A mensagem da cruz é o fundamento pelo qual a igreja é sustentada e deve permanecer se deseja crescer como um santuário agradável a Deus. É somente permanecendo em Cristo Jesus que a igreja será edificada para morada de Deus no Espírito (Efésios 2.20-22). Nesse sentido, é de suma importância meditarmos e internalizarmos especialmente a narrativa da crucificação. No Evangelho de Mateus, no capítulo 27, a mensagem da cruz é carregada de ironias.
Mas, o que é ironia? Ironia é quando dizemos algo e na verdade estamos querendo dizer exatamente o oposto ou quando usamos o sarcasmo. Exemplo, quando um irmão diz para o mais novo que levantou um grande pedaço de isopor: “Nossa, como você é forte!", ele não quer dizer que o irmão é o Hulk, mas que o irmão é fraco. Os autores bíblicos também usam a ironia como uma forma de nos comunicar verdades, nessa passagem vemos algumas delas. Olharemos somente os versículos 27 a 44.
Aquele que é zombado como “Rei” dos Judeus, na verdade é Rei Todo-Poderoso!
“Logo a seguir, os soldados do governador, levando Jesus para o pretório,
reuniram em torno dele toda a coorte.
Despojando-o das vestes, cobriram-no com um manto escarlate;
tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça e, na mão direita, um caniço;
e, ajoelhando-se diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, rei dos judeus!
E, cuspindo nele, tomaram o caniço e davam-lhe com ele na cabeça.
Depois de o terem escarnecido, despiram-lhe o manto e o vestiram com as suas próprias vestes. Em seguida, o levaram para ser crucificado.”
(Mateus 27.27-31)
A ironia desta passagem é que os soldados zombam de Jesus como se Ele fosse rei dos judeus, o que na realidade Ele é! E não somente Rei dos judeus, mas Rei do universo e sustentava toda aquela guarda na palma de sua mão, mas ao mesmo tempo sofreu como homem em cada barbaridade e zombaria daqueles homens. Jesus é o Rei que possuía todo o território do cosmos, mas não possuía súditos, pois estavam na escravidão do pecado, portanto este Rei veio salvar seus súditos, com seu próprio sangue, ao custo de sua própria vida (1 Coríntios 6.20).
Aquele que é aparentemente fraco, na verdade é o mais forte que já viveu!
“Ao saírem, encontraram um cireneu, chamado Simão,
a quem obrigaram a carregar-lhe a cruz.
E, chegando a um lugar chamado Gólgota, que significa Lugar da Caveira,
deram-lhe a beber vinho com fel; mas ele, provando-o, não o quis beber.
Depois de o crucificarem, repartiram entre si as suas vestes, tirando a sorte.
E, assentados ali, o guardavam.
Por cima da sua cabeça puseram escrita a sua acusação:
ESTE É JESUS, O REI DOS JUDEUS.”
(Mateus 27.32-37)
A ironia desta passagem é que o homem que aparentemente não tem poder, é poderoso! E não somente poderoso, mas o Todo-Poderoso em pessoa! E o que esses homens veem como fraqueza, nós vemos como poder, porque ao perder, Jesus vencia, ao ser fraco Jesus, era forte. Este é o verdadeiro Rei dos judeus sim, pois diferentemente dos discípulos que alguns dias antes discutiam quem iria sentar à direita ou à esquerda do Rei (Mateus 20.20-28), Jesus se humilha e dá a sua vida em resgate de muitos. Jesus Cristo é e será sempre o maior e o mais forte, pois foi quem mais serviu ao se tornar o menor e o mais fraco (Filipenses 2.5-11)!
Aquele que é zombado como “incrédulo”, na verdade é quem mais confia no Senhor e Pai!
“Dois ladrões foram crucificados com ele, um à sua direita e outro à sua esquerda.
Os que passavam lançavam-lhe insultos, balançando a cabeça e dizendo:
Você que destrói o templo e o reedifica em três dias, salve-se!
Desça da cruz, se é Filho de Deus!
Da mesma forma, os chefes dos sacerdotes, os mestres da lei e os líderes religiosos zombavam dele, dizendo:
Salvou os outros, mas não é capaz de salvar a si mesmo! E é o rei de Israel!
Desça agora da cruz, e creremos nele.
Ele confiou em Deus. Que Deus o salve agora, se dele tem compaixão, pois disse:
Sou o Filho de Deus!
Igualmente o insultavam os ladrões que haviam sido crucificados com ele.”
(Mateus 27.38-44)
A zombaria contra Jesus continua e sua aparente fraqueza ainda é vista, afinal Ele havia predito que destruiria e reconstruiria o templo que demorou 46 anos para ser construído em apenas 3 dias! A ironia é que exatamente ao mostrar-se fraco, Jesus evidencia todo o seu poder. O templo que está sendo destruído era o Seu corpo e seria reconstruído em 3 dias conforme previsto por Ele (João 2.19-22).
A outra ironia da passagem é que quando os mestres da lei e os líderes religiosos dizem que Jesus confiou em Deus, na verdade querem dizer exatamente o oposto. Querem dizer que justamente porque Cristo não confiou em Deus é que estava enrascado daquele jeito, pendurado em uma cruz, nu, fraco, sozinho e sendo zombado. Mas a verdade é que Jesus confia em Deus mais do que ninguém! É por causa desta confiança e amor ao Pai que Jesus fez toda esta obra de resgate (Mateus 26.39; João 4.34, 14.31).
Mas a verdade principal da passagem é dita por homens que com certeza falaram mais do que sabiam: "Salvou os outros, mas não é capaz de salvar a si mesmo." Aqui eles acertaram, pois, para salvar outros plenamente, Jesus não pode salvar a Si mesmo!
As ironias da cruz vistas aqui e em todos os evangelhos são recursos literários poderosos para abrir nossos olhos para as verdades da Palavra de Deus de maneira mais profunda e para desfrutarmos de uma vida movida pelo Espírito, crescendo em santidade, com os olhos fixos no Autor e Consumador da nossa fé, Cristo Jesus (Hebreus 12.2)!
Editorial de Leonardo Cordeiro
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