cravando-os na cruz. Só Ele é capaz de nos perdoar e de nos livrar do assédio e da sedução que o pecado pode exercer sobre nós;

 

2. Dependa do Espírito Santo (Romanos 8.13): há muitos perigos quando decidimos seguir as inclinações imorais da nossa própria carne. Mas, os que decidem viver para Cristo, têm a vida guiada pelo Espírito Santo, que os ajuda a resistirem e a se despojarem de qualquer tentação pecaminosa. É Ele que injeta sabedoria no nosso coração e o faz bombear discernimento para nossa mente, com o fim de produzir em nós os atributos de um caráter santificado;

 

3. Não lute sozinho (Eclesiastes 4.9–10): o mundo nos convida ao individualismo e à autossuficiência que, como uma areia movediça, nos mantêm presos em nossas próprias ilusões e angústias. Grande, então, é a necessidade de vivermos em comunidade, especialmente, aquelas que se unem pelos laços do amor a Cristo, porquanto, se um vier a cair, outros estarão sempre a postos para o levantar;

 

4. Deixe Deus controlar sua vida (Provérbios 3.5 e 6): tudo o que fazemos por nós mesmos é apenas vaidade e vento que passa. Somente Deus é capaz de dirigir com clareza nossos pensamentos, de guiar com exatidão nossas decisões e reger com maestria nossas emoções. É Ele que esquadrinha o nosso coração, que nos julga com justiça e nos corrige com amor. É somente Ele que tem o poder de nos transformar de miseráveis filisteus em amados filhos Teus;   

5. Ore continuamente (1 Tessalonicenses 5.17): precisamos compreender que Deus está sempre conosco e que Ele mesmo prometeu que não nos deixará, que jamais nos abandonará (Hebreus 13.5b), de forma que necessitamos estar constantemente em comunhão com Ele, louvando, glorificando, adorando o Seu santo nome, expressando gratidão por tudo e todas as coisas que Ele já fez e continua fazendo, expondo nossos pedidos, confessando incessantemente nossos pecados e buscando incansavelmente por Sua direção e orientação.

 

Finalmente, ao considerar essas orientações, gravemos em nossa mente e coração o que Deus nos preveniu ainda lá no princípio de todas as coisas: “Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo” (Gênesis 4.7).

 

Editorial de Walter Feliciano


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