Todo ser humano debaixo do sol enfrenta todos os dias desafios relacionados ao seu trabalho, seja ele qual for. Corremos o dia inteiro para resolver inúmeras coisas, ficamos até tarde tentando terminar tarefas que, a princípio, deveriam ser entregues o mais rápido possível, passamos as noites e os fins de semana pensando em como nosso trabalho será aceito. E tudo isso simplesmente nos cansa. A pressão por resultados que frequentemente se impõe e a pressão que nós mesmos impomos por pensar que deveríamos estar rendendo mais, pode ter efeitos graves na nossa mente e no nosso corpo, levando a uma condição de apatia e cansaço constante. Mas antes de chegarmos nesse ponto, deveríamos nos perguntar: isso deveria ser assim? O ato de trabalhar é justo e digno, e é normalmente por ele que Deus nos provê diariamente. Mas será que esse esgotamento é inevitável? Como podemos realmente descansar, quando tanto nos é exigido diariamente? Certamente a Palavra de Deus nos dá respostas para isso.
Tanto o trabalho quanto o descanso são bíblicos
Ao contrário do que se pensa atualmente, o trabalho não foi uma invenção do homem, ou simplesmente um nome para tarefas a serem exercidas para se obter sustento. Trabalho é uma invenção divina. No primeiro capítulo de Gênesis, vemos que logo após a criação do homem, o próprio Deus dá tarefas para serem cumpridas por ele. Mais especificamente, vemos Deus dando uma profissão semelhante à de agricultor a Adão, em Gênesis 2.15. Trabalho, nesse contexto, está relacionado com a própria ideia do homem como imagem e semelhança de Deus: assim como Ele trabalhou nos seis primeiros dias de todo o tempo na criação do universo, Adão deveria trabalhar na manutenção do Jardim do Éden.
Seguindo a mesma lógica, o descanso também faz parte do plano de Deus para o homem. Ele usa exatamente o episódio da criação ao instituir a Lei do Sábado, por meio de Moisés em Êxodo 20.8-11. Não que Deus precisasse, por si mesmo, descansar, ao contrário, na criação Ele modela a nossa necessidade do descanso, mais tarde a colocando como força de Lei para o povo de Israel. Assim, ambas as coisas foram definidas mesmo antes da queda, e não são consequências dela. Mas como explicar, então, os efeitos negativos do trabalho no nosso corpo?
O cansaço como consequência da queda
A maldição sobre o trabalho vem logo no início do livro de Gênesis. Logo após a queda, ao proferir as maldições por causa do pecado do homem, Deus diz a Adão que “no suor do rosto comerás o teu pão” (Gênesis 3.19), um complemento à maldição lançada sobre a terra, apontando para a exaustão causada pelo trabalho dali em diante. Dessa forma, depois da queda, o trabalho tem, por natureza, um caráter cansativo. Mas note que o descanso de Deus foi modelado antes disso e dado a Israel num contexto de revelação divina a um povo que pouco conhecia de Deus. Assim, o descanso mais soa como boas novas para aquele povo: ao invés de serem escravos, trabalhando ininterruptamente por todos os dias da semana, agora eles teriam, realmente, descanso.
Mas é fácil ver que um dia de descanso é um dia a menos de trabalho e, portanto, um dia a menos de lucro. O que o povo de Israel teve que aprender naquela época era que descansar era sinônimo de confiar em Deus na provisão diária, e isso foi didaticamente ensinado por Deus em várias ocasiões. Por exemplo, o maná, que vinha todas as manhãs (com porção dobrada na sexta) era um pequeno chamado à confiança. O ano sabático, por sua vez, era um chamado muito maior; algo que o povo só guardaria se realmente confiasse na promessa que a terra iria prover além das suas necessidades no ano anterior (Levítico 25.20, 21). O descanso sempre foi levado a sério por Deus, e sempre foi relacionado com Sua fidelidade em cumprir Sua Palavra.
Descansar é confiar em Deus
Nesses dias em que o trabalho é tratado como um deus que exige cada vez mais dos seus súditos, a história do povo de Israel nos relembra quem é o nosso verdadeiro Deus. De maneira semelhante a eles, dar as costas à escravidão do trabalho e abraçar o descanso de Deus significa dizer que Ele é fiel em prover aquilo que promete quando confiamos nEle. É reconhecer que aquilo que Deus diz que é bom pra nós é, de fato, o melhor para as nossas vidas. É confiar que, assim como Deus foi fiel no passado (com o povo de Israel e conosco), Ele o será no futuro. É saber que, sendo por Deus chamados, Ele mesmo nos guarda, nos guia e edifica a nossa herança. É não proclamar nossa autossuficiência, mas dizer como o salmista:
“Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam;
se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.
Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde,
comer o pão que penosamente granjeastes;
aos seus amados ele o dá enquanto dormem.”
(Salmo 127.1, 2)
Editorial de Petrônio Nogueira
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