Conta a lenda que certa mulher pobre com uma criança no colo, passando diante de uma caverna escutou uma voz misteriosa que lá dentro lhe dizia: “Entre e apanhe tudo o que você desejar, mas não se esqueça do principal. Lembre-se, porém, de uma coisa: Depois que você sair, a porta se fechará para sempre. Portanto, aproveite a oportunidade, mas não se esqueça do principal...” A mulher entrou na caverna e encontrou muitas riquezas. Fascinada pelo ouro e pelas joias, pôs a criança no chão e começou a juntar, ansiosamente, tudo o que podia no seu avental. A voz misteriosa, então, falou novamente: “Você só tem oito minutos.” Esgotados os oito minutos, a mulher carregada de ouro e pedras preciosas, correu para fora da caverna e viu a porta se fechar lentamente para sempre. Foi só, então, que se deu conta que a criança havia ficado lá dentro.
Embora seja apenas uma lenda, qualquer semelhança com a realidade que vive a sociedade do século 21 não será mera coincidência, porquanto, o ser humano continua escravo de seus próprios interesses e entregue aos desejos de sua carne e de seus olhos. Por isso, passa a não conhecer limites, nem critérios na corrida para alcançar riquezas, poder, conforto, respeito próprio, realização pessoal ou qualquer outro recurso que imagina lhe ser útil para evidenciar, medir ou atestar o seu sucesso. Esse é o lado escuro da humanidade, onde soa imponente a voz do egoísmo, gravada como marca universal no coração de todo homem, que não somente lhe estimula a ser amante de si mesmo e a satisfazer todas as suas necessidades, mas lhe ensina, com riqueza de detalhes, como praticar a arte da indiferença e a deixar acorrentado e esquecido, no mais profundo de sua alma, o verdadeiro tesouro que contém as joias mais raras e de valores inestimáveis, como a generosidade, a prontidão em servir, a fraternidade, a unidade com Cristo e, sobretudo, o temor do Senhor.
O curioso e estranho é que, de certa forma, esse modo destrutivo de vida traz uma falsa e transitória sensação de plenitude e euforia, simplesmente porque as obras da carne estão esmagando as virtudes do espírito e, por isso, o homem se inflama de prazer em seu orgulho, ganância e lascívia (I João 2.16), reveste-se de justiça própria (Lucas 18.9-14), deixa-se enraizar e se contaminar pela amargura (Hebreus 12.15), torna-se mau e negligente (Mateus 25.26) e, por desconhecer o caminho da paz (Romanos 3.17), pratica toda sorte de imoralidade, impureza, idolatria, inimizades, brigas que irão justificar suas explosões de ira, ciúmes, inveja e vingança (Gálatas 5.19-21). Tudo apenas vaidade e um enorme esforço para alcançar o vento (Eclesiastes 2.1-11). E o destino é sempre aquele mesmo lugar comum: uma vida vazia e angustiante, vivida de aparências e de relacionamentos superficiais, onde alegria e felicidade aparecem simplesmente como subproduto artificial de um altruísmo hipócrita, necessário somente para cumprir as formalidades de uma “obrigação social” que lhe traga brilho pessoal e autopromoção. E é, por isso, que sorri sem se alegrar, recebe sem acolher, brinda sem perdoar, abraça sem afeto e, o que é mais triste, doa sem se doar, porque não conhece o verdadeiro amor do Pai.
“Mas entre vós não é assim”, disse Jesus aos seus seguidores esclarecendo-lhes que “pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos.” (Marcos 10.43,44) O mestre exalta as características do verdadeiro altruísmo e ensina que em todo relacionamento saudável a regra de ouro é dar de si para o bem do semelhante. E é nesse contexto que Ele deixa exposta a jugular do egoísmo para, em Lucas 6.38, lhe desferir o golpe de misericórdia: “Dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão, porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também.”
E todos nós, de alguma forma, podemos dar porque o Salvador não nos chama a dar somente coisas que têm valor material. Podemos dar, por exemplo, nossa presença junto aos irmãos enfermos, encarcerados, excluídos..., podemos dar compaixão aos que se sentem indignos, inspiração aos que se sentem desanimados, compreensão àqueles que discordam de nós, gratidão aos que nos favorecem, consolo aos que choram, amor e perdão aos que nos fazem sofrer e, sobretudo, pelo poder da Cruz e do verdadeiro Evangelho, podemos dar esperança e luz aos que estão abandonados e perdidos em trevas.
Só Deus sabe quanto tempo ainda temos nessa vida, pode ser ainda muitos anos ou apenas oito minutos. Mas a verdade é que o tempo para todos nós também está se esgotando, porque Jesus pode voltar ainda hoje e, por isso, precisamos estar atentos a jamais nos esquecermos do principal: “Amar a Deus de todo o nosso coração, de toda a nossa alma, de toda a nossa força e com todo nosso entendimento” (Deuteronômio 6.5; Mateus 22.37; Marcos 12.30) e “ao próximo assim como amamos a nós mesmos.” (Mateus 7.12; 22.39; Marcos 12.31) Quando nos apropriamos verdadeiramente desse amor, passamos a ter um compromisso sólido de agir sacrificialmente para o bem de outra pessoa, porque também passamos a compreender que dar é a lei do amor bíblico porque Deus deu o Seu único Filho (João 3.16) que deu-Se a Si mesmo para nossa salvação. (Isaías 53.4-12)
Receber algo de alguém é uma grande benção e proporciona muita alegria. Mas a generosidade produz a glória de Deus (2 Coríntios 9.11-13) e, por isso, é a quem dá que as palavras do Senhor Jesus revelam o verdadeiro Segredo da Felicidade: “Mais bem-aventurado é dar que receber.” (Atos 20.35)
Que em nossa riqueza ou pobreza, possamos compreender o infinito amor do Pai e que esse amor nos contagie e nos capacite a ser cada dia mais generosos, aprendendo, com todo rigor semântico, o autêntico significado de dividir em vez de ajuntar, servir em substituição a mandar e, acima de tudo, dar antes de receber, assim como o apóstolo Paulo também nos ensinou: “pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo.” - 2 Coríntios 6.10
Amém! Aleluia!
Editorial de Walter Feliciano
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