Em tempos de dificuldades e incertezas, somos tentados a pensar em paz apenas como um conceito ou um desejo distante, talvez inatingível. Conflitos e adversidades são realidades em nossos dias, e analisando os últimos anos, sem dúvida enfrentamos momentos que foram bastante desafiadores.
Em 2018, vivenciamos um cenário político bastante agressivo no Brasil, resultado das eleições presidenciais que dividiram nosso país. Em 2020, fomos pegos de surpresa por uma pandemia que mataria milhões de pessoas. Mais recentemente, no início de 2022, o anúncio de uma guerra entre Rússia e Ucrânia veio à tona, notícia que colocou o mundo inteiro sob o medo do que poderia nos ocorrer com a intensificação desse conflito. E essa foi a realidade em todas as eras da humanidade: conflitos, guerras, doenças, dificuldades, entre outras.
Vivemos em um mundo caído, que sofre com a ação do pecado. Porém, a boa notícia é que o mesmo Deus que sustentou o Seu povo nos séculos passados governa e sustenta o Seu povo nos dias de hoje, trazendo paz e satisfação mesmo em meio a cenários complicados.
Com isso em mente, continuaremos nossa série nos Nomes de Deus falando sobre Jeová Shalom. Como cristãos, precisamos ter a convicção de que a nossa paz não depende de circunstâncias, por mais adversas que possam parecer.
Origem
Conforme vimos no último editorial, os nomes de Deus podem ser conhecidos através de duas formas. Uma delas é pela apresentação do próprio Deus, como, por exemplo, Jeová Rafa (Êxodo 15.26) e El-Shaddai (Gênesis 17.1). Outra maneira é através de experiências pessoais de cristãos, como Jeová Jireh (Gênesis 22.14).
Jeová Shalom também é um desses nomes derivados de experiências de cristãos com o próprio Senhor. No livro de Juízes, Gideão, após experimentar a presença do Senhor, clamou: “Jeová Shalom”, que quer dizer “O Senhor é paz”.
“Porém o SENHOR lhe disse: Paz seja contigo; não temas, não morrerás.
Então, Gideão edificou ali um altar ao SENHOR e lhe chamou SENHOR É PAZ;
e ainda até ao dia de hoje está em Ofra dos abiezritas.”
(Juízes 6.23, 24 – ênfase do autor)
Jeová Shalom é composto por duas palavras hebraicas, Jeová (יְהֹוָה) e Shalom (שָׁלוֹם). Jeová é derivada das junções do tetragrama YHWH com as vogais do nome Adonai, que é o nome de Deus, ou “Meu Senhor”. Shalom pode ser traduzido simplesmente pela palavra “paz”. Também podia ser utilizada para se referir ao estado de saúde de alguém (Gênesis 29.6), ou como uma saudação. Entretanto, quando utilizadas para se referirem a Deus, significam “O Senhor é Paz!”
Paz com Deus
Contudo, que paz é essa? Para entendemos melhor, precisamos compreender o contexto em que Gideão fez essa declaração. Naquela época, Israel estava longe do Senhor e sob o domínio dos midianitas (Juízes 6.1). Porém, no versículo 7, o povo clama ao Senhor por socorro. Então, o anjo do Senhor aparece a Gideão que, consciente da presença de Deus e de seu pecado, se enche de pavor e até mesmo do medo da morte (Juízes 6.12–27) — sentimento compartilhado por Moisés (Êxodo 3.6) e por Manoá (Juízes 13.22, 23). No entanto, vendo Deus a condição de Gideão, disse: “Paz, seja contigo; Não temas, não morrerás” (Juízes 6.23).
Em meio às guerras, tanto uns com os outros, quanto entre nós e Deus, o Senhor providencia a paz, e nos concede esperança. Deus é capaz de nos dar vida, em meio a um mundo de morte. Deus é capaz de nos dar paz, em meio a um mundo marcado por conflitos. E isso acontece porque, em Cristo, Deus remove a barreira de inimizade que existe entre nós (Efésios 2.13–17). Deus nos reconciliou consigo por meio do sacrifício de Cristo na cruz (2 Coríntios 5.18, 19), e por isso podemos experimentar da Sua paz.
Paz entre os homens
Assim como Deus nos dá a paz com Ele por meio de Cristo Jesus, Ele também nos livra das mãos de nossos inimigos e nos traz paz com os homens. Ao longo do livro de Juízes, vemos o Senhor libertando o Seu povo com forte mão em várias oportunidades. Além da libertação da mão dos midianitas com Gideão, Deus livra Seu povo dos amalequitas, filisteus e de vários outros opressores. Porém, essa paz é fruto de um caminhar genuíno com Deus. Em todo o Velho Testamento, e principalmente no livro de Juízes, vemos que sempre que o povo se afastava de Deus como consequência de seu pecado, eram dominados por povos vizinhos e não desfrutavam da paz. Entretanto, quando se arrependiam e clamavam a Deus, eram libertos e podiam desfrutar da paz.
Paz em meio às dificuldades
“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá.
Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.”
(João 14.27)
Deus é o garantidor de nossa paz — uma paz que não é passageira, e que está disponível para todo aquele que confia em Cristo Jesus. Entretanto, é importante entendermos que a paz não é um meio ou um fim em si mesma — é consequência de uma vida de retidão e de submissão a Deus (Filipenses 4.7). E embora o cristão não tenha como garantia uma vida sem aflições (João 16.33), temos a segurança de que Deus está conosco hoje e sempre.
Paz que aponta para a eternidade
O mesmo Deus que é paz, é o Deus que sempre foi e sempre será. Este mesmo Deus que nos garantiu todas essas coisas, prometeu que voltará (Atos 1.11) e nos trará a paz eterna. Todo o sofrimento e adversidade que experimentamos hoje apontam para a necessidade de um Deus salvador que trará a paz. A paz que hoje é desfrutada, em parte, pelo cristão, será completada quando Cristo voltar para buscar Seu povo.
Para reflexão:
Temos desfrutado de uma vida de paz?
De que maneira as circunstâncias deste mundo nos têm afetado?
De que maneiras as promessas do Senhor confortam os nossos corações?
Quais promessas nos trazem conforto no dia de hoje?
Como os exemplos de libertação e paz encontrados nas Escrituras nos encorajam a vivermos uma vida confiante em Deus?
Editorial de Rafael Ceron
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