Eu me lembro da primeira vez que assisti o filme “De Volta para o Futuro”. Também me lembro de assistir, quando criança, “Os Flinstones” e “Os Jetsons” logo em sequência. Além desses, são incontáveis os filmes, séries e desenhos lançados sobre viagens no tempo ou sobre momentos diferentes da história. Essa enorme quantidade de material ao redor do conceito de “tempo” se dá por causa da curiosidade natural que o homem tem sobre o assunto. Quem nunca pensou o que faria se pudesse viajar no tempo? Quem nunca quis saber o que aconteceria no futuro? Porém, quando “colocamos Deus na jogada”, toda essa curiosidade perde o sentido.
Nosso Deus é um Deus eterno. Como define John MacArthur, “Deus transcende perfeitamente todas as limitações de tempo, de modo que ele é sem começo, sem fim e sem sucessão de momentos na experiência de seu ser e em sua consciência de todas as outras realidades” (ênfase do autor).¹
No entanto, ainda que tentemos definir esse conceito, um problema naturalmente surge. Nossa mente não consegue conceber a eternidade de Deus porque somos seres criados e finitos. Até conseguimos imaginar, mesmo que de forma um tanto abstrata, a ideia de algo que não tem fim. Mas algo sem início e sem fim, não limitado pelo tempo de forma alguma, é completamente estranho à nossa natureza.
Deus não tem início. Pense sobre isso por um momento. Ele sempre existiu. Como o apóstolo João escreve em Apocalipse 1.8, “‘Eu sou o Alfa e o Ômega’, diz o Senhor Deus, ‘aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-Poderoso’” (ênfase do autor). Afirmar a eternidade de Deus também implica dizer que Ele vê todas as coisas que já existiram ou que existirão ao mesmo tempo, algo que os estudiosos chamam de “presente eterno”. Deus pode predizer infalivelmente eventos futuros porque Ele vê o futuro tão bem quanto vê o passado e o presente. Como o profeta Isaías afirma, Ele declarou o fim desde o princípio:
“Lembrem-se das coisas passadas, das coisas da antiguidade: que eu sou Deus,
e não há outro; eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim.
Desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade revelo as coisas que ainda não sucederam. Eu digo: o meu conselho permanecerá em pé,
e farei toda a minha vontade.”
(Isaías 46.9, 10 – ênfase do autor).
Porque somos criaturas temporais, agarrar a eternidade está além de nós. Mas ainda assim, podemos refletir sobre a eternidade de Deus e extrair aplicações importantes para o nosso dia a dia.
Em primeiro lugar, Jesus Cristo, o eterno Filho de Deus, que é “antes de todas as coisas” (Colossenses 1.17), entrou no tempo e tornou-Se sujeito às condições do tempo, para que por meio do Seu sacrifício e ressurreição, pudéssemos ter a vida eterna (João 3.36). Ele voluntariamente se submeteu a todas as realidades do tempo para nos dar o dom da vida eterna. Ele faleceu sob a ira de seu Pai (Salmo 90.9); mas como o Messias exaltado, Seus dias não têm fim (Salmo 102.27; Hebreus 1.12) — e aqueles que estão “em Cristo” participarão desta realidade (João 3.16). Isso deve nos mover à obediência, porque “Deus é capaz de trazer resultados eternos de nossos esforços limitados pelo tempo [...] quando investimos nosso tempo no que tem importância eterna, nós ajuntamos tesouros nos céus”.²
Da mesma forma que falamos de uma vida eterna nos céus, precisamos compreender que a condenação para os que não creem também é eterna, assim como Deus é eterno. Como Judas descreve, o inferno é um “fogo eterno” (Judas 7), “a mais profunda escuridão, para sempre” (Judas 13). Nas palavras do próprio Jesus, no inferno “não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga” (Marcos 9.48). Porque Deus é eterno, o inferno — que é a demonstração final da ira de Deus contra o pecado — é eterno. Portanto, os cristãos receberão a vida eterna (João 5.24), e aqueles que não amam o Senhor Jesus receberão a morte eterna (1 Coríntios 16.22).
Em segundo lugar, a eternidade de Deus é a resposta que precisamos para um vazio eterno que há no nosso coração. O autor de Eclesiastes diz que Deus “pôs a eternidade no coração do ser humano” (Eclesiastes 3.11). Isso significa que somente algo eterno pode nos satisfazer. Se Deus é a única realidade eterna que existe, só Ele é capaz de preencher nosso coração e dar sentido à nossa vida. A realidade da eternidade de Deus nos mostra que nada do que o mundo tenha para nos oferecer é suficiente — só Deus é.
Em terceiro lugar, a eternidade de Deus nos oferece uma esperança eterna ao enfrentarmos dificuldades e sofrimentos passageiros. Paulo fala sobre isso em 2 Coríntios 4.17, 18: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um eterno peso de glória, acima de toda comparação, na medida em que não olhamos para as coisas que se veem, mas para as que não se veem. Porque as coisas que se veem são temporais, mas as que não se veem são eternas”. O apóstolo não está, de forma alguma, ignorando as dificuldades reais que enfrentamos; mas ele as coloca em perspectiva. Sim, o sofrimento é real, e às vezes dura por muito mais tempo que gostaríamos — mas ele não é eterno para os que estão em Cristo.
Finalmente, contemplar a eternidade de Deus, ainda que sem compreender, deve nos humilhar e nos levar à adoração. Nós não somos Deus. Só há um Deus, e somente Ele é digno de todo louvor e toda glória.
Editorial de Gustavo Henrique Santos
¹ MACARTHUR, John, Biblical Doctrine: A Systematic Summary of Bible Truth, Wheaton, IL: Crossway, 2017, p. 171.
² WILKIN, Jen, Incomparável: 10 Maneiras em que Deus é Diferente de Nós (e por que isso é algo bom), São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2017, p. 94.
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