A graça de Deus é um dos temas que permeiam toda a Escritura Sagrada. O conceito é tão recorrente e tão presente na Bíblia, que cristãos com pouco tempo de caminhada já têm a definição na ponta da língua: “favor imerecido de Deus”. Ter a graça de Deus continuamente na mente e no coração é realmente excelente. Porém, é preciso fugir do risco da familiaridade: o perigo de perder de vista a profundidade e a grandeza desse maravilhoso atributo do nosso Deus.
Por que a graça é tão importante
A Bíblia não pode ser vista como um conjunto de histórias desconexas que transmitem bons princípios e valores morais. A encarnação de Deus em forma humana, descrita no Novo Testamento, cumprindo as profecias do Antigo Testamento, mostra que a Bíblia inteira conta uma só história: o plano de salvação orquestrado por um Deus gracioso para resgatar Seus inimigos a fim de glorificar o Seu próprio nome.
A graça é um assunto da mais elevada importância justamente por ser ela um dos elementos centrais na história da salvação, cuidadosamente costurada de Gênesis a Apocalipse.
O apóstolo Paulo, em várias de suas cartas, enfatiza o papel primordial da graça de Deus nesse plano de salvação. Em um dos trechos mais conhecidos sobre o tema, ele afirma:
“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós;
é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.”
(Efésios 2.8, 9 – ênfase do autor)
Essa passagem deixa clara a natureza imerecida da graça: “não vem de vós”. E não poderia ser de outro modo. A Palavra de Deus mostra que, a menos que Deus intervenha de forma sobrenatural, o homem é incapaz de obedecer fielmente à Lei de Deus, sendo, portanto, merecedor de condenação.
“Entre os quais também nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza,
filhos da ira, como também os demais.”
(Efésios 2.3 – ênfase do autor).
O mistério revelado
A Bíblia apresenta o plano de salvação como um mistério que foi revelado:
“Desvendando-nos o mistério da sua vontade,
segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo.”
(Efésios 1.9 – ênfase do autor)
E o mistério consistia no fato de que Deus pretendia salvar aqueles que eram filhos da ira por meio de um plano glorioso: despejar Sua ira sobre o seu único Filho de fato justo, Jesus Cristo. O justo morreu pelos injustos. Jesus, o único que não merecia a ira de Deus, morreu, para que homens que não mereciam a salvação de Deus, vivessem!
No início de sua carta aos efésios, Paulo oferece um resumo desse mistério:
“Assim como nos escolheu nele, antes da fundação do mundo,
para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; em amor, nos predestinou para ele,
para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo,
segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça,
que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, no qual temos redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça.”
(Efésios 1.4–7 – ênfase do autor)
A natureza imerecida da graça fica mais uma vez evidente pelo fato de Deus ter nos escolhido antes da fundação do mundo. Antes de termos feito qualquer obra boa ou má, Ele já nos havia escolhido, não por nossas próprias qualidades, mas pela Sua vontade soberana.
Além disso, devido ao fato de não termos participação nenhuma em nossa própria salvação, fica claro também que o propósito não é mostrar que em nós mesmos há um valor raro e precioso que Deus conseguiu enxergar. Pelo contrário, em nós mesmos não havia valor, mas Deus executou Seu plano para louvor da glória de Sua graça. Seu propósito é e sempre foi glorificar o Seu próprio nome.
Por fim, a passagem bíblica mostra que a maneira pela qual a redenção (perdão de pecados) ocorreu foi por meio do sangue — o sangue precioso de Jesus derramado na cruz, segundo a riqueza da Sua graça.
A resposta adequada
Tornando-nos cientes de tão grande favor concedido a nós de forma imerecida, não nos resta alternativa a não ser dedicar toda a nossa vida ao mesmo propósito para o qual tal graça nos foi dada: glorificar o nome do Senhor e proclamar a todo o universo a Sua majestosa glória. A continuação da passagem de Efésios 2.8, 9 já mencionado anteriormente é:
“Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras,
as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.”
(Efésios 2.10 – ênfase do autor)
O mesmo Deus que planejou nossa salvação antes da fundação do mundo, planejou também boas obras para que, por meio delas, brilhássemos como estrelas em um mundo de escuridão, vivendo uma vida que O honre e revelando a glória dAquele que nos salvou.
O chamado de cada cristão é buscar ser um imitador de Jesus. Sendo Ele o exemplo supremo de graça, devemos também ser graciosos para com todos ao nosso redor. Na oração do Pai Nosso, Jesus diz:
“E perdoa-nos as nossas dívidas,
assim como nós temos perdoado aos nossos devedores.”
(Mateus 6.12)
Da mesma maneira como Deus nos ofereceu perdão imerecido, nós também devemos perdoar uns aos outros, independentemente de merecimento. A graça deve ser marca distintiva dos verdadeiros filhos de Deus.
Editorial de Fernando Saraiva
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