Como temos visto, não é simples ajudar pessoas que sofrem. No entanto, a dificuldade da tarefa não nos exime de cumpri-la. Pelo contrário, devemos nos esforçar para sair de nossa zona de conforto, e buscar entender do Senhor como podemos ajudar, verdadeiramente, aqueles que sofrem.
No editorial passado, vimos três abordagens falhas dos amigos de Jó, e como podemos corrigi-las. Nesse texto, veremos mais quatro.
4. Eles acusam Jó de coisas que ele não fez.
De certa forma, esse ponto é um desdobramento do que vimos nos pontos 2 e 3 (Eles disseram que tinha que haver pecado, quando não havia e Eles não ouviram Jó). Porque eles acham que tudo é pecado, e porque eles não ouvem o que Jó está falando, eles partem para a acusação desinformada.
Além de ser errada em si, essa atitude pode ser extremamente perigosa. Por vezes, conseguimos ser bastante convincentes mesmo quando estamos errados. Isso significa que é possível convencer pessoas de pecados que elas nem mesmo cometeram, trazendo culpa onde não deveria haver.
Não acuse alguém sem a certeza de que você tem todas as informações sobre a situação. Nós não devemos ser mais graciosos do que Deus é, e “passar a mão” na cabeça de pessoas rebeldes, mas com certeza também não queremos ser mais justos do que Deus, condenando aqueles que sofrem por motivos além de seus pecados.
5. Eles tinham uma visão inadequada do sofrimento.
Eles eram pensadores “preto e branco”. Eles não tinham espaço para “áreas cinzentas”. Jó nos mostra que, pelo menos neste mundo, sempre haverá alguns mistérios sobre o sofrimento. Nós não teremos todas as respostas — simplesmente não teremos. E isso é bom! Parte do nosso processo de amadurecimento é aprender a confiar no Senhor mesmo quando não vemos o próximo passo.
Precisamos aprender a confiar em Deus mesmo quando não entendemos o que Ele está fazendo, acreditando que Ele tem o melhor para nós — e tendo em mente que o melhor dEle sempre é o melhor para nós. Deus sabe não apenas “o que” precisamos, mas “quando” precisamos e “como” precisamos passar por algo, de forma que possamos aprender o que Ele quer nos ensinar. Se o amor de Deus foi suficiente para a nossa maior necessidade — a nossa salvação eterna — certamente é suficiente para as nossas necessidades “menores”, como as adversidades que encontramos nesta vida.
Portanto, lembre as pessoas que sofrem que dúvidas são legítimas, e são um reflexo da nossa incapacidade de compreender completamente os planos de um Deus tão sábio e poderoso como o nosso. O sofrimento cria dependência, pois torna nossas limitações muito claras para nós. Isso nos dá a oportunidade de reconhecer nossa finitude, nossa vulnerabilidade, nossa falta de controle — nossa necessidade de Deus. Diante de tantas incertezas do sofrimento, aponte as pessoas para Aquele que é imutável.
E isso nos leva aos dois últimos pontos.
6. Eles deram suas próprias opiniões, ao invés de comunicar a Palavra de Deus.
Um dos maiores erros que cometemos ao conversar com pessoas que estão sofrendo é dar nossa opinião sobre algo. Diante do sofrimento de Jó, Zofar diz o seguinte em Jó 20.3:
“Eu ouvi a repreensão, que me envergonha,
mas o meu espírito me obriga a responder segundo o meu entendimento.”
(Ênfase do autor)
Por mais grosseiro que possa parecer, o que eu vou dizer aqui é com todo o amor: as pessoas não precisam saber o que pensamos, elas precisam saber o que Deus pensa. Deus é quem tem as respostas. Deus é a própria resposta. Portanto, aponte as pessoas para Deus! Leia a Bíblia com elas. Leia Salmos de lamento, mostrando como o sofrimento é real, difícil, e como Deus se importa. Leia textos que falam sobre a confiança no Senhor. Leia textos que reforçam aspectos do caráter de Deus que sejam aplicáveis à situação específica daquela pessoa. Não confie no seu próprio entendimento (Provérbios 3.5b).
7. Eles falharam em dar a Jó o que ele precisava: uma esperança verdadeira!
Finalmente, vemos os amigos de Jó falhando terrivelmente em dar a ele esperança. Eles criticam, julgam, e propõem uma série de novas atitudes para Jó — um checklist de mudança pessoal com o objetivo de alterar as circunstâncias de Jó. Afundado em sofrimento como Jó estava, tudo o que ele precisava era uma lista de coisas a fazer. Certo? Errado!
Os diversos exemplos bíblicos nos mostram que o sofrimento vem em uma variedade de formas. Veja, por exemplo, José (Gênesis 37–50), Davi (2 Samuel 11–12; Salmos 22; 51; 79), Habacuque, Paulo (2 Coríntios 11–12), entre outros. Ainda assim, todos eles trazem como pressuposto, a partir da atitude de cada um dos personagens, pelo menos quatro pensamentos essenciais: (1) Deus é soberano e bom; (2) Deus não faz nada sem os propósitos de glorificar a Si mesmo e santificar Seu povo; (3) nosso sofrimento deve ser um lembrete de que nosso maior problema é o pecado, e por causa disso, não precisamos de alívio, mas de um redentor; e (4) em Cristo temos redenção, perdão, alegria e vida eternamente.
Não existe paz e esperança sem a confiança de que Deus faz todas as coisas para Sua glória e nosso bem. Ele é sábio, soberano, gracioso e misericordioso, e nunca nos prejudicará. Ele está nos moldando, conformando-nos à imagem de seu Filho glorioso, e Ele usará nossos pecados, o pecado de outras pessoas, a natureza e tudo o que Ele quer para realizar Seu grande propósito (Romanos 8.28–30). Ele não se deleita em nossas adversidades, mas não nos poupará daquilo que precisamos para crescer à semelhança de seu Filho. Existe algo mais importante do que o nosso conforto.
Para refletir:
Como você costuma ajudar pessoas? Seus conselhos são baseados em opiniões pessoais, ou na Palavra infalível de Deus? Você é alguém que ouve cuidadosamente, ou alguém que parte rapidamente para conclusões? Seus conselhos apontam para a esperança que temos em Cristo, ou são apenas receitas comportamentais?
Editorial de Gustavo Santos
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