Seu Trabalho Não é Seu Deus
- Site IBMaranata
- 1 de mai.
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Vivemos numa era em que a identidade parece estar amarrada ao crachá. Pergunte a qualquer pessoa quem ela é, e é provável que ela responda com o que faz: “sou advogado”, “sou designer”, “sou engenheiro”. O trabalho, dom dado por Deus para refletirmos Sua imagem criadora, tem se tornado, para muitos, sua identidade e, frequentemente, uma forma sutil de idolatria. O problema não está no trabalho em si, mas quando ele ocupa o trono que pertence somente a Deus.
Um Presente Que Esquecemos Ser Um Presente
Desde o Éden, o trabalho foi entrelaçado ao propósito humano: Deus confiou ao homem o cuidado e cultivo da criação (Gênesis 2.15). Trabalhar com excelência é um reflexo do próprio Deus, que também trabalha (Gênesis 2.2; João 5.17). O trabalho, portanto, é uma expressão de adoração, mas não deve competir com ela.
Esse presente se distorce quando passamos a buscar nele nossa identidade. Isso pode ocorrer nas mais diversas esferas: na dona de casa que se sente pressionada a provar seu valor nas tarefas do lar, no estudante que mede sua importância pelas notas, no jovem que acredita que precisa de uma carreira brilhante para ser reconhecido, ou no profissional que faz do sucesso e do status sua segurança. Quando o esforço, ainda que legítimo, ocupa o centro da vida, trocamos o Senhor por uma obra das nossas próprias mãos.
A Bíblia nos lembra que fomos criados à imagem de Deus, não à imagem das nossas realizações. Em Cristo, fomos libertos da tentativa de justificar nossa existência pelas obras. Somos filhos, criados para boas obras (Efésios 2.10), mas não definidos por elas. Servir com zelo agrada a Deus e, ainda que ninguém veja, Ele vê. Quando a busca por aprovação ocupa o lugar da obediência, o trabalho deixa de ser vocação e se torna escravidão.
O Falso Deus Que Exige Demais
O trabalho, quando elevado à posição de senhor, se torna um ídolo exigente. Ele nunca se satisfaz. A meta atingida logo é substituída por outra. O elogio de hoje se dissolve na cobrança de amanhã. E a sensação de utilidade se transforma em cansaço, comparação e ansiedade.
Quantas vezes sacrificamos comunhão com a igreja, tempo com a família ou momentos de descanso com a desculpa de que “é só uma fase”? Mas fases viram estilos de vida. E, quando percebemos, estamos diante de um altar invisível, oferecendo tudo o que temos — inclusive nossa fé — a um deus que não salva.
Mesmo o sábado, instituído como sinal de liberdade, pode ser reduzido a uma pausa estratégica para produzir ainda mais. Mas ele não é um ritual mágico que “compensa” a desordem da semana. É um lembrete: você não é Deus e seu trabalho também não é.
Descanso Como Resistência e Renovação
O descanso semanal foi dado por Deus para lembrar que não somos escravos do trabalho. Ao descansar, afirmamos que confiamos mais em Deus do que em nossa produtividade. Descansar é mais do que parar: é viver a partir da graça, não do desempenho. Deus nos dá exatamente o tempo necessário para cumprir o que Ele nos chamou a fazer.
Por isso, descansar também é um ato de coragem. Pode significar recusar um projeto, dizer “não” ao perfeccionismo, silenciar o celular para estar com quem se ama, aceitar que nem toda prova terá nota máxima. São escolhas que declaram: meu valor está em Deus, não no que consigo realizar.
Trabalhe Com Zelo, Descanse Com Fé
O mundo tenta nos convencer de que estar sempre ocupados é sinônimo de importância. Mas a sabedoria bíblica nos aponta outro caminho: “Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio” (Salmo 90.12). A vida não é medida por produtividade, mas por fidelidade.
Jesus nos alerta: “Ninguém pode servir a dois senhores” (Mateus 6.24). Isso vale para o dinheiro, para o sucesso e também para o trabalho. Quando o trabalho é senhor, ele escraviza. Quando é dom, ele abençoa.
Trabalhe com dedicação, sirva com zelo e faça tudo como para o Senhor (Colossenses 3.23). Mas nunca se esqueça: você não foi criado para adorar o trabalho, e sim para adorar a Deus. O trabalho passa, o cargo muda e a empresa pode fechar, mas o seu valor está em Cristo e isso ninguém pode tirar.
Editorial de André Negrão Costa
