Nesse último editorial da série sobre arrependimento, exploraremos os efeitos iniciais, duradouros e eternos do arrependimento genuíno na vida do cristão. Ainda que o processo seja doloroso e árduo, as recompensas são infinitamente maiores do que aquilo que sacrificamos.
Efeitos iniciais do arrependimento
O primeiro efeito visível do arrependimento genuíno é, muito provavelmente, a confissão. Alguém verdadeiramente arrependido irá confessar os seus pecados a Deus, reconhecendo onde falhou e demonstrando disposição para mudar aquilo que precisa ser mudado. No entanto, a Bíblia não fala sobre qualquer tipo de confissão.
Assim como o arrependimento bíblico tem características, a confissão que acompanha o arrependimento também tem. Em seu livro, Thomas Watson destaca 8 características, dentre as quais veremos 4.[1] A primeira delas é que a confissão deve ser voluntária. Como vemos na parábola do filho pródigo, a confissão do pecado acontece antes que ele seja acusado (Lucas 15.18). Além disso, a confissão deve ser sincera. Aquilo que nossos lábios confessam deve ser uma realidade no nosso coração. A confissão bíblica também é específica. Ser específico ao lidar com os nossos pecados é uma demonstração de humildade e desejo de mudança. De fato, quanto mais específicos formos, mais fácil será lidar com o pecado, pois saberemos contra o que estamos lutando, bem como as armas que poderemos usar. Isso nos leva a outra característica da confissão bíblica: ela acontece no nível das motivações. Ao invés de simplesmente dizermos a Deus “perdão pela mentira que eu falei”, devemos ir ao mais profundo do nosso coração buscando o motivo pelo qual mentimos: “eu menti, pois queria controlar as pessoas e levá-las a fazer a minha vontade”, ou “eu menti, pois queria manter a imagem que eu tenho diante das pessoas, de forma que elas continuassem me respeitando e pensando coisas boas sobre mim”.
Além da confissão, o arrependimento também trará consigo vergonha pelo pecado e ódio ao pecado. Como Watson escreve, “o rubor da face é a cor da virtude.”[2] Essa não é uma vergonha que nos leva a fugir, mas que nos leva a correr em direção a Cristo, que remove a nossa vergonha e a nossa culpa. Nós amamos o que Deus ama e odiamos o que Deus odeia.
Efeitos duradouros do arrependimento
Com o tempo, efeitos duradouros começam a aparecer. Um deles, que é o efeito responsável por todos os outros seguintes, é o crescimento no conhecimento do Senhor — é uma volta a Deus. Como vimos no primeiro editorial da série, a palavra mais utilizada no Antigo Testamento para arrependimento é shuv, que literalmente significa “fazer um retorno”. O arrependimento verdadeiro leva o cristão a conhecer mais de Deus.
Naturalmente, alguém que conhece mais a Cristo e a sua Palavra também será marcado pelo abandono do pecado e por uma mudança de atitude — no nível do comportamento, dos pensamentos, dos sentimentos e dos desejos. Embora todos nós desejássemos que as mudanças acontecessem de forma automática no momento da conversão, ou até mesmo no momento da confissão, não é exatamente assim que acontece. Mudanças levam tempo, e muitas vezes mais tempo do que gostaríamos. Ainda assim, a Palavra de Deus nos encoraja a perseverarmos e a continuarmos buscando uma vida de santidade (Hebreus 12.14), pois um dia Aquele que começou a boa obra em nós há de completá-la (Filipenses 1.6).
Efeitos eternos do arrependimento
Finalmente, por estar sempre associado à fé (Marcos 1.15), o arrependimento tem como efeito eterno a vida eterna. Não há arrependimento genuíno sem que haja salvação, e todos aqueles que são salvos desfrutarão da vida eterna que Cristo conquistou ao morrer e ressuscitar (João 3.16). Ezequiel 18.32 diz: “Pois não me agrada a morte de ninguém. Palavra do Soberano, o Senhor. Arrependam-se e vivam! (NVI)”. 2 Coríntios 7.10 diz: “Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação.”
Não há vida cristã sem arrependimento. Não há crescimento sem arrependimento. Não há possibilidade de ser sal e luz sem arrependimento. Não há esperança sem arrependimento. Portanto, embora o arrependimento não seja um conceito valorizado na nossa sociedade, e muitas vezes também não seja valorizado nas nossas igrejas, ele é um conceito — e uma prática! — vital para todos nós. Sem arrependimento, jamais teremos Cristo; e sem Cristo, jamais teremos vida, pois Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida (João 14.6).
Editorial de Gustavo Henrique Santos
[1] Para ver cada uma das 8 características com detalhes, veja Thomas Watson, A Doutrina do Arrependimento (São Paulo: PES, 2012), 36–48.
[2] Watson, A Doutrina do Arrependimento, 49.
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