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BiblicaMente — Inveja

Atualizado: 21 de set.

Em nossos dias, nos quais existe um forte apelo ao que é visual, evidenciado em enfatizar aquilo que as pessoas possuem (ou aparentam), fazem e conquistam, temos um cenário propício para o desenvolvimento e a prática da inveja. Muitas vezes, ouvimos frases, como: “você viu a nova casa daquele irmão?”, ou ainda, “é o meu sonho de consumo aquele carro do meu vizinho, fico até agitado quando vejo ele passar”. Podemos acrescentar como um catalisador deste processo a utilização massiva das redes sociais na divulgação de vidas “quase” perfeitas.

 

Mas afinal de contas, o que é inveja?

 

Segundo o dicionário Michaelis (on-line), é o “sentimento de ódio, desgosto ou pesar que é provocado pelo bem-estar ou pela prosperidade ou felicidade de outrem”. Além disso, temos a definição dada por Jay Adams, na qual destaca que “Phthonos” (palavra grega) é traduzida por inveja e denota o forte senso de desprazer que alguém pode sentir ante as vantagens ou prosperidade de outrem”.¹ Jerry Bridges, afirma que, “inveja é a percepção dolorosa, e muitas vezes carregada de ressentimento, de que alguém está usufruindo de algum privilégio”.²

 

Ou seja, inveja é um sentimento pecaminoso, gerado em função do desgosto com aquilo que outra pessoa possui e desfruta, ou ainda, ressentimento pelo sucesso dos outros.

 

O interessante é que dificilmente iremos invejar pessoas, notadamente diferentes de nós, ou que estão, reconhecidamente, acima em capacidade ou habilidade. Pelo contrário, a luta contra a inveja é travada nas relações próximas entre amigos, parentes, colegas de trabalho e irmãos em Cristo, que possuem muitas características em comum, com algumas pequenas diferenças. Podemos manifestar esse sentimento em relação a relacionamentos, influência, bens/posses, beleza, inteligência, etc. Conforme Jerry Bridges aponta, “é comum invejar as pessoas com quem mais nos identificamos e somos propensos a invejá-las nas coisas que mais valorizamos”.³

 

A inveja é considerada uma obra da carne: “Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas (...)” (Gálatas 5.19–21 — ênfase do autor), e que possui características destrutivas conforme podemos observar em vários textos bíblicos.

 

No livro de Provérbios, Salomão descreve o estado da pessoa tomada pela inveja como podre: “O ânimo sereno é a vida do corpo, mas a inveja é a podridão dos ossos” (Provérbios 14.30 — ênfase do autor). Já no Novo Testamento, Tiago menciona os resultados da inveja em um ambiente, “Pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins” (Tiago 3.16 — ênfase do autor).

 

A inveja também se manifesta como uma reação diante da valorização ou do reconhecimento de outras pessoas em detrimento de outras.  Como exemplo, a Bíblia cita algumas pessoas que agiram motivadas por inveja, demonstrando desgosto pelo reconhecimento recebido por outra pessoa, como no caso dos responsáveis pela prisão de Jesus: “Porque sabia que, por inveja, o tinham entregado” (Mateus 27.18 — ênfase do autor). Na captura dos apóstolos, as principais autoridades religiosas do povo foram tomadas de inveja pelo “sucesso” obtido por eles: “Levantando-se, porém, o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele, isto é, a seita dos saduceus, tomaram-se de inveja, prenderam os apóstolos e os recolheram à prisão pública” (Atos 5.17 e 18 — ênfase do autor). Em outras passagens, tais como a relação entre Saul e Davi, José e seus irmãos, é possível perceber que a inveja levou ao homicídio ou a tentativa de homicídio. Se ampliarmos esse conceito, podemos acrescentar que a maledicência, falar mal das pessoas sem a presença delas, também é uma das consequências da inveja.

 

Por fim, vale lembrar que outros pecados estão associados à inveja, tais como o ciúme (medo de perder algo), a autocomiseração (ênfase pecaminosa no próprio sofrimento) e a cobiça.   

 

Para nos fortalecer na luta contra a inveja, temos que estabelecer novos padrões contrários à inclinação da carne, porém alinhados com a vontade de Deus. Primeiramente, submeter a nossa tendência pecaminosa à soberania e ao controle de Deus, crendo que o próprio Deus é o responsável pela distribuição de talentos, posses e características pessoais de acordo com Seus propósitos para cada pessoa: “E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo” (Efésios 4.7).

 

Devemos também desenvolver uma atitude de humildade, considerando os outros superiores a nós mesmos: “Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros” (Filipenses 2.3 e 4).

 

Outra estratégia é a prática da oração pelo crescimento e desenvolvimento das outras pessoas. Quando oramos pelas pessoas, somos movidos pelo Senhor a demonstrar amor por elas, e não invejá-las. Portanto, ore de forma específica pelas pessoas, sendo grato a Deus pela vida daqueles a quem temos a tendência de invejar.

 

Finalmente, devemos cultivar o amor e serviço abnegado: “Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem-ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor” (Efésios 4.15 e 16).

 

Portanto, diante das informações dadas pela Bíblia sobre a pecaminosidade da inveja e de suas características destrutivas, devemos pedir a Deus que nos dê força e nos capacite a adotar estratégias que desenvolvam em nós o reconhecimento de Sua ação soberana, e que nos faça crescer em humildade e no genuíno desejo no bem-estar e sucesso dos outros.

 

Editorial de Neemias X. P. Santos

¹ ADAMS, Jay E., Manual do Conselheiro Cristão, São José dos Campos: Fiel, 1982, p. 337, nota de rodapé.

² BRIDGES, Jerry, Pecados Intocáveis, São Paulo: Vida Nova, 2012, p. 145.

³ Ibid., p. 145.


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