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O que não é arrependimento

Atualizado: 17 de jan. de 2020

No editorial da semana passada, A essencialidade do arrependimento, vimos como a doutrina do arrependimento é essencial. De fato, não há vida cristã sem arrependimento. Entretanto, também vimos que é possível estarmos errados quanto ao arrependimento. É comum vermos pessoas patinando em suas vidas cristãs — e até mesmo pessoas equivocadas quanto a sua salvação — por não entenderem biblicamente o que é arrependimento. Desta forma, veremos alguns pensamentos errados — e comuns — sobre arrependimento.[1]


O arrependimento NÃO É o simples medo da lei

É possível deixarmos de fazer coisas que sabemos ser erradas simplesmente por medo da lei e de suas consequências, sem que haja uma mudança genuína no coração. Por exemplo, muitas pessoas não roubam por medo de serem presas, e não por entenderem que devemos amar ao próximo como resposta ao amor que Deus demonstrou por nós. Como Thomas Watson escreve, “pode haver terror pelo pecado sem mudança de coração.”[2]


O arrependimento NÃO É uma resolução contra o pecado

É extremamente comum pessoas fazerem novas resoluções após caírem em pecado, principalmente quando falamos de pecados habituais. Um rapaz que luta contra a pornografia, por exemplo, sempre dirá a si mesmo que nunca fará aquilo novamente — somente para cair no mesmo pecado após alguns dias. Talvez até haja uma nova resolução — não vou mais fazer isso — mas não há mudança de coração. Essas resoluções podem surgir, como diz Watson, “porque o pecado é doloroso, ou por medo de um mal futuro — principalmente por medo do inferno”.[3]


O arrependimento NÃO É o abandono de muitas formas de pecado

Ainda que a princípio pareça incoerente, o pecado pode ser abandonado sem que haja arrependimento. Thomas Watson explica essa realidade em três pontos. Primeiro, é possível abandonar alguns pecados e manter outros. Por exemplo, Herodes abandonou muitas coisas, mas não renunciou ao seu incesto. Em segundo lugar, um velho pecado pode ser abandonado para dar lugar a um novo. Uma moça pode deixar de ter ataques de ira, e substitui-los por gula. Finalmente, um pecado pode ser abandonado por prudência e não por arrependimento genuíno. Alguém pode deixar de utilizar uma substância simplesmente porque ela lhe faz mal à saúde.


Watson resume maravilhosamente esses conceitos ao dizer que “o verdadeiro abandono do pecado acontece quando os atos pecaminosos cessam pela infusão de um princípio da graça, como um ambiente deixa de estar escuro pela infusão de luz.”[4]


O arrependimento NÃO É a mesma coisa que remorso

Em 2 Coríntios 7.10, lemos que “a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte.” Embora remorso e arrependimento possam se parecer à primeira vista, eles são bem diferentes e, consequentemente, produzem resultados completamente diferentes (veja tabela abaixo).

O perigo do falso arrependimento

Enquanto o arrependimento genuíno produz vida, a tristeza do mundo produz morte (2 Coríntios 7.10). O apóstolo Paulo deixa claro para todos nós que a ausência de arrependimento — ou um falso arrependimento — trará a morte. Portanto, estar equivocado quanto a esse tema não é tão simples quanto estar equivocado quanto à escolha de uma roupa, ou até mesmo à escolha de um apartamento para morar. É a nossa vida — e uma vida eterna — que está em jogo.


Na próxima semana, veremos exatamente o oposto: quais as marcas do arrependimento genuíno e o que ele produz. Embora não sejamos capazes de nos arrepender de forma perfeita, nós podemos — e devemos — nos arrepender genuinamente, buscando uma vida que agrade e glorifique a Deus, baseada na obra salvadora de Jesus Cristo.


Editorial de Gustavo Henrique Santos



[1] Grande parte desses pensamentos foram retirados do capítulo 2 do livro de Thomas Watson, A Doutrina do Arrependimento (São Paulo: PES, 2012).

[2] Watson, A Doutrina do Arrependimento, 18.

[3] Watson, A Doutrina do Arrependimento, 18.

[4] Watson, A Doutrina do Arrependimento, 19–20.




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