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A Vida Centrada no Evangelho – A Lei e o Evangelho (cap. 4)

Atualizado: 27 de mar.


Dando continuidade à série baseada no livro “A Vida Centrada no Evangelho”, vamos entender como o Evangelho se relaciona com a Lei, tema abordado pelos autores no capítulo 4.

 

Qualquer leitor percebe que a Bíblia está cheia de mandamentos e proibições, os quais chamaremos de Lei. Muitos entendem que o desejo de Deus é apenas a estrita observância da Lei. Por outro lado, aprendemos também que não somos salvos pelas obras da Lei, e sim pela graça. Todo nosso esforço para seguir a Lei não é o suficiente para alcançarmos a salvação.

 

Afinal, se nosso relacionamento com Deus só é possível através da graça e não pelas obras, será que se esforçar para obedecer a Lei realmente importa? Essa dualidade permeia boa parte do cristianismo, e são dois opostos igualmente destrutivos. Eles são chamados de legalismo e a licenciosidade.

 

Legalismo x Licenciosidade¹

 

Os “legalistas” vivem buscando a aprovação de Deus através do cumprimento da Lei, enquanto os “licenciosos” desprezam boa parte da Lei alegando que, uma vez que estão debaixo da graça, a Lei é apenas um “capricho” da vida cristã e que não há necessidade de ser levada tão a sério. Entenda da seguinte forma:

 

Legalismo: você pode se esforçar ao máximo para não mentir. Isso é o que significa viver sob a Lei. Inevitavelmente, você descobrirá que não consegue “não mentir”, mesmo quando rebaixar o padrão daquilo que entende ser mentira.

 

Licenciosidade: você pode admitir que não tem como obedecer a um determinado mandamento e simplesmente o descarta como se fosse apenas um ideal bíblico. Pensar dessa forma significa abusar da graça de Deus e ceder ao pecado.

 

Vou aprofundar um pouco mais com uma colocação de Martinho Lutero sobre o assunto: “Cumprir a lei é fazer Suas obras com prazer e amor...”.

 

Todos nós já vivemos o suficiente para descobrir que “viver a Lei” não é nada fácil e, por vezes, desagradável. Amar o próximo requer esforço, não cobiçar é humanamente impossível, não mentir geralmente só é fácil quando não nos custa, compartilhar um brinquedo no maternal com o amigo é muito difícil, e a lista continua.

 

Logo vemos que fazer as obras da Lei com prazer e amor é impossível por nós mesmos. São sentimentos opostos do nosso coração com relação à Lei. Jeremias 17.9 diz que o nosso coração é enganoso e desesperadamente corrupto. Romanos 3.9–18 declara abertamente nossa podridão e rebeldia contra a Lei.

 

Como o Evangelho equaciona essa tensão?

 

“Agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu;

Dentro do meu coração, está a tua lei.”

(Salmo 40.8)

 

Vimos que não podemos amar a Lei de Deus nem viver a Sua vontade. Davi, porém, no Salmo 40, declara que fazer a vontade de Deus lhe é agradável e que ele ama Sua Lei.


Como podemos equacionar essa dualidade?²

 

  1. Deus diz: Não dar falso testemunho (ou outro mandamento qualquer).

  2. Eu não consigo obedecer: descubro que por mais que eu me esforce, não sou capaz de obedecer a Lei, pois sou pecador.

  3. Jesus conseguiu obedecer: Ele obedeceu plenamente a Lei, e como nosso substituto fez o que deveríamos fazer, a fim de que Deus pudesse nos aceitar (2 Coríntios 5.17 e 18).

  4. Porque Jesus obedeceu e agora vive em mim, e porque sou aceito por Deus, agora sou livre para obedecer a esse mandamento por sua graça e poder que operam em mim.

 

Primeiramente, o Evangelho (e somente o Evangelho) nos torna conscientes da nossa desobediência. O início da vida cristã é tomar ciência de que estamos mortos em nosso pecado (Romanos 3.23), e que nossa desobediência nos coloca sob maldição e condenação (Gálatas 3.10).

 

Também pelo Evangelho, somos livres da maldição da Lei. O Evangelho (que significa “boa notícia”) nos torna livres da culpa (não inocentes, mas JUSTIFICADOS) pela obra redentora de Jesus na Cruz (Gálatas 3.13 e 14). Quando aceitamos a Jesus como nosso único e suficiente salvador e nos entregamos a Ele, somos salvos da ira e libertos para amar (Romanos 10.9–13).

 

Por fim, pelo Evangelho, Deus nos envia seu Espírito Santo para habitar em nós, transformando nosso coração e nos capacitando a amar verdadeiramente a Deus e as pessoas.

 

Um cristão genuíno obedece a Lei de Deus não por obrigação, mas por amor (a Deus e ao próximo). Tanto o legalismo como a licenciosidade são fundamentalmente egocêntricos. Não há prazer em Deus na Lei, mas pelo “cumprimento ou liberdade” que eles representam.

 

Conclusão

 

Somos incapazes de viver a Lei. Se tentarmos viver pela Lei, não estamos vivendo à luz do Evangelho. Mas se desconsiderarmos a Lei, não experimentamos o poder do Evangelho que nos transforma e nos ajuda a obedecer a Lei.

 

A Lei nos impulsiona em direção ao Evangelho

e o Evangelho nos liberta para obedecermos a Lei.

 

Jesus viveu e obedeceu plenamente a Lei, e como Ele vive em nós através do seu Espírito Santo, nos tornamos livres para obedecer a Lei, não mais por obrigação, mas por prazer e amor.

 

Como ainda lutamos contra o pecado, entramos em um processo chamado de santificação. Como vimos no capítulo 1, à medida que vivemos, a percepção de nosso pecado vai aumentando, e em paralelo, a percepção da santidade de Deus também aumenta.

 

Gráfico da Cruz³


Quando minimizamos a Lei, diminuímos a cruz e a graça de Deus. Não podemos baixar nosso padrão de santidade. Devemos nos achegar ao Senhor.

 

Mais do que obediência, Ele quer um relacionamento íntimo conosco!

 

Para pensar

 

  • Identificamos dois tipos de justiça contrastados neste texto. Você se identifica com algum deles?

 

  • Como o Evangelho pode te ajudar a deixar de buscar justiça própria e se apropriar da obra redentora da cruz?  

  • Existe algum “legalismo” na sua vida que você tem buscado para alcançar o favor de Deus? Ou alguma “licenciosidade” de sua parte que te impede de crescer em santidade?  

  • Escreva um parágrafo reconhecendo no mínimo dois pontos em que você se considera legalista e dois pontos em que você se considera licencioso, e quais passos práticos você deve adotar.

 

Editorial de Dimas Rodrigo

¹ THUNE, Robert H.; WALKER, Will, A Vida Centrada no Evangelho, São Paulo: Vida Nova, 2017, p. 44.

² Ibid., p. 44.

³ Ibid., p. 48.

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