Um semáforo que demora para abrir, um colega de trabalho atrasado para uma reunião, uma nota de uma prova que um professor não libera, uma gravidez que não se concretiza, um familiar que não sai da UTI. Nossa impaciência pode se manifestar em situações das mais variadas intensidades e gravidades. Uma coisa todos temos em comum, somos impacientes. Por mais que em algumas situações até achemos que a impaciência é algo natural, no fim sabemos que esse estado de inquietação que frequentemente experimentamos não alivia as tribulações pelas quais passamos — muito pelo contrário, ele tira a nossa vitalidade (conforme já detalhamos no editorial Ladrões de Vitalidade: Ira/Impaciência).
Ser paciente é ser humilde
A Bíblia nos apresenta o longânimo (paciente) como alguém que possui grande entendimento (Provérbios 14.29), e o contrapõe ao arrogante (Eclesiastes 7.8). Ou seja, a paciência está relacionada a uma postura humilde de alguém que entende a realidade além de suas tribulações e frustrações. O paciente é alguém que se coloca em total dependência de Deus, entendendo que só Ele é capaz de visualizar tudo o que está ocorrendo em cada situação. Será que ainda ficaríamos impacientes em um sinal amarelo que acabou de mudar para vermelho se soubéssemos que, se isso não tivesse acontecido, teríamos sofrido um grave acidente? Pois é, Deus sabe. E não só do presente, mas de todas as coisas — inclusive do fim delas, que certamente é melhor do que o começo (Eclesiastes 7.8).
Um grande exemplo que temos nas Escrituras dessa paciência humilde é o de José. Esse homem de Deus conseguiu enxergar os propósitos do Senhor após décadas de sofrimento devido ao que seus irmãos haviam feito com ele.
“Respondeu-lhes José: Não temais; acaso, estou eu em lugar de Deus?
Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida.”
(Gênesis 50.19, 20)
Quão grande entendimento e humildade ele demonstrou ao dizer tais palavras que exaltaram a sabedoria de Deus mesmo em meio a tantas tribulações vividas pacientemente!
Ser paciente é esperar o que não se vê
“Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos.”
(Romanos 8.25)
José foi capaz de esperar o que não podia ver. No contexto de Romanos, também vemos o assunto do fim de todas as coisas, de nosso futuro glorioso que se contrapõe aos sofrimentos do tempo presente (Romanos 8.18). A paciência está fundamentalmente enraizada na esperança da eternidade, e por isso impacta grandemente nosso dia a dia, pois “sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Romanos 8.28a).
“Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor.
Eis que o lavrador aguarda com paciência o precioso fruto da terra,
até receber as primeiras e as últimas chuvas.
Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração,
pois a vinda do Senhor está próxima. Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para não serdes julgados. Eis que o juiz está às portas.”
(Tiago 5.7–9)
Com a proximidade da vinda de Cristo (que pode voltar ainda hoje!), as coisas que vemos e nos frustram assumem uma nova perspectiva. Dessa forma, podemos fortalecer nossos corações e ter bom ânimo (Salmo 27.14), já que a vinda iminente de nosso justo Juiz nos ajuda a deixarmos de nos queixarmos dos outros, algo que muitas vezes é fruto de nossa impaciência para com eles.
Ser paciente é não se cansar e perdoar
“E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos,
se não desfalecermos.”
(Gálatas 6.9)
Seguindo a ilustração do lavrador, somos encorajados a não desfalecermos na prática do bem. Isto é, a paciência nos dá a vitalidade de que precisamos para esperarmos os frutos daquilo que fielmente plantamos para o Reino, algo que o próprio Deus garante (Gálatas 6.7).
“Irmãos, tomai por modelo no sofrimento e na paciência os profetas,
os quais falaram em nome do Senhor.
Eis que temos por felizes os que perseveraram firmes.”
(Tiago 5.10, 11a)
Os próprios profetas, ao longo das Escrituras, não se cansaram de falar em nome do Senhor, mesmo sendo muitas vezes ignorados pelo povo de Deus. Eles perseveraram em meio ao sofrimento, confiando nAquele que falava por meio deles. Em vez de se queixarem dos outros, eles foram fiéis.
Portanto, quando outras pessoas nos tirarem do sério, muitas vezes por causa de seus pecados contra nós, lembremo-nos do exemplo da paciência (longanimidade) de Cristo, que perdoa mesmo os principais dos pecadores (nós mesmos!).
“Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. Mas, por esta mesma razão,
me foi concedida misericórdia, para que, em mim, o principal,
evidenciasse Jesus Cristo a sua completa longanimidade,
e servisse eu de modelo a quantos hão de crer nele para a vida eterna.”
(1 Timóteo 1.15, 16)
Ser paciente é ser revitalizado
“Bom é o Senhor para os que esperam por ele, para a alma que o busca.
Bom é aguardar a salvação do Senhor, e isso, em silêncio.”
(Lamentações 3.25, 26)
A paciência é algo bom, é algo que nos traz paz (Provérbios 15.18). Por mais que muitas vezes não entendamos o que Deus está fazendo agora, assim como Pedro não entendeu quando Jesus lavou os seus pés, tenhamos confiança de que compreenderemos depois, nem que isso seja apenas na eternidade.
“Respondeu-lhe Jesus: O que eu faço não o sabes agora;
compreendê-lo-ás depois.”
(João 13.7)
Portanto, para vivermos uma vida de paciência e sermos diariamente revitalizados por isso, façamos aquilo que Davi nos dá como exemplo, colocando-nos em total dependência do Senhor e esperando nEle.
“De manhã, Senhor, ouves a minha voz;
de manhã te apresento a minha oração e fico esperando.”
(Salmo 5.3)
Editorial de André Negrão Costa
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