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"Preguiçando" uns aos outros

A preguiça é um daqueles pecados que, infelizmente, tendemos a negar. Colocamos nomes brandos, arrumamos desculpas para nossas ações, mas não assumimos que é nosso pecado. Dessa forma, a preguiça acabou se tornando algo culturalmente aceitável até mesmo no meio dos crentes. A grande questão é que geralmente vemos a preguiça como algo entre cada um e sua própria vida, mas ela geralmente afeta mais aos outros. Ser preguiçoso não é só um aspecto da sua personalidade, é uma ação de ofensa contra as pessoas próximas, que cresce à medida que você se nega a tratá-la e abandoná-la. Vamos analisar isso em alguns níveis.


A sua preguiça pode dar mais trabalho para os outros

Esta é a aplicação imediata de como a sua preguiça afeta outros. Se você não faz, outra pessoa vai ter que fazer. A preguiça faz com que seu chefe dê mais trabalhos para outra pessoa porque você não atinge metas. A preguiça faz com que um colega de sala de aula tenha que fazer a maior parte do trabalho (se não todo ele) porque você não vai ajudar. A sua preguiça faz com que sempre as mesmas pessoas tenham que trabalhar nos ministérios ou eventos da igreja para que as coisas aconteçam. Dessa forma, a preguiça não tratada nesse nível faz com que, primeiramente, você perca as bênçãos de fazer as coisas para a glória de Deus, e que outras pessoas sejam tentadas a murmurar por estarem sobrecarregadas.


Nesses exemplos de relacionamentos horizontais, somos lembrados como afetamos outras pessoas com nossa preguiça de forma direta. E também:


A sua preguiça faz com que você transfira seu trabalho para os outros que não têm essa responsabilidade

Geralmente, pensamos isso em termos de pessoas que têm a mesma função que nós (e geralmente é o mais comum). Porém, existem aqueles casos em que pessoas que não precisariam fazer nosso trabalho precisam fazer devido à nossa preguiça. Por exemplo, um marido que tem preguiça de liderar o lar faz com que sua mulher resolva as questões por ele. Pais que têm preguiça de disciplinar os filhos sobrecarregam professores que precisam lidar com a sua falta de educação. Cristãos que têm preguiça de discipular as pessoas do seu convívio jogam a responsabilidade para que pastores e missionários proclamem o evangelho sozinhos. Dessa forma, a preguiça não tratada nesse nível faz com que você abra mão da sua missão como cristão piedoso em áreas da sua vida, além de colocar um peso sobre pessoas que acabam fazendo funções que não cabem a elas.


Nesses exemplos, vemos que a preguiça nos faz abrir mão das nossas responsabilidades e jogá-las para pessoas que não têm a responsabilidade de fazê-las. Com isso:


A sua preguiça te faz mais exigente em relação aos outros

À medida que você enxerga possibilidades de outras pessoas fazerem o que você deveria fazer, o seu coração enganoso trabalha para que você exija cada vez mais das pessoas ao transferir responsabilidades para elas. Por exemplo, os cristãos que têm preguiça de se engajar nas atividades da igreja reclamam das falhas dos outros que estão servindo. Os pais que têm preguiça de educar seus filhos exigem que as escolas deem um jeito nos seus filhos. Os filhos que têm preguiça de cuidar dos pais querem que o Estado se responsabilize por eles. Dessa forma, a preguiça não tratada nesse nível abre no seu coração o espaço para o descontentamento e murmuração. Além disso, neste nível a tendência de a preguiça cegar seu coração é ainda maior, pois cada vez mais seu coração preguiçoso te convence de que as suas responsabilidades são de outros.


Nesses exemplos, vemos que a preguiça nos leva a exigir que outros façam por nós (já não é mais algo passivo). Uma nova consequência é que:


A sua preguiça leva à destruição

A consequência direta da preguiça, conforme a Bíblia, é a destruição do preguiçoso (Provérbios 21.25). Aquele que não trabalha não terá o que comer; aquele que não cuida das suas posses as perderá; aquele que não cuida dos seus familiares não verá seu crescimento. Isso é natural. O fim do preguiçoso é trágico. Mesmo que no nosso contexto sóciocultural essa destruição seja absorvida pelas estruturas de assistência social e pela bondade de pessoas próximas, as consequências ainda existem. Ao delegar a outras pessoas (ou instituições) suas atividades, você tipicamente transfere sua “conta” para outros pagarem, mas eles não podem fazer suas funções por você para sempre. O papel de criar os filhos é dos pais e se você delegar para a escola eles não irão dar conta por você. Então além de desgastar os professores, você não obterá o resultado esperado. A responsabilidade de cuidar do seu lar é sua, pai, e delegar sua função para outra pessoa gerará distorções no meio da família. Então, se você delegar seu papel para sua esposa, ela irá se desgastar fazendo sua parte e não alcançará o resultado esperado. Portanto, a preguiça pode trazer um final trágico ao preguiçoso, ao mesmo tempo que afeta muito a vida de outras pessoas.


Vemos então que a preguiça é uma atitude inteiramente ofensiva ao próximo (além de ser para Deus). A cada vez que você não toma atitudes ativas de fazer seu papel e deixa para outro (mesmo que esse outro seja uma instituição) você acabará exigindo cada vez mais dos outros, dando mais espaço para a sua preguiça. Precisamos constantemente nos lembrar das responsabilidades que Deus deixou para nós na Bíblia e não nos conformar em deixar outros fazerem o que Ele requer de nós. Devemos olhar para o nosso grande exemplo de diligência, Jesus, que não teve preguiça de cumprir sua missão na cruz. Ele não é apenas nosso exemplo, é também Aquele que nos capacita a enxergar os nossos pecados e viver uma vida livre da escravidão do pecado da preguiça.


Editorial de Tássio Cavalcante



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