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O verdadeiro amor que salva

Atualizado: 26 de out. de 2018

Dias atrás, enquanto aguardava na sala de espera de um consultório médico, aproveitei para folhear um jornal, com data não muito recente, e gostaria de compartilhar com você duas notícias que me chamaram muito a atenção. Logo na página inicial, a primeira dizia o seguinte: “Uma mulher colocou sua vida em risco depois de se jogar num rio bastante perigoso para salvar uma cadelinha que havia caído ali, quando perseguia um pássaro. Os dois só não se afogaram por causa dos esforços de uma equipe policial de resgate que chegou rapidamente ao local”. Algumas páginas depois, a segunda era destaque na seção policial: “Um bebê com poucas horas de vida foi achado, chorando muito, em uma lata de lixo, coberto por formigas, depois de ter sido abandonado pela mãe”. Embora, a olho nu, as notícias aparentemente não guardem qualquer relação entre si, quando utilizamos a lupa da sensibilidade e a colocamos mais próxima dos sujeitos que praticaram as ações, uma interrogação é selada em nossa mente: Como compreender o ser humano que ao mesmo tempo em que arrisca sua própria vida para salvar um animal, é também capaz de abandonar cruelmente um recém-nascido numa lata de lixo?


Não nos restam dúvidas de que, hoje, as ciências do mundo voltadas para a compreensão do ser humano possuem um arsenal de definições e esquemas que, certamente, responderiam esta questão em tempo recorde. O problema é que uma das marcas do saber científico é o seu rigoroso ateísmo metodológico que, inseparável da razão, aparta Deus de qualquer discurso filosófico e considera o homem somente em relação a ele mesmo, destacando-o como único destinatário do fim supremo. Dessa forma, e muito embora esse esforço científico exerça uma grande influência nas pessoas, inclusive nos cristãos, qualquer resultado dessa avaliação será sempre superficial, porque limitado na forma e incompleto no conteúdo.


Somente quando passamos a conhecer o verdadeiro alcance, sentido, autoridade e suficiência das Escrituras é que conseguimos compreender que ela é o único manual que nos habilita a analisar por completo, entender com profundidade e explicar com precisão o ser humano em toda sua ampla complexidade. Assim sendo, a pergunta que se procura responder já estava resolvida há milhares de anos, quando tudo começou: “E, vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu” (Gênesis 3.6). Deixando-se levar pela concupiscência de seus olhos e de sua carne, o homem em sua rebeldia e dominado pela soberba flertou com a serpente e expôs seu calcanhar à picada mortal, que lhe injetou a peçonha da cobiça em seu coração e envenenou todo o seu ser com o pecado, necrosando definitivamente o seu relacionamento com Deus. A partir de então, passou a viver desorientado, refém da dúvida e mergulhado em erro, sem saber que, apartando-se do Deus vivo que o criou, não haveria em sua vida nada além de morte. É por isso que o mal que faz já lhe é da natureza e o bem não é um apelo por indulgência, mas tão somente uma tentativa ousada de autojustificar-se e buscar no egoísmo das “boas obras” que julga praticar a compensação por toda sua culpa e vergonha, imaginando, inutilmente, que, por isso, receberá um veredito de inocência. Essa é a condição normal do ser humano que, se por um lado lhe faz acreditar na sua disposição natural de fazer o bem, por outro o leva a cometer os mais terríveis atos de impiedade.


O teólogo e escritor contemporâneo, Daniel L. Migliore, com muita propriedade, descreveu de forma interessante este estranho e enigmático ser: “Nós seres, humanos, somos um mistério para nós mesmos. Somos racionais e irracionais, civilizados e selvagens, capazes de amizade profunda e hostilidade mortal, livres e em escravidão, o clímax da criação e seu maior perigo. Somos Rembrandt e Hitler, Mozart e Stalin, Antígone e Lady Macbeth, Rute e Jezabel”. “Estamos… não em um jardim de fruto de cera e folhas pintadas que fica a leste do Éden, e sim depois da Queda, depois de muitas, muitas mortes”.


Assim é o homem, este pobre e insensato ser, perdido em sua própria liberdade e condenado a viver eternamente encarcerado no lago de fogo e enxofre. Quem poderá salvá-lo?


É no Evangelho de João onde encontramos a resposta: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha vida eterna” (João 3.16). Deus é espetacularmente santo e em Sua infinita bondade e misericórdia resgata, livra e restaura o ser humano ao lhe entregar um amor totalmente imerecido. Um amor que "se fez carne, habitou entre nós e tomou sobre Si todas as nossas dores”. Um amor que “foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; que recebeu o castigo que nos trouxe a paz e que, injustamente, pelas Suas feridas fomos curados”. Um amor que morreu a nossa morte e ressuscitou para nos dar novo nascimento. Um amor eterno, infalível, imutável, inseparável e fonte da maior expressão de existência do único Criador de todas as coisas. Jesus é a medida desse amor e é por Ele que Deus dá, em essência, a Si mesmo. Mas, somente pela condição de fé é que podemos perceber a largura, o comprimento, a altura e a profundidade desse amor que nos foi dado pela graça, como dom de Deus.


E quando nos apropriamos verdadeiramente desse amor, temos a certeza de que os ingredientes que tornam nossa existência realmente importante estão todos concentrados nele e é isso que nos permite perceber e ignorar o potencial destrutivo do modo de vida que o mundo nos oferece. Somente com o amor do Pai é que podemos ser transformados e levados a compreender que Deus recebe toda glória na salvação e o homem toda culpa na condenação. Somente com o amor do Pai que tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta é que podemos nos tornar pacientes e bondosos. Não sentir inveja, nem orgulho ou vanglória. Não guardar rancor, não maltratar ninguém, nem procurar nossos próprios interesses. Somente com o amor do Pai é que podemos viver com alegria na verdade, desprezando a injustiça e fazendo brilhar intensamente em nós a luz de Cristo para que todos vejam nossas boas obras e glorifiquem ao nosso Deus que está nos céus, assim como desejou, um dia, antes da loucura, o filósofo “ateu” Friedrich Nietzsche: “Os cristãos deviam brilhar mais; então eu acreditaria no salvador deles. Nem todos os que se chamam cristãos são luzes. Uma vela ainda não é uma luz, a menos que esteja acesa”.


Que o imenso amor do Pai transborde em nossos corações e que, a cada dia, possamos ser crucificados junto com Cristo Jesus, a fim de testemunharmos com a nossa própria vida que “agora permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas maior destes é o amor". O verdadeiro amor que salva.


Amém! Aleluia!


Editorial de Walter Feliciano



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