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A Família Como Deus Criou

Muitos filmes hoje, para todas as idades e grupos, trazem como moral da história a volta para a família. Em séries ou filmes desse tipo, o que normalmente acontece é que o pai workaholic finalmente encontra seu significado em sua família, a mãe trabalhadora que mal consegue fazer tudo percebe que sua vida é realmente sobre sua família, e o adolescente rebelde acaba encontrando cura na família. A família, nesse sentido, é frequentemente retratada como a salvação da humanidade, o local onde encontramos nosso significado último.

 

O que é interessante nisso tudo é que Deus quer, sim, que valorizemos a família. Na verdade, ninguém valoriza mais a família do que o próprio Deus que a criou. No entanto, a família não é — e não deveria ser — maior do que o próprio Deus. Ela tem um propósito dentro do Seu plano. Ela não é um fim em si mesma.

 

O que é, então, a família que Deus criou?

 

A família como Deus criou é composta por homem e mulher (e, em geral, filhos)

 

Logo no primeiro capítulo da Bíblia vemos Deus criando a família (Gênesis 1.26 e 27). De forma mais clara, Ele a descreve e institui em Gênesis 2.18–24:

 

“O SENHOR Deus disse ainda: — Não é bom que o homem esteja só;

farei para ele uma auxiliadora que seja semelhante a ele. [...]

Então o SENHOR Deus fez cair um pesado sono sobre o homem, e este adormeceu.

Tirou-lhe uma das costelas [...] e da costela que havia tirado do homem,

o SENHOR Deus formou uma mulher e a levou até ele. E o homem disse: ‘Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; será chamada varoa, porque do varão foi tirada.’

Por isso, o homem deixa pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.”

 

Essa é a família como Deus criou. Homem e mulher se unem, tornando-se uma só carne. Mais à frente, o apóstolo Paulo também nos ensina que o casamento — a forma como uma família começa — tem como objetivo representar o Evangelho (Efésios 5.22–33).

 

Uma vez casados, é esperado que o casal se multiplique, gerando filhos. Digo esperado porque há limitações reais para diversos casais, e a Bíblia não os trata como “menos família” do que famílias com filhos. O único ponto que deve ser destacado é que é estranho às Escrituras um casal que não deseja filhos, uma vez que consistentemente o casamento (Hebreus 13.4) e a gravidez são tratados como símbolo de honra e bem-aventurança (Salmos 113.9; 128.3 e 4).

 

A família como Deus criou sustenta a sociedade

 

Essa família é o meio pelo qual Deus desenvolve o Seu plano ao longo da história, e nesse ponto é uma peça fundamental para a sustentação da sociedade. Desde o início, Deus escolhe famílias para levar Seu plano adiante (Adão, Noé, Abraão, Jacó, até chegarmos a Jesus).

 

A forma como essas famílias cresceriam seria através da transmissão do seu relacionamento com o próprio Deus. O livro inteiro de Deuteronômio tem esse foco. No que é provavelmente sua passagem mais conhecida, Deus diz a Moisés e ao povo de Israel:

 

“Escute, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR.

Portanto, ame o SENHOR, seu Deus, de todo o seu coração,

de toda a sua alma e com toda a sua força.

Estas palavras que hoje lhe ordeno estarão no seu coração.

Você as inculcará a seus filhos, e delas falará quando estiver sentado em sua casa,

andando pelo caminho, ao deitar-se e ao levantar-se.”

 (Deuteronômio 6.4–7 — ênfase do autor)

 

Pais fiéis ensinam seus filhos sobre o Senhor. Filhos se convertem ao Senhor, e se tornam pais fiéis que irão ensinar seus filhos sobre o Senhor. E assim uma sociedade justa, amorosa, bondosa, santa e graciosa se forma — exatamente como o Deus que vemos nas Escrituras.

 

A família como Deus criou nem sempre é a realidade

 

No entanto, sabemos que essa nem sempre é a realidade. Fato é que nunca será a perfeita realidade, pois vivemos numa sociedade caída, manchada pelo pecado. Mas em alguns casos, a realidade realmente está bem distante. Famílias disfuncionais e quebradas, abusos e tantas outras coisas fazem parte da nossa sociedade. Contextos tristes, que não gostaríamos de ver ou vivenciar.

 

Ainda assim, o Evangelho de Jesus nos dá esperança. Não há coração duro que Jesus não possa transformar por meio de Sua morte e ressurreição. E o mesmo poder que O ressuscitou dos mortos está à nossa disposição para fazermos diferente (Romanos 8.11). Nenhuma família é perfeita, mas podemos transformar as nossas dores e frustrações em motivação para fazermos diferente.

 

“Mesmo que tenha sido gravemente maltratado e profundamente ferido pela sua família, Deus pode dignificar a sua raiva, tristeza e devastação como uma profunda determinação de que ninguém, dentro do alcance da sua influência, alguma vez será injustiçado. Não sob seu comando. Você sabe quão vital é que todos sejam tratados com respeito, compreensão, paciência e perdão. Você sente isso profundamente, o que significa que Deus está restaurando você profundamente. Confie nele e continue. Ele pode transformar suas perdas em algo extremamente rico. [...] Você não precisa negar seu passado. Você não precisa temer seu futuro. Você não precisa montar ao seu redor uma vidinha perfeita, onde nada de ruim poderá encontrá-lo novamente. É exatamente o oposto. Você pode aceitar sua sombria história familiar como o chamado de Deus para ajudar outras pessoas que sofreram como você (2 Coríntios 1.3 e 4). [...] Deus pode fazer de você um reparador corajoso e um restaurador poderoso — tanto quebrado quanto belo.”¹

 

A família como Deus criou não é maior do que o Deus que a criou

 

Finalmente, é importante lembrar que a família é um presente para desfrutar, mas é um deus terrível. Ela não é a boa notícia que precisamos. A família foi projetada por Deus para refletir a Ele e ao amor dentro da Trindade, o amor ao qual somos trazidos através das boas-novas. A família deve nos apontar para Deus e Seu Evangelho. Devemos amar nossa família através de Cristo e para Cristo. O casamento e a estrutura familiar, como a conhecemos agora, não existirão na eternidade (Mateus 22.30), mas Cristo permanece para sempre. Portanto, tome muito cuidado para não fazer dela o seu deus. Sua família só será uma bênção se Deus for o centro dela, e não o contrário.

 

Editorial de Gustavo Santos

¹ ORTLUND, Ray, God Can Redeem Your Family History.


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