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Perdoem uns aos outros


Sobre a série: Uns aos outros.

Durante o ano de 2020, temos refletido de forma intencional sobre "ser e fazer discípulos". Visitamos passagens bíblicas que instruem sobre a vida do discípulo e a prática de fazer discípulos. Reconhecemos que precisamos entender o que é um discípulo e como discipular pessoas e acabamos por redescobrir a simplicidade de nossa fé e passos práticos para o discipulado ao alcance de todos. Dentro dos assuntos tratados, é importante identificarmos as características da comunidade dos discípulos de Jesus Cristo. Ao longo da história da Igreja Batista Maranata, chamamos essas características de "mutualidades". Durante esta série traremos reflexões sobre os mandamentos bíblicos de reciprocidade, marcados pelos mandamentos conhecidos como "uns aos outros". A vida do discípulo acontece numa comunidade marcada por práticas que testemunham do caráter de Deus e Sua obra de salvação que nos transforma para o testemunho do Evangelho.



Perdoem uns aos outros

“Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos,

perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou.”

(Efésios 4.32)


“Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente,

caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem.

Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós.”

(Colossenses 3.13)


Os trechos acima são partes das exortações que o apóstolo Paulo faz tanto para os Efésios, quanto para os Colossenses, com o fim de encorajá-los a continuarem eliminando o comportamento pecaminoso de suas vidas, ao mesmo tempo em que os estimula a perseverarem no cultivo das virtudes cristãs, especialmente, no que se refere à prática do perdão. Esses versículos são muito conhecidos por uma boa parte dos cristãos, que os decoram, recitam, compartilham e também os ensinam com muito entusiasmo, até terem, um dia, algo para perdoar.


Pode ser muito fácil falar brilhantemente sobre o ideal do perdão e, ao mesmo tempo, reservar para nós mesmos o direito de não o praticar. Mentiras, traições, ataques, ameaças, manipulações e muito mais. Como podemos suportar tudo isso e, simplesmente, não exigir a reparação do dano? Como engolir uma ofensa e não regurgitar vingança? Da mesma forma como acontece em nosso relacionamento com Deus. Lembra da cruz, do Calvário, do sangue de um inocente derramado por nós? Por causa de Cristo, Deus perdoou todos os nossos delitos e cancelou, inteiramente, o escrito da nossa dívida (Colossenses 2.13,14).


Como no amor verdadeiro, o ato de perdoar envolve sempre uma decisão de vontade. Alguém vai ter que pagar o preço e isso, muitas vezes, vai doer.


Quando perdoamos, decidimos não mais punir o opressor, não mais difamá-lo e nem deixar que aquela ofensa fique povoando o nosso pensamento. Pode parecer simples, mas não é, porque perdoar não é algo instantâneo, ou seja, eu te perdoo e, então — bingo! — está tudo certo e vamos todos ser felizes. Não, não é assim! O perdão é um processo, porque envolve tanto uma ação definitiva (irrevogável), como também uma ação contínua (duradoura). Isso porque nós não vamos esquecer uma ofensa e, certamente, ao longo do tempo, vamos ser tentados a voltar nela e a sentir novamente amargura e rancor contra a pessoa que nos feriu.


Como devemos, então, proceder uns com os outros? Nós temos que perdoar sempre ou só perdoamos quando o ofensor pedir o nosso perdão? Existem dois aspectos muito importantes do perdão:


- O vertical: “E quando estiverem orando, se tiverem alguma coisa contra alguém, perdoem-no, para que também o Pai celestial lhes perdoe os seus pecados” (Marcos 11.25). Aqui, Jesus está nos ensinando que, em oração, diante de Deus somos chamados a perdoar a todos o tempo todo, independentemente de arrependimento ou pedido de perdão.


- O horizontal: “Portanto, tenham cuidado! Se um irmão pecar, repreende-o e se ele se arrepender, perdoe-o” (Lucas 17.3). Nesse caso, mesmo que já tenhamos concedido o perdão perante Deus, só poderá haver reconciliação e restauração do relacionamento com o ofensor se ele, efetivamente, se arrepender e pedir o nosso perdão.


E se esse for o caso, se realmente a pessoa se arrepender e pedir o perdão, muito cuidado! Não ignore o pecado dela. Nós temos a tendência de minimizar a culpa dos outros (Não, não foi nada! Já havia esquecido! Deixa pra lá!), quando, na verdade, estamos ressentidos no coração. Não faça isso, mas, em amor, fale de forma franca sobre o fato e diga que você a perdoa e que, agora, está feliz por poder continuar caminhando junto com ela na vida cristã.


Pode acontecer também da pessoa não reconhecer o erro e não pedir o perdão. O que fazer nesse caso? Em Mateus 18.15-17, Jesus nos ensina que é nosso dever procurar o ofensor e, em particular, repreendê-lo a respeito da ofensa. Se isso for suficiente e resolver a questão, siga em frente. Caso contrário, se o ofensor ainda se mantiver irredutível, será necessária a intervenção de outras pessoas e, até mesmo, da própria igreja.


Mas, e se a ofensa partiu de nós? Como devemos agir? Como ir até a pessoa e pedir o seu perdão? Perdão é um ato sobrenatural e, por isso, antes de tudo, ore com humildade de coração e peça ajuda ao Espírito Santo. Depois, procure a pessoa e reconheça o seu erro.


Não peça desculpas. Desculpas pedimos quando, acidentalmente, pisamos no pé de alguém. Peça perdão de forma clara e sincera, confesse toda a sua culpa, fale que você está arrependido e jamais use “palavrinhas" que vão minimizar ou, até mesmo, transferir o seu pecado, como “se”, “mas”, “talvez” ou “eu sinto muito”. Seja objetivo e peça perdão tanto de forma direta, como indiretamente, ou seja, para a pessoa contra quem você pecou e também para todos os envolvidos, e procure fazer isso no mesmo ambiente da ofensa. Se ela foi pública, peça, então, perdão em público (isso vale para grupos de WhatsApp, Facebook, Instagram ou outros meios).


Por fim, não esconda nada, porque se estiver alguma coisa ainda encoberta, certamente Satanás vai se aproveitar e usar isso contra você.


É certo que este texto não esgota o assunto, mas, já nos ajuda a não colocar um simples band-aid numa enorme ferida aberta.


Como cristãos, fomos perdoados de uma extensa lista de ofensas feitas contra um Deus santo e da forma pela qual Ele graciosamente nos perdoou, nós também devemos sempre perdoar uns aos outros (Mateus 18.21–35), atitude fundamental para a unidade do corpo de Cristo e vital para a nossa missão de ser e fazer discípulos.


Editorial de Walter Feliciano


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